terça-feira, 30 de junho de 2015

Globalização ? No meu campo, não !

(Eduardo Pacheco)

O processo da globalização já deixou de ser teoria e passou a ser realidade há algum tempo. As trocas e experiências interculturais passaram a ser cada vez mais fáceis e frequentes, mesmo para aqueles que, outrora, encontravam-se isolados do “Resto do Mundo”. Todas as regiões do mundo passaram a sofrer a influência uma das outras, muito em decorrência da popularização da internet.

Muitos estudiosos imaginavam que o processo da globalização levaria à criação de uma cultura única no mundo, desprezando-se as culturas locais e regionais. Definitivamente, muitos lugares adquiriram hábitos até então inimagináveis e exóticos para a região, entretanto, em outras regiões, o que se viu foi uma resistência das culturas locais, ou até mesmo assimilação de elementos distantes adaptados às condições locais, dinâmicas às vezes resultaram no ressurgimento e resgate de hábitos já considerados passados.

No mundo do futebol a globalização também está presente. Os clubes mais ricos e poderosos do planeta não medem gastos para trazer os melhores atletas disponíveis no mercado, vindo dos quatro cantos do planeta, muitas vezes deixando de lado atletas nascidos no país onde o clube encontra-se. Na temporada de 2014-15, por exemplo, os milionários Real Madrid e Manchester City teriam sido rebaixados de seus campeonatos nacionais caso só fossem contabilizados os gols de atletas nascidos na Espanha e na Inglaterra, respectivamente. Outro exemplo no qual a atuação da globalização mostra-se forte no futebol é o caso da Internazionale de Milão campeã europeia e mundial do ano de 2010. A equipe "nerazzurri" daquela temporada tinha como craque o holandês Sneijder, seu artilheiro, Diego Milito, e seu capitão, Javier Zanetti, eram argentinos e seu sistema defensivo era liderado pelos brasileiros Júlio Cesar, Maicon e Lúcio. O técnico era o português José Mourinho (substituído no meio daquele ano pelo espanhol Rafa Benítez) e não havia sequer um italiano no time titular.

Em outros casos, a globalização fez reacender velhas identidades e sentimentos das culturas locais, como é o caso do Athletic Bilbao, clube sediado em Bilbao, no País Basco espanhol. O clube é conhecido por só utilizar jogadores nascidos no País Basco, seja na Espanha ou França, ou com alguma ascendência ligada à região, notabilizando-se, dessa forma, como uma das grandes instituições bascas que lutam pela independência da região autônoma.

As grandes tensões separatistas existentes no território espanhol tornam o país propício para alguns times, através do futebol, fortalecerem a luta por suas regiões. Além do caso do Bilbao, o Barcelona, atual campeão europeu, espanhol, da Copa del Rey e principal representante Catalão no futebol, também utiliza o esporte como forma de resgatar a cultura local e fortalece-la. Em um clássico contra o Real Madrid, principal rival do Barcelona e representante da capital, em 2012, 90 mil torcedores do Barcelona cantaram pela independência da Catalunha exatamente aos 17:14 minutos de jogo. O momento tão precisamente escolhido faz referência ao ano de 1714, quando um levante catalão foi sufocado pela monarquia espanhola.

A resistência à globalização é um dos efeitos mais fortes desse processo que praticamente já engoliu o mundo inteiro. No futebol não havia como ser diferente e tal fato só mostra como o “esporte bretão” é um espelho da sociedade, seja a sociedade que for. Apesar disso, há ainda quem insista em dizer que o futebol nada mais é do que 22 pessoas correndo atrás de uma bola.