quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

A evolução do "private equity" no mercado brasileiro

(Karina Pinto)

A palavra "private" significa privado e "equity" significa ação, título. O Private Equity é um modo de atividade financeira que é realizada por instituições que investem em empresas que ainda não estão na bolsa de valores, tendo como principal objetivo alavancar o seu desenvolvimento dando um impulso financeiro à companhia. Geralmente essas empresas de capital fechado não possuem uma estrutura suficiente para optar por outras formas de captação de recursos como IPO, captações de crédito, entre outras, ou possuem estrutura, mas não estão preparadas para ter o seu capital aberto ao público.

No entanto, como definido por Metrick (2006), é possível separar-se os investimentos em private equity em dois grupos: (1) venture capital, que são investimentos, normalmente de participação minoritária, feitos em empresas embrionárias, ou seja, aquelas existentes ainda somente como forma de um plano de negócios ou em início de operação; e (2) buy-out, que são investimentos feitos em empresas que se encontram em estágio mais maduro em seu ciclo de vida e que normalmente caracterizam-se pela aquisição do controle dessas empresas.

As empresas que recebem esses investimentos possuem faturamento de dezenas e centenas de milhões de reais. Empresas de capital aberto também podem receber os recursos dos private equity. Neste caso, o capital é destinado a alterações financeiras, operacionais ou estratégicas, visando a um novo posicionamento no mercado aberto. É possível realizar esse investimento através de Fundos de Private Equity.

Os fundos de Private Equity surgiram na década de 1980 nos Estados Unidos, como uma nova opção de financiamento para pequenas e médias empresas. Consistindo na reunião, através da criação de um fundo de investimentos, de um grupo de investidores. Esse grupo adquire relevantes participações em pequenas e médias empresas, e desenvolvem parcerias ativas, participando bastante de sua administração, adicionando capital e agregando valor.

Os fundos de private equity buscam incorporar ao negócio um modelo de gestão estratégica que foge da maneira usual de comparar empresas. Os fundos de PE querem encontrar empresas com potencial e, assim, se tornarem seus sócios. Posteriormente, a fatia da empresa ou a empresa como um todo pode ser vendida. O Fundo de Private Equity ou Fundos de Investimentos em Participações – FIP constitui modalidade de fundo de investimento fechado, destinado à aplicação em ações, debêntures, bônus de subscrição e demais títulos e valores mobiliários conversíveis ou permutáveis em ações.

O alto grau de experiência dos investidores aliado à participação direta na gestão são determinantes para o sucesso do negócio. A participação dos FIPs profissionaliza a empresa e favorece a maximização de seu valor. Os benefícios vão além da concessão de acesso ao capital por parte dos empreendedores. A atuação nesse setor consequentemente contribui para a maior geração de emprego e renda, e também promove o crescimento econômico sustentável do país.

No Brasil essa modalidade de financiamento surgiu na década de 70, quando foi criada a Brasilpar, que tinha como objetivo estimular investimentos de capital empreendedor no Brasil. Em seguida, surgiu o Banco Garantia bem como diversos outros programas criados para investimento de capital do governo a fim de desenvolver a indústria brasileira.

Houve a criação do primeiro fundo de investimento com foco no mercado brasileiro e também uma instituição que regulava sobre a criação de fundos de participação voltados a empresas emergentes. Ao longo do tempo foram fundadas diversas organizações gestoras de Private Equity no Brasil. No ano 2000 foi a vez da ABVCAP, Associação Brasileira de Private Equity e Venture Capital, instituição sem fins lucrativos que fomenta o investimento de longo prazo no Brasil. Em 2003 foi instituída a Instrução CVM 391, que dispõe sobre a constituição, a administração e o funcionamento dos Fundos de Investimento em Participações, os FIP. Em 2007, mais de 90% do capital comprometido com Private Equity tinha participação estrangeira, o que ressalta claramente a importância dos investimentos de PE no processo de entrada de capital estrangeiro no país.

O Brasil tem se tornado cada vez mais forte como alvo de investimentos em Private Equity em comparação com outros países emergentes. Segundo Furtado (2008), o Brasil passou a ser destaque no mundo de PE por um ambiente de liquidez financeira mundial e pela forte expansão dos indicadores econômicos nacionais, o que tornou mais fácil a possibilidade de captação do fundo por parte das organizações de PE, tanto no Brasil quanto no mundo.

Desde 2004, o capital comprometido cresceu a taxa média de 53,4%. Nos últimos doze meses de 2008 o crescimento foi de 68%, passando de 15,91 bilhões para 26,65 bilhões. Os fundos chegavam a US$ 5,6 bilhões em captação. Em 2008 já eram US$ 27,1 bilhões. No ano de 2009 a indústria de PE/VC registrava um recorde de US$ 34 bilhões de capital comprometido para investimentos no Brasil.

Segundo Rochman (2007), a indústria de PE pode ainda ser considerada um grande fomentador de inovações no Brasil e no mundo, podendo ser considerada como responsável pelo rápido desenvolvimento de setores como tecnologia, internet e biotecnologia. Segundo pesquisa da PWC de 2007, os oito principais setores de investimento do PE foram responsáveis por 66 das 110 transações, correspondendo a 60% dos investimentos de PE. Esses setores foram Shopping Centers, Construção, Alimentos, Informática, Educação, Varejo, Bancos e Mineração.

Segundo Furtado (2011), o Brasil se beneficia de uma cultura altamente empreendedora e assim como na Europa, de uma ampla quantidade de programas governamentais. Mesmo com os problemas, o Brasil deve continuar a apresentar uma média maior de crescimento na área de PE quando comparado a outros países.

A Regulamentação desse instrumento financeiro é realizada pela CVM, que além de fiscalizar o funcionamento do fundo também regula a atuação dos seus gestores e administradores. Tal controle é feito com base na Instrução CVM 209, de 1994, que dispõe sobre a constituição, o funcionamento e a administração dos Fundos Mútuos de Investimentos em Empresa Emergentes, e principalmente na Instrução CVM 391, de 2003, aplicável essencialmente aos Fundos de Investimento em Participações.

No início de 2005 existiam 71 organizações gestoras com US$ 6 bilhões em veículos de investimento de PE, o equivalente a 0,7% do PIB. Ao final de 2009, 144 gestores administravam comprometimentos de capital de US$ 36,1 bilhões alocados ao Brasil, equivalente a 2,3% do PIB do país. Dois grupos de gestores se destacam como detentores do maior volume de investimentos no mercado de Private Equity no Brasil. São eles: Advent, e GP Investments.

