quarta-feira, 23 de março de 2016

São José dos Campos, a indústria de aviação e os mercados globais

(Matheus Piorino)

agosto de 2011

Em 1969 foi criada a Embraer (Dentro do Centro Técnico Aeroespacial – CTA), uma empresa de controle estatal com objetivo de desenvolver aeronaves e tecnologia de aviação. Nas primeiras décadas de vida a empresa conseguiu se projetar nacional e internacionalmente com suas aeronaves. Porém foi após a privatização que a empresa passou a crescer com mais velocidade. O desenvolvimento de famílias mais modernas de avião como o ERJ-145 e posteriormente a família E170/190 colocou a Embraer como a terceira maior fabricante de aeronaves no mundo. Além da aviação comercial a empresa também atua nos mercados de defesa e segurança, aviação executiva e serviços aeronáuticos, este o programa mais jovem da companhia. A empresa é uma das maiores exportadoras do país e é responsável por um “cluster” de produtos e serviços aeronáuticos na região de São José dos Campos, empregando diretamente mais de 17.000 funcionários.

O maior desafio da empresa foi passar de sua gestão estatal para privada, e com isso ganhar o vulto que tem hoje. O programa mais ousado e de sucesso, no entanto, foram os E-Jets, com mais de 1.000 unidades vendidas em março de 2011, 12 anos após o seu lançamento em 1999 e apenas 7 anos após sua primeira entrega.

Os principais desafios do setor aeronáutico são a constante necessidade de investimentos em tecnologia e inovação para se adequar a este mercado tão exigente e caro, em que um erro de posicionamento pode custar muito para empresa devido à competitividade e volatilidade do mercado de aviação mundial.

A questão atual enfrentada é como manter a competitividade de um programa de tanto sucesso como o dos E-Jets, pois eventualmente o mercado pedirá por uma reformulação/repaginamento. Se decisões corretas e precisas não forem tomadas, poderá custar muito a empresa. Com a situação do câmbio no cenário de hoje, marcado pela apreciação do Real, a estrutura de custo, como a mão-de-obra brasileira, se torna mais cara, prejudicando todo o setor exportador brasileiro, como é o caso da Embraer.

A empresa sempre enfrentou concorrentes externos, e seu principal mercado é fora do país, porem a abertura de mercado no pais permitiu a entrada dos concorrentes. A concorrência no mercado vem aumentando a cada ano, e os próximos passos das lideres do mercado global, Airbus e Boeing, afetam as novas estratégias da empresa. Porém o cenário para aviação é favorável, apesar da recente alta de custos nos combustíveis, pois a tecnologia em desenvolver motores e aviões mais eficientes está a todo vapor, visto o grande sucesso do NEO da Airbus. Além disso os países emergentes (BRICs, e alguns outros) tem um potencial de desenvolvimento muito grande. Porém um grande problema para o crescimento do setor nestes países é a questão da infraestrutura.

Um ótimo exemplo para isso é o Brasil, que irá sediar a próxima copa em 2014 e uma olimpíada em 2016. Para tais eventos de grande porte, apesar de ser esperado um grande “boom” no desenvolvimento das infraestruturas, não é o que está sendo observado. Ou seja observa-se hoje aeroportos com pouca segurança, superlotados, operando acima da capacidade ideal e encarecendo todo o mercado, de transportes e não só da aviação. Ou seja não se pode contar com a demanda latente desses países para a compra de novos aviões e abertura de novos mercados, pois eles carecem de estruturas caras, complexas e demoradas para deslancharem.

A médio e curto prazo o pacote de produtos e serviços da empresa tem respaldo para manter uma trajetória de sucesso, porém crises econômicas muito profundas podem vir a afetar todo o setor de aviação no mundo. No longo prazo o desafio, como já foi proposto acima, é de continuar desenvolvendo melhorias seja na eficiência das aeronaves ou mesmo no lançamento de novos produtos. O mercado potencial para um grande crescimento existe, mas é muito disputado e em alguns casos ainda incerto quanto ao prazo de sua ocorrência.