Em 2011, houve recorde de captação de novos recursos para este segmento, totalizando 7,1 bilhões de dólares, sete vezes mais que o volume captado em 2010. Entre os países do BRICS (bloco de países emergentes formado por Brasil, Rússia, China e África do Sul), o Brasil ficou atrás apenas da China. Com isso, novas ferramentas surgem para suprir as demandas desse segmento, principalmente na área de pesquisa.

Pontos Fortes do Brasil, segundo uma pesquisa da Ernest Young:
- cerca de um terço de todas as transações de fusões e aquisições envolveu fundos PE em 2010;
- mega fundos globais começaram suas operações no Brasil em 2010;
- IPOs oriundos de empresas que receberam recursos de fundos de PE representaram quase 30% de todos os IPOs nos anos de 2006 e 2007.
Oportunidades:
- economia brasileira cresce a uma média de 4% ao ano (7,5% em 2010);
- mercado altamente fragmentado em muitos setores, com consolidação de oportunidades;
- taxas de juros sendo reduzidas gradualmente, aumentando a necessidade de investimentos em ativos alternativos por parte de fundos de pensão e outros investidores institucionais;
- baixa penetração de investimentos de fundos de PE e VC na economia, se comparado com economias mais maduras;
- alta demanda por investimento de infraestrutura, incluindo a Copa do Mundo 2014 e as Olimpíadas de 2016.

Impactos da crise internacional sobre os investimentos estrangeiros no Brasil

(Paula Frazão)

A crise financeira internacional de 2008 repercutiu em diversos países do mundo. Iniciada no país de maior economia do mundo, os Estados Unidos, a crise foi originada devido ao longo período de taxas de juros baixas praticadas pelos bancos norte-americanos, com o intuito de conseguir mais crédito. Valendo-se da grande oferta a baixíssimas taxas de juros de financiamento e nas hipotecas, os consumidores compraram vários ativos, principalmente os imóveis.

No ano de 2005, o "boom" no mercado imobiliário já estava em estágio avançado. Comprar uma casa ou até mesmo, mais de uma, tornou-se um bom negócio, na expectativa de que a valorização dos imóveis fizesse dessa nova compra um investimento. Também cresceu a procura por novas hipotecas, a fim de usar o dinheiro do financiamento para pagar dívidas e, também, para poder gastar mais.

As financeiras especializadas no mercado imobiliário, buscando aproveitar essa valorização do mercado, passaram a atender o segmento subprime. Entende-se por subprime créditos bancários de alto risco, que abrangem desde empréstimos hipotecários até cartões de créditos. O cliente subprime tem renda muito baixa, e até mesmo com histórico de inadimplência e com dificuldade de comprovar renda, ou seja, um cliente com quadro de risco. Esse tipo de empréstimo tem uma qualidade mais baixa cujo risco de não ser pago é maior, mas oferece uma taxa de retorno mais alta, a fim de compensar o risco.

Essa expansão do crédito financiou a bolha imobiliária, uma vez que com a elevada procura, houve um aumento dos preços dos imóveis. Porém, a partir de um determinado momento, chegou uma hora em que a taxa de juros começou a subir, diminuindo a procura pelos imóveis e derrubando os preços. Com isso, começou uma inadimplência em massa já que as pessoas não viam sentido em continuar pagando imóveis e hipotecas exorbitantes, por conta dos juros altos, quando as propriedades estavam valendo cada vez menos.

O medo de calotes fez a economia sofrer uma desaceleração no país, desaquecendo a maior economia do mundo, com menos dinheiro disponível, menos se compra e menos as empresas lucram e menos pessoas são contratadas, levando a crise geral. Houve quebra da bolsa de valores. O auge dessa crise financeira foi à falência do banco de investimento Lehman Brothers em setembro de 2008, após a recusa do Federal Reserve (Fed, banco central americano) em socorrer a instituição. Tal atitude do banco central americano provocou um impacto tremendo sobre o estado de confiança dos mercados financeiros, causando pânico e travamento do crédito. Desde então a crise financeira levou à falência muitas instituições financeiras nos EUA e nos países europeu, ameaçando o sistema financeiro como um todo.

De acordo com dados da época, no último trimestre de 2008 a produção industrial dos países desenvolvidos experimentou uma redução muito significativa, apresentando, em muitas vezes, uma queda de mais de 10 pontos base com respeito ao último trimestre de 2007. Os bancos centrais dos países desenvolvidos foram obrigados a injetar um volume de recursos rapidamente no sistema financeiro mundial e a estender créditos para uma variedade de papéis financeiros, e tipos de instituições, jamais socorridos anteriormente.

No entanto, apesar da crise financeira internacional, o Brasil experimentou um crescimento nos investimentos estrangeiros. Segundo revistas da época, o ano de 2008 representou os maiores investimentos estrangeiros em 61 anos, batendo recordes históricos. De acordo com dados, o ingresso de investimentos estrangeiros diretos (IED) somou US$ 45,060 bilhões em 2008, o maior nível desde o início da série histórica do Banco Central, em 1947. O recorde anterior era de 2007, quando o ingresso totalizou US$ 34,585 bilhões.

O país foi reconhecido como “grau de investimento seguro”, sinalizando a investidores estrangeiros de que era confiável aplicar o dinheiro aqui. Esse status mostra que Brasil tem condições de honrar o pagamento da dívida pública, pratica boas políticas fiscais e arrecada mais do que gasta, ou seja, o risco de calote é pequeno, ajudando a atrair investidores que não querem aplicar em um mercado de alto risco, como acontecia nos Estados Unidos.

Tornou-se atrativo investir no Brasil. Nessa época, o Brasil atraiu inúmeros investimentos para a indústria manufatureira, mineração, e o etanol atribui bilhões de investimentos estrangeiros para o nosso país. Aliado a isso, a questão da melhora das perspectivas macroeconômicas no Brasil também contribuiu para o aumento do fluxo.

O governo vigente também foi o grande responsável para promover essa atração. Uma das primeiras iniciativas foi barrar as negociações da ALCA e abrir novos horizontes que deram sucesso. Além disso, houve o desenvolvimento de uma política industrial consistente no país, houve a retomada da indústria naval, compras da PETROBRAS sendo feitas dentro do país. O governo também procurou dar mais segurança no mercado de câmbio com a decisão de realizar os leilões de linha de crédito com o compromisso de recompra.

Todos esses fatores permitiram que apesar da crise internacional financeira que afetou todo o mundo, o Brasil conseguiu ser um atrativo no que se refere aos investimentos estrangeiros uma vez que representava segurança e perspectiva positiva no mercado financeiro.

Considerações sobre a crise financeira de 2008

(Caroline Guedes)


A crise financeira de 2008 foi a maior da história do capitalismo desde a grande depressão de 1929. Começou nos Estados Unidos após o colapso da bolha especulativa no mercado imobiliário, alimentada pela enorme expansão de crédito bancário e potencializada pelo uso de novos instrumentos financeiros, a crise financeira se espalhou pelo mundo todo em poucos meses.
A crise foi deflagrada após os ataques de 11 de setembro, quando o governo americano, em resposta a ofensiva terrorista, se envolveu em duas grandes guerras, no Iraque e Afeganistão, dispendendo maiores recursos do que o possível. Em paralelo, a economia interna americana já enfrentava um déficit em sua balança comercial. Com a injeção de recursos advindo da China e da Inglaterra, os bancos passaram a oferecer mais crédito, inclusive a clientes considerados de risco. A expansão do crédito financiou a bolha imobiliária, já que a grande procura por imóveis elevou o seu preço a altos valores. Esta valorização influenciou a elevaçãoda taxa de juros, resultando no aumento da inadimplência, pois as pessoas já não viam sentido em continuar pagando hipotecas exorbitantes quando as propriedades estavam perdendo valor.
Frente às críticas contra a política de socorro aos banqueiros praticada pelo governo americano, a Casa Branca decidiu não mais interferir na administração financeira dos bancos para socorrê-los. Com isso, o banco de investimento Lehman Brothers foi à falência no dia 15 de setembro de 2008, após a recusa do Federal Reserve (Fed, banco central americano) em injetar recursos na instituição.Essa atitude do Fed teve um grande impacto sobre o estado de confiança dos mercados financeiros, rompendo a convenção dominante de que a autoridade monetária norte-americana iria socorrer todas as instituições financeiras afetadas pelo estouro da bolha especulativa no mercado imobiliário.

O rompimento dessa convenção produziu pânico entre as instituições financeiras, o que resultou num aumento significativo da sua preferência pela liquidez, principalmente no caso dos bancos comerciais. O aumento da procura pela liquidez detonou um processo de venda de ativos financeiros em larga escala, levando a um processo de “deflação de ativos”, com queda súbita e violenta dos preços dos ativos financeiros, e contração do crédito bancário para transações comerciais e industriais. A “evaporação do crédito” resultou numa rápida e profunda queda da produção industrial e do comércio internacional em todo o mundo.

Com efeito, no último trimestre de 2008 a produção industrial dos países desenvolvidos experimentou uma redução bastante significativa, apresentando, em alguns casos, uma queda de mais de 10 pontos base com respeito ao último trimestre de 2007. Mesmo os países em desenvolvimento, que não possuíam problemas comseus sistemas financeiros, como o Brasil, também constataram uma fortíssima queda na produção industrial e no Produto Interno Bruto (PIB). De fato, no caso brasileiro, a produção industrial caiu quase 30% no último trimestre de 2008 e o PIB apresentou uma contração anualizada de 14% durante esse período.
Os governos dos países desenvolvidos responderam a essa crise por meio do uso de políticas fiscal e monetária expansionistas. O Fed reduziu a taxa de juros de curto prazo para 0% e aumentou o seu balanço em cerca de 300% para proporcionar liquidez para os mercados financeiros nos EUA. Políticas similares foram adotadas pelo Banco Central Europeu (BCE) e pelo Banco do Japão. Nos Estados Unidos, o presidente Barack Obama conseguiu aprovar uma expansão fiscal de quase US$ 800 bilhões para estimular a demanda agregada. Na área do euro, os governos foram liberados das amarras fiscais do Tratado de Maastricht, sendo autorizados a aumentar os déficits fiscais além dos limites impostos pelo Tratado em consideração. Esforços similares foram realizados no Reino Unido e nos países em desenvolvimento.
Na China, por exemplo, o governo aumentou o investimento público – fundamentalmente em infraestrutura – em mais de US$ 500 bilhões com o intuito de manter uma elevada taxa de crescimento econômico. No Brasil, a expansão fiscal começou antes da expansão monetária devido a um “comprometimento irracional” do Banco Central (BC) com um regime de metas de inflação muito rígido. Nesse contexto, o governo Lula aprovou um pacote de estímulo fiscal no fim de 2008, constituído de aumento do investimento público, redução de impostos e aumento do salário mínimo e do seguro desemprego. A redução da taxa de juros começou apenas em janeiro de 2009, após o colapso da produção industrial e da disseminação de rumores quanto a possível demissão do presidente do BC. Como resultado da demora no relaxamento na política monetária, o PIB declinou 0,7% em 2009.

Apesar da forte queda da produção industrial e do PIB tanto nos países desenvolvidos como nos países em desenvolvimento, a severidade da crise de 2008 ficou muito aquém dos resultados catastróficos verificados na década de 1930. No fim de 2009, a economia americana começou a apresentar sinais positivos de recuperação, apontando para um crescimento modesto em 2010. França e Alemanha saíram da recessão técnica em meados de 2009, o mesmo ocorrendo com o Reino Unido no último trimestre desse ano.

Os países em desenvolvimento tiveram um desempenho econômico muito superior ao dos países desenvolvidos durante a crise. O crescimento econômico da China foi de 8,5% em 2009, mostrando uma pequena redução com respeito a 2008, quando a economia cresceu 9%. A performance econômica da Índia também foi boa. Após uma expansão de 7,3% do PIB em 2008, o crescimento foi reduzido para 5,4% em 2009. A performance econômica do Brasil durante a crise não foi tão boa como a da China e da Índia. Após um crescimento robusto de 5,1% em 2008, o PIB caiu 0,7% em 2009. Em 2010, contudo, a economia brasileira apresentou uma forte recuperação, apresentando um crescimento econômico superior a 7%. Entre os Brics, apenas a Rússia apresentou uma queda forte do nível de atividade econômica. Com efeito, o PIB da Rússia caiu 7,5% em 2009, após um crescimento de 5,6% em 2008.
A crise financeira de 2008 foi um desastre que poderia ter sido evitado e, no entanto, foi provocado por vários erros de regulamentação do governo, pela má administração das empresas e pela insensata avidez do risco de Wall Street. Segundo a comissão governamental que investigou a crise financeira, duas administrações foram responsáveis pelo desdobramento da crise, o Federal Reserve (Fed, banco central americano) e outras agências reguladoras que permitiram uma mistura calamitosa: a concessão descuidada de empréstimos hipotecários, a excessiva combinação de instrumentos financeiros e as vendas de empréstimos a investidores, além das apostas arriscadas com títulos respaldados pelos empréstimos. Além das ações dessas instituições, a incoerente resposta do governo Bush à crise, permitindo que o Lehman Brothers fosse à falência depois de socorrer outro banco, o Bear Stearns, com ajuda do Fed, também foi apontada pela comissão como um ato de omissão diante do desencadeamento da crise financeira de 2008.