O grande diferencial da empresa e seus produtos no mundo a qualidade e eficiência de seus produtos. São características muito importantes, neste setor em que falhas podem representar grandes acidentes e perdas humanas e financeiras. A empresa tem um ótimo posicionamento no mercado global. Os 4 grandes “players” do setor tem suas vantagens o que torna a briga pelos clientes muito acirrada.

A lógica da especialização econômica prevista pelas tradicionais teorias neoclássicas do comércio internacional se aplica ao setor, visto que as aeronaves possuem inúmeros componentes extremamente complexos. Daí, a formação deste “cluster” de empresas aeronáuticas na região, devido a necessidade da empresa de contar com componentes que outras empresas produzem, essenciais à aviões, com grande qualidade, tecnologia e confiança. De uma forma toda as empresas acabam por caminhar muito próximas umas das outras devido ao alto grau de especialização que é requerido neste mercado. Os produtos devem ter qualidade máxima, isso encarece o processo e dificulta o poder de barganha.

O setor aeronáutico na região é amplo e com isso percebemos o efeito da especialização e da melhor forma da redução de custos possível. Cada empresa está fazendo o que sabe de melhor e da melhor forma para obtenção de um produto extremamente confiável e com preços adequados. Sem a abertura comercial do país talvez não fosse possível a formação desta estrutura de mercado e setor seria composto de uma empresa que teria de fabricar tudo por conta própria e perder eficiência em custos e qualidade.

O que se observa é justamente o contrário e o Brasil é visto como um centro de referência em tecnologia e qualidade no setor aeroespacial devido ao grande modelo de sucesso nascido no CTA, da qualidade do ensino do ITA, e dos produtos e serviços de qualidade da Embraer e suas empresas parceiras na região de São José dos Campos e do acesso a fornecedores de tecnologia de ponta em todo o mundo, colocando o setor em pé de igualdade com seus concorrentes e permitindo o se diferenciar e ser melhor em sua especialidade e dessa forma podendo se destacar e apresentar um case de sucesso.

A retração da atividade manufatureira no estado de Nova York

(Kilder Emanuel)

setembro de 2011
Analisando a economia Norte Americana, que por sinal, ainda se encontra muito longe daquilo que víamos na década de 90, neste mês de Agosto, mais um lastimável número veio a tona: a queda das indústrias manufatureiras em New York pela terceira vez neste ano.

As fabricas nova-yorquinas que lideravam cerca de 12% da produção manufatureira dos Estados Unidos, vem enfrentando uma constante queda neste ano de 2011. O índice "Empire State" de condições gerais de negócios caiu de -3,76 em julho para -7,72 neste mês. Economistas Norte Americanos, foram mais uma vez “pegos de surpresa” pois os mesmos previam uma leitura de zero para este mês de Agosto. A pesquisa com as fábricas no Estado de New York é um dos primeiros indicadores da atividade manufatureira nos Estados Unidos.

Analisando este cenário, começo a me questionar se os norte-americanos estão sendo muito “naives” à respeito do grande desafio que terão que enfrentar, entendendo a situação apenas como uma queda natural, ainda mais levando-se em conta que suas empresas vem abrindo “facilities” em países de mão de obra barata. Será que a “abertura” dos Estados Unidos para o comércio exterior tomou um rumo incontrolável, ainda mais tratando-se de um país com um acentuado viés consumista ? Ainda mais praticando um “outsourcing” ou talvez um verdadeiro “insourcing” para suprir desta demanda consumista ? Vamos analisar alguns fatos que podem mensurar a queda destes números a valores ainda mais baixos.

Estados Unidos, Canadá e México formaram em 1994 o Nafta (North America Free Trade Agreement) com o propósito de facilitar o comércio exterior entre estes países, diminuindo as tarifas alfandegárias e custos comerciais. Porém o que ninguém pensou seria quem seria o maior beneficiado com isso, que em tese “teria” que ser os Estados Unidos. Mas será que foi, ou tem sido ?