Referências

Crise financeira de 2008 poderia ter sido evitada. São Paulo:O Estado de São Paulo, 2011. Disponível em <http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,crise-financeira-de-2008-poderia-ter-sido-evitada,671578,0.htm>. Acessado em 28 de Janeiro de 2013.
O que causou a crise econômica mundial entre 2008 e 2009?. Revista Nova Escola. Abril, 2009. Disponível em <http://revistaescola.abril.com.br/geografia/fundamentos/causou-crise-economica-mundial-470382.shtml>. Acessado em 28 de Janeiro de 2013.

Oreiro, José Luiz. Origem, causas e impacto da crise. Valor Econômico. Globo, 2011. Disponível em <http://jlcoreiro.wordpress.com/2011/09/13/origem-causas-e-impacto-da-crise-valor-economico-13092011/>. Acessado em 28 de Janeiro de 2013.

A crise de 2008 e investimentos financeiros no Brasil

(Cintia Espindola)

O atual modelo econômico adotado por grande parte das maiores economias do mundo é o neoliberalismo, que tem como premissa a flexibilização do movimento da circulação financeira. Portanto, no contexto atual, grande parte da economia mundial está interligada através de diversas transações financeiras que envolvem diversos países.

O surgimento da globalização, que é a interligação dos mercados globais, propiciou nas últimas décadas a facilitação desse fluxo financeiro, e através das políticas adotadas a tecnologia e a diversificação das transações tem crescido a ritmo ainda mais acelerado.

Pode-se dizer até certo ponto que toda essa interligação e interdependência dos mercados é positiva, pois ao mesmo tempo que ela promove a competição e o avanço tecnológico, ela também promove uma maior vulnerabilidade das economias aos fatores externos. Portanto, uma crise num país acarreta problemas a outros diversos países que com ele estabelecem relações comerciais.

Temos como um bom exemplo disso à crise financeira mundial de 2008, que se iniciou nos EUA, devido a ocorrência de um grande problema econômico financeiro, no mercado americano de imóveis, chamado por diversos especialistas de “bolha imobiliária americana”. Esse problema surgiu da extrema facilidade de crédito oferecido aos compradores de imóveis, que por não honrarem as suas dívidas, causaram um rombo nas contas de grandes bancos de crédito e seguradoras.

Essa crise, como mencionado acima, surgiu nos EUA, porém não afetou somente este país ela tomou proporções mundiais, pois o crédito oferecido a esses clientes de segunda linha com pouca capacidade de pagamento (crédito para clientes subprime) foi lastreado em títulos e esses títulos foram vendidos mundialmente. Na medida em que os devedores americanos não pagavam suas dívidas, o valor dos títulos ia caindo e em casos extremos viravam pó (perderam o valor de mercado). Logo, vários países foram afetados por essa crise, bancos faliram, o crédito ficou escasso e no seu final a crise se tornou tão grave que afetou a economia real mundial, resultando em desemprego.

Várias economias mundiais entraram em recessão, o que acarretou um impacto profundo no nível de atividade econômica dos países exportadores. Este processo recessivo mundial impactou de forma dramática as economias dos países desenvolvidos a partir do terceiro trimestre de 2008. Embora já ocorresse uma queda considerável na demanda interna nesses países desde 2007, foi pela repentina redução nas suas exportações de produtos industrializados de alto valor agregado que se conflagrou a contração de suas demandas internas.

A crise fez com que o impacto no Produto Interno Bruto desses países fosse traumático. O Banco Mundial projetou uma queda no PIB global de 2,9% em 2009, ante o crescimento de 1,9% ocorrido em 2008.

Como vimos, o mundo inteiro se viu mergulhado em diversos problemas devido a este fenômeno que propagou rapidamente. Mas os países que mais foram afetados pela redução nos gastos com investimentos dos países desenvolvidos e em desenvolvimento foram China, Alemanha, Taiwan e Estados Unidos.

O Brasil como o restante do mundo também sentiu os efeitos devastadores dessa crise financeira, a Bovespa, uma das maiores bolsas de valores do mundo, registrou grandes perdas nesse período e ocorreram cancelamentos e postergações de diversos projetos de ampliação industrial para 2009. Mesmo assim, o seu impacto não foi tão grave e nem tão devastador na economia brasileira. Até porque neste mesmo período o índice de investimento no Brasil aumentou significadamente, a expansão foi de 15% em relação ao ano anterior.

De acordo com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, em entrevista ao "Estadão" em 04 de fevereiro de 2009,
     “(...) o crescimento dos investimentos foram estimulados pela evolução da demanda doméstica, que teve um avanço de 14% em 2008, na comparação com 2007, ampliando a capacidade de consumo dos brasileiros. E o Brasil conquistou a confiança internacional e o reconhecimento como um país sólido, tanto que recebeu US$ 45 bilhões em investimentos estrangeiros diretos em 2008, ano de agravamento da crise financeira internacional. O Brasil talvez seja hoje uma das economias mais promissoras. O PAC colocou o país em condições bem mais favoráveis para enfrentar a crise. Se não tivéssemos lançado o PAC em 2007, teríamos dificuldades agora, o Brasil acabou inspirando muitos outros países a lançarem programas de investimentos semelhantes ao PAC. O programa promoveu uma elevação no ritmo de crescimento da economia brasileira, permitindo, entre outras coisas, a acumulação de reservas internacionais e a redução da vulnerabilidade externa do país. Essa menor vulnerabilidade permitiu que, em 4 meses de crise, que o país não tivesse uma perda maciça perda de reservas internacionais, como ocorreu em outras nações. Nós passamos por essa fase mantendo as reservas praticamente intactas.”
Já de acordo com Affonso Pastore,
“(...) os vigorosos ingressos de capitais no Brasil não se deu somente pelo regime de política econômica, implantado no governo FHC e seguido no governo Lula. Deve-se, também, ao fato de que as baixas taxas de juros nos EUA e o crescimento chinês permitiram um ciclo de forte elevação dos preços internacionais de commodities, que impulsionou as exportações e, consequentemente, o crescimento do país.”
Logo podemos ter a seguinte percepção, que por o Brasil ter vindo implementando antes do estouro desta crise um regime de politicas econômicas fortemente estruturadas visando uma estabilização econômica de médio e longo prazo, tendo como exemplo de uma delas o programa PAC ( Programa de Aceleração do Crescimento ), proporcionando um movimento muito positivo da economia aumentando consideravelmente o consumo interno, seja pela facilitação da concessão de crédito ou pelo controle e diminuição da taxa de juros.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

A Captação de Financiamentos no Exterior por Empresas Brasileiras

(Gustavo Santos)

A maioria das captações de recursos privados do exterior realizadas entre as décadas de 60 e 80 foram efetuadas na forma de empréstimos e financiamentos bancários internacionais. Essas captações eram internamente operacionalizadas através das resoluções e circulares do Banco Central que regulavam a contratação de empréstimos externos diretamente pelos bancos comerciais e de investimento, desde que autorizados a operar em câmbio para repasse às empresas no País nas condições determinadas pelo Banco Central e compra de títulos do governo.

A partir do ano 2000, os critérios de repasses internamente de recursos captados no exterior, ficaram a critério de mercado, sem interferências do BaCen, desde que as instituições financeiras como sociedades de arrendamento mercantil, fossem autorizadas, credenciadas e registradas no BC.

Então, com a entrada do Brasil na globalização financeira e pelo Programa Nacional de Desburocratização, a partir de 30/08/00, ambas as legislações vieram a regular as normas que disciplinam as operações de empréstimos entre residentes ou domiciliados no País e residentes ou domiciliados no exterior, à exceção das operações que envolvem o setor público.

Com a globalização do mercado financeiro, melhora da situação macroeconômica do Brasil e maior abertura do mercado financeiro brasileiro, cresceram o número de empresas brasileiras que começaram a captar recursos no exterior lançando mão da alta liquidez do mundial de crédito para financiar suas expansões na capacidade produtiva.

Com o intuito de fomentar as exportações, o governo brasileiro disponibiliza várias linhas de crédito. Todavia, os recursos oficiais oferecidos não são suficientes tornando a concessão de crédito de bancos privados e investidores internacionais uma alternativa conveniente, por meio de financiamento internacional privado.

Muitas dessas captações são através da intermediação de bancos brasileiros principalmente no caso de pequenas e médias empresas que não tem a capacidade de captar diretamente recursos no exterior. Assim, o banco brasileiro capta os recursos em moeda estrangeira, vende essas divisas no mercado de câmbio e repassa para uma empresa brasileira, cobrando comissão, correção cambial e os mesmos juros que ele paga no exterior, para adiantamento de contratos de câmbio por empresas exportadoras e algumas empresas de grande porte obtendo recursos diretamente do mercado financeiro internacional. Também se pode ressaltar a captação de recursos no exterior por instituições financeiras brasileiras por mera especulação cambial, obtendo ganhos de arbitragem.
Tais mecanismos, apesar de concedidos por agentes privados, são regulamentados e supervisionados pelo Banco Central. São verificadas operações das mais simples às mais sofisticadas além do mercado de capitais internacional como, por exemplo, a contratação de empréstimos externos, as operações de mútuo contratadas entre pessoas físicas ou jurídicas, residentes, domiciliadas ou com sede no Brasil (residentes) e as pessoas físicas ou jurídicas, residentes, domiciliadas ou com sede no exterior (não residentes). Os recursos captados por meio de empréstimos externos devem ser aplicados em atividades econômicas, respeitada a compatibilidade entre os custos praticados e os parâmetros usualmente observados nos mercados internacionais.

Emissão de Títulos no Exterior (Commercial Paper, Bonds, Notes): Os recursos externos podem ser captados de forma direta ou por meio de colocação de títulos, inclusive os conversíveis ou permutáveis em ações ou quotas, observadas as formas e respeitados os procedimentos usuais praticados no mercado internacional. O Commercial Paper foi o primeiro instrumento de captação de recursos externos utilizado quando o Brasil retornou ao mercado internacional de capitais, que no mercado norte-americano é uma nota promissória com prazo de até 270 dias. O termo Bonds pode ser usado como designação genérica dos títulos representativos de dívida de países, instituições financeiras ou empresas do setor público ou privado. No mercado internacional, são títulos com prazo de vencimento normalmente acima de dez anos. A designação correta dos papéis que as empresas brasileiras têm emitido no exterior é Note. Notes são títulos de prazos mais curtos (até cinco anos).

Securitização de Exportações: é a captação de recursos no mercado externo, com o estabelecimento de vínculo a exportações. Inicialmente, a operação deveria estar vinculada a exportações da própria tomadora, de sua controladora, de suas controladas, ou de outras empresas que tenham a mesma controladora, ou seja, sempre dentro do mesmo grupo econômico, mas hoje se admite que a operação também seja realizada com base em exportações de empresas que não pertençam ao mesmo grupo econômico da tomadora.

As Operações em Reais: as empresas brasileiras podem captar recursos no exterior, emitindo títulos denominados em moeda nacional, Reais. As partes interessadas nessa modalidade de operação são: (i) os investidores estrangeiros, fornecedores de crédito, que estão dispostos a adquirir títulos em Reais no mercado internacional porque acreditam na desvalorização do dólar norte-americano e na consequente valorização do Real no mercado de câmbio brasileiro e desejam, portanto, obter uma remuneração maior, estabelecida de acordo com as taxas de juros praticadas no Brasil, que, historicamente, sempre têm sido mais altas do que as taxas internacionais vigentes no exterior.

Programas de Depositary Receipts – ADRs, IDRs e GDRs: as companhias abertas brasileiras podem captar recursos no mercado internacional, mediante a colocação de ações ou valores mobiliários junto a investidores estrangeiros, através do mecanismo de Depositary Receipts (Drs). Os DRs colocados, vendidos e negociados no mercado norte-americano são designados American Depositary Receipts (ADRs). Denominam-se International Depositary Receipts (IDRs) ou Global Depositary Receipts (GDRs) os DRs negociados nos euromercados e nos demais mercados internacionais, fora dos Estados Unidos da América. DR constitui, portanto, a expressão genérica que abrange indistintamente os ADRs, os IDRs e os GDRs, e pode ser traduzida para o português como Recibo de Depósito.

Crise internacional de 2008 e investimento estrangeiro no Brasil

(André Nery)

O declínio do PIB brasileiro no período da crise de 2008 foi muito menor do que se esperava. O êxito do Brasil em lidar com a maior crise desde 1929 deve-se principalmente a remoção da vulnerabilidade externa e a acumulação de reservas às vésperas da crise e a maior solidez das contas públicas.

Foi muito relevante nesse sentido a aplicação de políticas pelo governo. Todavia, no que diz respeito ao esforço fiscal que tanta importância teve no enfrentamento da crise pelos países de economia desenvolvida e destacados países em desenvolvimento, este limitou-se no caso brasileiro talvez, a 1% do PIB, por renúncia de impostos do governo federal na compra de bens duráveis como automóveis, materiais de construção, linha branca e móveis, e atrasos de recebimentos que fizeram do governo um financiador de última instância para empresas com dificuldades de acesso ao crédito.