No começo da última década e, principalmente depois do atentado terrorista de 11 de setembro de 2003, os norte-americanos começaram a sentir o primeiro golpe em sua economia. Com isso muitas empresas de manufatura, entre elas as automobilísticas que nas décadas de 80 e 90 dominavam a economia norte-americana em Detroit (cidade esta hoje que só serve mesmo para contar histórias automotivas, isso porque não vale a pena comentar a vinda das montadoras asiáticas para os EUA) começaram a perceber que a mão-de-obra norte-americana era muito cara, pelo menos em comparação com seus competidores asiáticos. Sendo assim, os CEO’s das maiores empresas de manufatura dos Estados Unidos, olhavam para suas janelas e viam um exército de trabalhadores mexicanos cortando grama dos “headquarter” americanos e ganhando, digamos, U$ 3 por hora, felizes da vida, enquanto um americano trabalhando no “chão de fábrica” ganhava algo entre U$ 8 e U$ 11 por hora e ainda saia reclamando.

Dessa maneira, baseado nesta comparação, e lembrando que o Nafta ajudava que as empresas abrissem instalações no território dos “felizes” vizinhos, iniciou-se a onda de deslocamentos de fábricas norte-americanas para o México, gerando as primeiras pressões sobre o nível de emprego nos Estados Unidos. Mas, e o México ? Como ficou ?

Bem, o México, com toda esta “bondade” de seus vizinhos, conheceu um aumento considerável no seu PIB entre os anos de 2003 e 2008, juntamente com uma alta no número de empregos que nem os mais otimistas economistas mexicanos poderiam imaginar.

Aparentemente, os economistas americanos frequentaram com muita assiduidade os textos da teoria da mão invisível de Adam Smith, se esquecendo de outros aspectos da teoria de Adam Smith, como a teoria das vantagens absolutas.

Por estas e outras razões, parecem cada vez mais razoáveis as políticas protecionistas, especialmente em relação aos acordos comerciais orientados para a criação de blocos de comércio entre países. O Comercio Exterior, sem dúvida, é algo importante para qualquer país que queira se desenvolver economicamente, e países tem sim que se relacionar comercialmente. Agora, querer fazer um bloco comercial entre países, sem a unificação da moeda, pode representar um suicídio econômico. Imaginemos o Brasil enviando indústrias para toda América do Sul, como está acontecendo, sem uma política cambial coerente, poderia aumentar a pressão no nível de emprego.

Agora, vale a pena entrar também na questão do cambio para avaliar esta relação entre EUA e México, e mais uma vez a questão é : por que EUA, México e Canadá, que estariam tão abertos ao livre comércio, não unificaram a moeda ? Isso sem dúvida poderia contribuir para estimular as relações comerciais entre os países. Com a unificação da moeda, assim como ocorreu na União Européia, EUA, México e Canadá teriam estimular as trocas comerciais sem os custos das operações de câmbio e da variável taxa de câmbio. Da mesma maneira, os EUA ainda continuariam com política ativa de salários, sem precisar de uma massiva onda de desemprego no país. Isso naquele momento parecia óbvio. Somente quando o cenário global começou a piorar, as avaliações tomaram outro rumo e um novo alcance, atingindo o Caribe e a China, com a mão de obra ainda mais barata que a mexicana, e sem tantos requisitos legais para diminuir as condições de trabalho até certo ponto desumano.

Fazendo a previsão de um cenário futuro, como mencionado anteriormente, a tendência é que a economia americana e a manufatura venham a cair ainda mais, pois o mercado chinês vem em alta velocidade atropelando as produções de bens de consumo, e o detalhe é que a qualidade vem sendo jogada de lado, e o preço baixo esta falando mais alto e ainda continuará por um período indeterminado. Isso porque eu ainda não quero entrar na questão de que a China é o maior credor dos EUA e vem “governando” os EUA economicamente, pois ninguém seria inocente a ponto de achar que a China permitiria seu maior devedor fazer acordos bélicos ou mesmo financeiro/econômicos com inimigos chineses. Parece ser lógico que não ! Isso sem contar com Brasil, Índia e Rússia que vem ganhando espaço nas margens, “comendo pelas beiradas”, como se diz.

Estando na posição do presidente Barack Obama, do Secretário do Tesouro Thimoty Geithner, ou ainda do “chairman” do Federal Reserve Bank, Ben Bernanke, eu apostaria todas a minhas fichas para um especialização da mão de obra americana na produção de serviços, procurando oferecer um “outstanding range” de serviços para comercio mundial para melhorar a economia nacional, caso ao contrario, querer ficar querendo melhorar a economia na produção de bens, que os próprios americanos não consomem, seria, como se diz, “dar murro em ponta de faca”.