Por outro lado, a redução de juros entrou em cena muito tarde, tendo ocorrido apenas em janeiro de 2009 a primeira redução da taxa básica, enquanto o agravamento da crise externa teve lugar, de forma dramática, em setembro de 2008. A taxa Selic cairia de 13,75% ao ano para 8,75% ao ano entre janeiro e julho de 2009. Como há um intervalo de tempo entre a queda da taxa básica de juros e seus efeitos na atividade real, provavelmente a política de juros acelerou a recuperação da economia quando esta já estava em curso, vale dizer, em meados de 2009, sem ter sido em si um antídoto à crise ou um mecanismo promotor da reativação.

O governo lançaria mão de medidas de aumento da liquidez na economia, com a liberação entre fins de setembro de 2008 e início de 2009 de R$ 100 bilhões que antes os bancos recolhiam compulsoriamente ao Banco Central. Juntamente com uma ação deliberada de política bancária comandada pelo comando econômico do país para evitar uma crise nos bancos de menor porte, na qual instituições públicas adquiriram participações e compraram carteiras de crédito de bancos em dificuldades, a medida de aumento de liquidez foi relevante, pois abortou a possibilidade de corrida bancária ou de dúvidas sobre a situação de liquidez dos bancos brasileiros.

Estes vinham promovendo uma enorme evolução do crédito para pessoas físicas e, sobretudo, para pessoas jurídicas, tendo por base em ambos os casos o alargamento dos prazos dos financiamentos, sem contrapartida de ampliação de prazos do lado da captação de recursos. Para se ter ideia do boom de crédito que se desenvolvia na economia no momento anterior à crise internacional, basta observar que em setembro de 2008 o crédito crescia 45% e 17,9%, respectivamente, para pessoas jurídicas e pessoas físicas, na comparação com o mesmo mês do ano anterior.

Dada a onda de dúvidas e incertezas que se instaurou quando explodiu a crise internacional, esse intenso crescimento dos financiamentos e o descasamento de prazos que o acompanhava, transformou-se em fator de elevação do risco dos bancos mais alavancados e expostos a captações no interbancário e junto a fundos de investimentos e a grandes empresas. A incerteza se agravaria à medida que iam se tornando públicos os elevados montantes de empréstimos a empresas concedidos em operações casadas com aplicações em mercados futuros de câmbio nas quais as empresas assumiram riscos cambiais. Com a desvalorização do Real foram gerados vultosos prejuízos em muitas empresas brasileiras, o que em setores como o de celulose, alimentos processados e açúcar e álcool levou a quebras de empresas nacionais de porte. No contexto internacional adverso que afugentava potenciais compradores estrangeiros e, dado um apoio financeiro redobrado concedido pela agência brasileira de financiamento, o BNDES, os grandes grupos nacionais foram os principais absorvedores das empresas em crise.

A propósito, o apoio financeiro do BNDES também foi relevante para viabilizar a compra de empresas no exterior por parte de empresas nacionais e por financiar absorções ou associações entre empresas nacionais. Com isso, em vários segmentos da atividade econômica emergiram da crise grupos nacionais com muito maior porte e poderio financeiro. Essa consequência da crise poderá vir a condicionar positivamente em um futuro próximo a inserção de empresas brasileiras no exterior e sua capacidade inovadora, dois traços que as empresas nacionais, sabidamente, deixam a desejar.

As medidas na área de liquidez e de política bancária, portanto, evitaram uma crise de liquidez que, se desencadeada, restringiria de forma aguda o crédito e tornaria inevitável uma recessão de grandes proporções na economia. Um instrumento importante para a recuperação da capacidade de concessão de novos financiamentos por parte dos bancos de menor porte foi a garantia concedida pelo Fundo Garantidor de Crédito aos depósitos a prazo emitidos por esses bancos.

A medida anticíclica mais destacada do nosso ponto de vista não veio nem da área fiscal, nem da política monetária ou de liquidez, a despeito da inegável relevância de cada uma delas. Veio, sim, da orientação que o governo transmitiu aos seus bancos (Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e BNDES) para que ampliassem seus financiamentos. No início da crise o crédito dos bancos públicos representava cerca de 35% do crédito total, percentual que subiria a 41% (percentual de fevereiro de 2010). No contexto em que os bancos privados contraíam os seus financiamentos, foi esse espaço ocupado pelos bancos públicos o determinante por não ter havido na economia uma crise de crédito entendida esta não somente como a contração do volume de financiamentos concedidos, mas também como uma onda de falências de empresas e de liquidação de ativos. O crédito se retraiu de fato, o que trouxe consequências negativas para a atividade econômica, mas logo pôde ser recomposto, como veremos em seguida.

Nos casos do Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal, a orientação do governo no sentido de que essas instituições ampliassem seus financiamentos encontrava correspondência em um grande crescimento da sua captação de recursos, dada a maior preferência do público em manter, no momento de crise, seus saldos de recursos junto aos bancos oficiais. No caso do BNDES, suas operações de crédito já vinham aumentando de forma acelerada antes da crise em função do boom de investimentos em grandes projetos que após uma ausência de mais de três décadas voltou a se apresentar na economia brasileira. Nesse caso, a orientação do governo que por todos os ângulos foi acertada, foi não interromper o financiamento das inversões que de outra forma não seriam realizadas, dada a retração do crédito externo e doméstico e o refluxo que se observava no mercado brasileiro de capitais. Além disso, como já foi visto, o BNDES financiou oportunidades abertas pela crise para aquisições e fusões sob o comando de empresas nacionais, no país e no exterior.

Em suma, propriamente relacionados à defesa do nível de atividade durante a crise e indutores da recuperação após a recessão do ultimo trimestre de 2008 e primeiro trimestre de 2009, podem ser relacionados os instrumentos monetário o qual, todavia, veio com relativo atraso; o instrumento fiscal que, no entanto, pode ser considerado tímido se comparado aos esforços empreendidos em outros países; o instrumento da liquidez, que mais propriamente defendeu o sistema bancário contra o risco de uma crise; e o crédito dos bancos públicos, este sim, o mais ativo promotor da defesa da economia contra a crise e da restauração das condições de volta do crescimento.

Ao lado desses fatores, foi decisiva a manutenção pelo governo das políticas que já estavam em curso, o que teve por consequência a preservação, durante a crise, de certo de nível de gasto e de crédito na economia. Assim, o governo não abriu mão dos vultosos investimentos programados pela Petrobrás e dos demais programas do PAC e procurou ampliar esses investimentos. Criou também dois outros programas relevantes. O primeiro, na área de habitação ("Minha casa, minha vida"), terá maior impacto a partir de 2010; o segundo, transitório (com validade até 31/12/2009, depois prorrogado para 30/6/2010), foi adotado em meados de 2009 na área do investimento. O "Programa de sustentação do investimento", PSI, pode ser concebido como um capítulo da exitosa política de crédito adotada durante a crise e teve grande efeito sobre o investimento corrente, notadamente no investimento mais "leve" (voltado à aquisição de máquinas e equipamentos). Consistiu na redução para 4,5% ao ano da taxa de juros dos financiamentos do BNDES para a compra de bens de capital, praticamente tornando nula a taxa real de juros dos financiamentos de parcela considerável do investimento no país.

Não houve retrocesso em outras decisões do governo como ampliar e reajustar as transferências para famílias pobres (o programa "Bolsa Família") e na concessão de aumento do salário mínimo. O governo também não restringiu o direcionamento do crédito, como por exemplo, no sistema que vincula a captação da caderneta de poupança que teve significativo aumento no ano da crise com o financiamento de moradias. Com isso, foi possível amortecer a queda no setor de construção habitacional. Não houve recuos ainda em programas de elevação dos salários de servidores públicos, mas nesse caso um adiamento ou reprogramação não teria ônus para o crescimento econômico. Com essas medidas, às quais se somariam outras como a ampliação do seguro desemprego, o governo preservou o seu já elevado nível de gasto público sobre o PIB, aumentou o investimento público e ampliou o impacto do gasto por ele induzido na economia.

Isso teve consequência relevante porque evitou que a crise se propagasse para toda a economia brasileira. A sustentação do gasto público "blindou" o setor serviços da economia, responsável por 60% do PIB e grande empregador. Este setor, salvo em segmentos de maior relação com a dinâmica agroindustrial, a exemplo de transportes, praticamente não foi afetado pela crise. Isso significa dizer que os efeitos desta no Brasil, embora graves, ficaram restritos aos setores da indústria e da agropecuária. Nesses casos era inevitável um grande impacto inicial da crise internacional, dada a sua natureza - tratou-se de uma ampla e gravíssima crise de confiança - e as mudanças por ela repentinamente provocadas nas decisões de longo prazo, na disponibilidade do crédito e no comércio exterior. Isso afetaria fortemente a agropecuária (pelo encolhimento do crédito e do comércio mundial) e, sobretudo, a indústria (pelos mesmos fatores, acrescidos da retração do investimento em decorrência do colapso das decisões de longo prazo). Por essas razões, o primeiro desses setores declinaria 5,2% no ano da crise, a indústria, 5,5%, enquanto o setor de serviços mantinha crescimento de 2,6%.

Por outro lado, o gasto público, na medida em que preservou o emprego no setor de serviços, protegeu a atividade em segmentos produtores de alimentos e de bens industriais básicos para a população. Isso não impediu, no entanto, uma onda de demissões com dispensas líquidas de trabalhadores formais acumuladas entre outubro de 2008 a março de 2009 de 692 mil pessoas. Mas, apesar disso, deve ser notado que as demissões ocorreram na indústria (493 mil) e agropecuária (227 mil), mas não no comércio (que no mesmo período contratou 47 mil pessoas) e em serviços (67 mil). Deve ser sublinhado ainda que após esse período todos os setores ampliaram as contratações.

Por não prosperar o desemprego, não aumentou a inadimplência no crédito familiar. Isso, aliado à disposição dos bancos oficiais de deterem fatia maior no crédito pessoal e ao consumidor o que suscitou uma reação competitiva da parte do segmento privado fez com que já no segundo trimestre de 2009 voltasse a crescer o crédito para as pessoas físicas. No segundo semestre ocorreria um início de retomada do crédito para as empresas.

Em suma, a manutenção e o aumento do nível do investimento e do gasto público e a ampliação do crédito em plena crise, foram os determinantes do êxito brasileiro em responder à crise internacional e superá-la com rapidez, minimizando a retração do PIB em 2009. A ampliação do crédito pode ser considerada fator ativo mais relevante para a retomada do crescimento da economia a partir do segundo trimestre do ano passado. Se o Brasil tivesse se aproximado mais de outros países em termos de arrojo na execução de políticas fiscais e de juros, como no caso da China e dos países desenvolvidos, talvez sua economia nem tivesse entrado em recessão e teria acumulado crescimento no ano crítico de 2009.

Conseqüência das Flutuações Cambiais nas Contas Externas

(Angela Barras)

A valorização cambial torna as importações mais baratas. São necessários menos reais para adquirir os dólares com os quais se compram os produtos estrangeiros. A demanda por produtos importados aumenta na medida em que estes ficam mais baratos em reais. As viagens de férias para Florianópolis ou Garanhuns podem ser substituídas por viagens internacionais.

Se a valorização cambial deixa as importações mais baratas, as exportações ficam mais caras. Os preços dos produtos nacionais tornam-se mais caros em dólar. Os importadores desembolsarão mais dólares para adquirir produtos brasileiros. Podem, e normalmente o fazem, procurar outros lugares para comprar. Há, então, uma perda de competitividade das exportações devido à valorização cambial. Portanto, a valorização cambial incentiva as importações e prejudica as exportações, enquanto a desvalorização cambial provoca comportamento oposto.

Se o país passa a importar mais que exporta, deverá gerar, ao fim de algum tempo, um déficit comercial. Este déficit deverá ser coberto para que as contas externas do país, descritas no Balanço de Pagamentos, sejam fechadas, à semelhança do balanço de uma empresa. O financiamento do déficit pode ser feito por meio de utilização de reservas cambiais (se disponíveis), empréstimos junto aos bancos privados internacionais, investimentos externos diretos (de risco) ou investimentos em portfólio: no mercado financeiro (títulos públicos ou privados) e de capitais (ações na bolsa de valores), geralmente especulativos e de curto prazo. Outra possibilidade é vender ativos públicos, caso das privatizações ocorridas na década de 1980 e 1990.

Quando tais fontes de financiamento são insuficientes para saldar os compromissos, geralmente os governos lançam mão de empréstimos junto ao Fundo Monetário Internacional (FMI), constituído justamente para atender a essas emergências. Recorrer ao FMI significa submeter-se a certas medidas que, via de regra, levam a economia à recessão.

É importante observar, no entanto, que em um regime de taxas de câmbio flutuante, no qual o mercado é que estabelece a relação entre as moedas (como é o brasileiro), o déficit comercial não deve ocorrer. Com o câmbio flutuante, a tendência é de um “equilíbrio automático” da Balança Comercial.