A Fender: a trajetória de um mito no mercado de guitarras

(Giuliano Michida)

A Fender é hoje a maior fabricante de guitarras e baixos do mundo. Sua história data de 1946. Desde então, têm revolucionado o mundo da música em todos os gêneros musicais, do rock ao jazz, do samba ao blues e todos os demais estilos e ritmos. Iniciantes, profissionais e os mais aclamados musicistas, todos se lembram da marca Fender quando o assunto é qualidade de instrumentos musicais.

Mas nem sempre foi assim, a Fender passou por vários momentos turbulentos ao longo de sua história, como sua venda em 1965, por seu fundador Leo Fender, que então com problemas de saúde, não teve outra alternativa a não ser vendê-la para o grupo de televisão CBS, muito interessada na época, mas que nada entendia de guitarras e das necessidades de seus clientes. A Fender passou então por um momento de crescimento e prosperidade enorme nas próximas décadas devido ao vultoso investimento realizado pela CBS, porém a falta de entendimento acerca dos desejos dos músicos aos poucos foi se tornando aparente.

Com a recessão da economia americana no final da década de 70, aliada aos problemas dos déficits do pós-guerra do Vietnam, causando muita instabilidade cambial, a empresa, no início dos anos 80, acabou por finalmente perder sua posição de mercado para novos concorrentes que surgiam no mercado mundial, que contavam com o estímulo de insumos e matérias-primas muito mais baratas. Nesse momento, por exemplo, o Brasil exportava madeira de altíssima qualidade a preços baixíssimos e era um dos principais fornecedores de madeira para a fabricação de guitarras por todo o mundo.

Os resultados de estagnação deste segmento de mercado do começo dos anos 80 foram também consequências das mudanças no cenário mundial, principalmente no mercado consumidor de guitarras. Alguns especialistas alegam, inclusive, que a invenção do vídeo-game foi um dos grandes problemas para o mercado de guitarras no mundo, uma vez que os jovens da época passaram a consumir jogos eletrônicos ao invés de instrumentos musicais. Mas a empresa ignorava as exigências dos grandes clientes e músicos e não percebia suas necessidades, apostando somente na produção em massa, enquanto o resultado de vendas mostrava que o caminho do mercado não era mais esse e que o consumidor estava mudando seu padrão de consumo. A CBS chegou a reduzir seu quadro de funcionários drasticamente e fechar plantas de fabricação de guitarras alegando que tinha outras prioridades na área de mídias e entretenimento.

Em 1984, porém, alguns funcionários muito antigos e fiéis à empresa, percebendo que a CBS não estava muito interessada em fabricar guitarras com qualidade e percebendo que existia uma demanda contínua pelo produto, desde que, claro, algumas exigências mínimas fossem atendidas, cobrando, entre outras coisas, qualidade, atendimento qualificado, assistência técnica, garantias de fabricação e pós-venda. Dessa maneira, os consumidores voltariam a comprar a Fender, revertendo a tendência de perda de participação no mercado,. Esse pequeno grupo de funcionários dedicados liderou o processo de retomada da qualidade, adquirindo a tradicional empresa, voltando a fabricar e vender as melhores guitarras do mundo, agora sob o nome de FMIC (Fender Musical Instruments Corporation).

A nova Fender, de início, com seu quadro reduzido de funcionários, teve que começar do zero, pois as máquinas não estavam incluídas na venda da empresa. Ela, então, terceirizou e internacionalizou sua produção nos anos subseqüentes, passando a produzir no Japão, Coréia, Indonésia, China, Brasil e México, como estratégia para ter acesso a insumos mais baratos e fugir da cara mão de obra americana. O cenário na época favorecia a prática, e a grande maioria das empresas americanas já se utilizavam deste recurso. Aqui no Brasil, o período coincide com a abertura de mercado dos anos 90, com o a chegada de investimentos do exterior e com o surgimento de uma nova ordem econômica globalizada. A Fender não tinha clareza, na época, das principais diferenças entre as condições de trabalho na China e no Brasil, por exemplo, baseando suas decisões de investimento apenas nos custos de fabricação, no risco país e no que nas notícias que circulavam à respeito da situação econômica gerais dos países.