Se o dólar se desvaloriza (vale dizer, o real se valoriza), as importações aumentam e as exportações diminuem. Com o crescimento das importações, a demanda por dólares aumenta. De outro lado, o decréscimo das exportações reduz a oferta de dólares no mercado. O resultado desses dois movimentos contrários, é o aumento da cotação (do câmbio) do dólar, tornado-o mais caro, reduzindo, dessa forma, a demanda por produtos importados, reconduzindo o câmbio ao equilíbrio.

Na hipótese de uma valorização do dólar (uma desvalorização do real), caem as importações e aumentam as exportações. Com a redução das importações, a demanda por dólares cai. O aumento das exportações, por sua vez, aumenta sua oferta. Novamente os dois movimentos – oferta e demanda de dólares – atuam. Neste caso, levarão a uma redução na cotação (o preço, o câmbio) do dólar, levando a um aumento de sua demanda e de produtos importados. A taxa de câmbio de equilíbrio é novamente estabelecida.

Outro componente importante a ser considerado é o grau de “volatilidade da taxa de câmbio”. Uma empresa que deseja investir no país, abrir uma fábrica, um supermercado, uma empresa de telecomunicações etc., estará interessada em saber qual será o retorno do capital investido. Se a receita dessa multinacional for gerada somente dentro do país, isto é, em reais, a estabilidade cambial é crucial para essa decisão.

Pode-se considerar, a título de exemplo, que determinada empresa produza e venda seu produto a R$ 10,00 a unidade, e que a taxa de câmbio seja de R$ 2,20 x US$ 1,00. A receita, em dólares, por unidade vendida desse produto será de US$ 4,54 (10,00 ÷ 2,20).

Suponha agora, que houve uma desvalorização cambial de 12,5%, de R$ 2,20, o dólar passou a valer R$2,47. O preço do produto, em reais, continua o mesmo, mas, em dólares, esse preço passou para US$ 4,04 (10,00 ÷ 2,47), 11% menor. Se nada mais se alterou na formação de preço do produto, o lucro da empresa em dólares deverá, igualmente, cair 11%.

Essa “volatilidade” não vai sempre na mesma direção. No instante seguinte, a taxa de câmbio pode se valorizar, o que provocaria um resultado oposto, isto é, um aumento nos lucros da empresa. De qualquer forma, as empresas não gostam dessas variações. Elas preferem operar com maior estabilidade e previsibilidade. Em outras palavras, em um regime de taxas flutuantes, melhor seria a estabilidade do câmbio.

A proteção (ou "hedge", segundo a nomenclatura de mercado) das empresas de serviços públicos que foram privatizadas, a telefonia, por exemplo, é a inserção, nos contratos (aqueles de privatização), da correção das tarifas pelo IGP-M. Composto por 60% dos preços por atacado, que sofrem grande influência do câmbio, o IGP-M repassa as variações cambiais para o preço das tarifas, o que sustenta a receita em dólares dessas concessionárias.

Crise financeira internacional e a entrada de capitais na economia brasileira


(Felipe Celani)

A chamada crise financeira internacional de 2008 começou nos Estados Unidos e afetou praticamente todos os países do mundo. O auge dessa crise ocorreu em setembro de 2008, quando alguns bancos e instituições financeiras começaram a registrar prejuízos, ocasionando a falência de algumas dessas instituições.

O início da crise ocorreu através do setor imobiliário dos Estados Unidos devido ao crédito em excesso e aos juros baixos, que levaram a grande valorização dos imóveis. Isso fez com que houvesse um estímulo para a compra e financiamentos para que a aquisição da casa própria fosse realizada. Os bancos, na maioria das vezes, ofereciam instrumentos financeiros vinculados às hipotecas, usando o imóvel para o pagamento da dívida.

Com a ameaça de retomada da inflação, os juros foram elevados pelo banco central americano, fazendo que as mensalidades cobradas pelos bancos também aumentassem. Ao mesmo tempo, o valor dos imóveis despencou, levando a um aumento da inadimplência e, com isso, os títulos das hipotecas perderam seu valor.

Com o decorrer do tempo o problema aumentou, se espalhando para outras áreas da economia e para outros lugares do mundo. Alguns bancos em melhores situações compraram outros praticamente falidos e os governos de vários países injetaram dinheiro no sistema bancário para que mais instituições não fossem prejudicadas.

Para evitar novos calotes, os bancos aumentaram a taxa de juros, consequentemente, diminuindo o investimento das empresas e a diminuição do consumo da população.

Com a diminuição dos investimentos as economias tinham uma menor capacidade de expansão, pois o crescimento de algumas empresas não acontecia, pois nada podia ser financiado. Essa situação fez com que diminuíssem o número de empregos, fazendo com que o consumo diminuísse, afetando o desempenho de toda a economia.

O Brasil não sentiu tanto os reflexos da crise devido a sua história econômica, como a troca de planos. Isso pode ser explicado também pelo Brasil ser um dos poucos países capazes de enfrentar uma modificação no seu modelo de desenvolvimento de forma incorporadora, mudando o pensamento de submissão ao pensamento único às práticas neoliberais. Por isso mesmo com uma economia menor e mais dependente do comércio exterior, o Brasil tinha mais possibilidade de resistir e ultrapassar a crise do que muitos outros países.

Mesmo com a grande retração ocorrida no ano de 2008 o investimento estrangeiro no Brasil aumentou cerca de 20,6%. Esse crescimento pode ser explicado pela forma como o Brasil foi afetado pela crise. A economia brasileira não chegou a sofrer tantos danos como grandes países, que chegaram a ter importantes bancos decretando estado de falência. Isso fez com que a população brasileira não perdesse tanto.

O Brasil passou a receber maior confiança do mercado mundial pela forma como encarou a crise, estimulando o mercado ao consumo interno. O brasileiro passou a comprar mais a partir do maior acesso ao crédito e redução de impostos, além dos programas governamentais de fomento para indústria e microempresários.

A crise fez com que diminuíssem a busca por produtos brasileiros no exterior, apresentando uma grande queda na venda de mercadorias. Outro ponto foi a diminuição de investimentos de algumas empresas no Brasil. Se não houvesse essa retração na economia os números de 20,6% de aumento de investimento estrangeiro no Brasil poderia ser maior.

Por esses motivos o Brasil foi um país que reagiu bem à crise financeira mundial e não teve tantos problemas para passar por ela. Isso fez com que o país fosse bem visto por outros para receber investimento, fazendo com que sua economia crescesse mesmo diante de uma queda na economia do resto do mundo.