Posteriormente, por questões de posicionamento de mercado e de qualidade, e com uma saúde financeira melhor, decidiu-se abrir uma planta na Califórnia para fabricar as peças mais caras, empregando mão-de-obra especializada, pois o câmbio favorecia a exportação de produtos produzidos em solo americano.

Como estratégia complementar, o passo seguinte foi abrir outra planta, porém no México, onde poderiam contar com mão-de-obra mais barata e rapidamente transportar peças com menor custo para a planta da Califórnia, abastecendo o faminto mercado doméstico americano, enquanto as peças produzidas no oriente abasteceriam o mercado asiático e parte do mercado europeu e também suprir a matriz com peças. A empresa passou a recuperar seu prestígio já na década de 1990, mas logo a empresa percebeu novas alterações no padrão de consumo de guitarras no mundo, devido ao início da disseminação da internet e da globalização produtiva, que oferecia a concorrência de similares com preço mais baixo direcionados principalmente aos consumidores do chamado terceiro mundo.

Dessa maneira, decidiu-se então interromper os negócios com Brasil e Coréia, pois os fatores de produção do Oriente (baixo custo de mão-de-obra, utilização de peças baratas, irregularidades fiscais e etc.) ocasionaram perdas significativas de mercado para empresa nestes mercados.

Para contra-atacar a pirataria e a significativa perda nos mercados externos a Fender decidiu mudar seu tradicional logotipo, e reduzindo custos conseguiu lançar novas linhas de produtos baseados nos modelos de guitarras clássicas, já consagradas, porém com leves modificações, e algumas inovações tecnológicas, porém com preços mais acessíveis ao público, empregando quase a mesma qualidade das peças das linhas mais caras e refinadas e usando a assinatura de artistas famosos para atrair consumidores e cuidando do marketing através da valorização da marca. Esta valorização se deu principalmente através da linha Custom Shop, a linha mais cara da Fender destinada aos clientes e artistas mais exigentes e que trazia o maior valor agregado e o maior suporte e cuidados ao consumidor final, o que fez com que a marca voltasse ao patamar de líder mundial no segmento.

Hoje o centro operacional da Fender encontra-se em Scottsdale, Arizona e a gerência de fabricação encontra-se em Corona, Califórnia, assim como o centro Custom Shop. Mesmo com todos os problemas, até hoje o “top of the mind” em guitarras ainda é a marca Fender.

A empresa hoje está voltada a atender principalmente o mercado interno americano, com uma atuação mais protecionista, com leve abertura a mercados externos e bastante cautela com a representação comercial em outros países na Europa e na América do Sul, incluindo o Brasil, onde sua representação e distribuição é realizada através da empresa importadora Pride Music Ltda.

Devido ao protecionismo do mercado americano e pelas barreiras alfandegárias e tributárias do nosso país, os produtos passaram a chegar ao Brasil com valores exorbitantes se comparados com os valores originais em dólar de produtos vendidos no mercado dos Estados Unidos, o que motivou o mercado consumidor brasileiro à optar por consumir produtos similares produzidos no mercado interno que têm crescido significantemente na última década e onde o consumidor local pode contar com serviços de assistência técnica e garantias do fabricante local, além de facilidades de pagamento motivados pela oferta de linhas de crédito e da atual situação de crescimento econômico no Brasil.

(fontes: http://www.Fender.com.br e http://www.Wikipedia.com)

O futuro da Energia

(Juliana Chimenes de Melo)

setembro de 2011

Com o aumento dos níveis de consumo na economia mundial, fruto do crescimento econômico nos Estados Unidos, China e vários países emergentes, a demanda global de energia cresce cada vez mais. Por exemplo, entre 2000 e 2008, o consumo de energia na China duplicou e, em 2009, o país se tornou o maior consumidor de energia do mundo. O aumento foi provocado por obras de infraestrutura, novas fábricas e pelo aumento do consumo doméstico, especialmente de carros e eletrodomésticos. A demanda por energia na Ásia continuará crescendo fortemente nas próximas décadas e, até 2030, estima-se que o consumo de energia na região será maior do que o da Europa e América do Norte juntas.

Para suprir a demanda de energia da Ásia, Américas e África, será necessário aumentar a produção de energia em cerca de 30% até o ano de 2030, o que representa, na realidade, um grande desafio.

Nos anos 70, o petróleo, o carvão e o gás natural eram as três principais fontes energéticas do planeta e, ainda hoje, correspondem a 81% da oferta. Nos próximos 20 anos este número deve cair para 75%. A energia nuclear atraiu nossa atenção no último ano devido a crise no Japão. Na década de 70, ela representava uma fatia de apenas 1%, enquanto hoje este percentual cresceu para 5,8%.

A construção de infraestruturas no setor de energia pode levar anos, mobilizando imensos recursos financeiros. A lenta capacidade de resposta, aliás, é uma característica específica deste setor, pois os investimentos não acontecem de uma hora para a outra.

As energias renováveis, responsáveis hoje por 12% da energia global, até 2030 deverão representar cerca de 17%. Este tipo de energia está em destaque nos países emergentes. Em 2010, o volume total de energia eólica instalada nos países em desenvolvimento, principalmente China e Índia, superou o dos Estados Unidos e o da Europa juntos. A China será o país que mais investirá em fontes renováveis de eletricidade até 2035, aproximadamente 1,4 trilhão de dólares. A Índia, além da energia eólica, está incentivando fortemente a energia solar.

Entretanto quem estará em destaque nos próximos anos será o gás natural, que entre os fósseis, é o mais limpo. O gás natural emite somente metade da quantidade de gás carbônico que emite o carvão e 40% menos do que o petróleo. A Rússia possui as maiores reservas de gás natural do mundo, assim como o Brasil, que também possui grandes reservas no pré-sal, e ambos poderão se beneficiar nos próximos anos.

Os asiáticos e os países emergentes deverão se constituir nos propulsores do mercado consumidor de energia nas próximas décadas, e isto se deve ao fato de que quando um país cresce economicamente, como conseqüência, aumenta também o consumo e a demandas por habitação, transporte e energia.

A China já é a líder na importação de petróleo do Brasil. Em 2004, eles ocupavam a sexta colocação entre os maiores clientes do Brasil, ficando atrás de Chile e Portugal. Recentemente o Brasil também vem aumentando seu comércio de petróleo com a Índia. E em relação aos nossos vizinhos Argentina e Uruguai, desde 2004 estão constantemente importando energia do Brasil.

Com o aumento da demanda em todo o mundo por combustível limpo, o Brasil também pode ganhar seu espaço, uma vez que possui potencial para atender uma parte desta demanda. Entretanto, com a demanda interna em constante crescimento, o Brasil tem exportado menos etanol nos últimos anos.

O Brasil possui uma vantagem comparativa na produção em recursos naturais e um potencial energético único. As reservas nacionais de petróleo e gás natural equivalem a 16,9 bilhões de barris, número que poderá dobrar até 2020. No Brasil se produz 90.000 megawatts de energia elétrica nas usinas hidrelétricas, mas há potencial para 170.000 megawatts. Há também o etanol, a energia eólica, a energia solar e a biomassa de cana. Toda esta riqueza em recursos naturais pode colocar o Brasil como uma potência energética, porém alguns obstáculos terão que ser superados.

Hoje há falta de etanol nos postos de combustível do país e há a ocorrência de custos oriundos da falta de infraestrutura de armazenagem para reduzir a variação de preço ao longo do ano, o que requer que o governo defina uma política clara para o etanol e não só para o etanol, mas defina também uma política para a eletricidade gerada da biomassa da cana.

Também deverá ser preciso a adaptação da rede para receber a energia da indústria eólica. Hoje, o que o país possui de capacidade instalada é muito pouco. Também não existe ainda uma diretriz clara para a energia fotovoltaica, que converteria a energia do sol em eletricidade.

Estes são exemplos de que se o Brasil não se atentar, poderá não aproveitar o momento, que é uma grande oportunidade para se destacar na geração e fornecimento de energia, para um mundo no qual a demanda possui grandes previsões de crescimento nas próximas décadas.

Esta é uma grande oportunidade para o país ganhar competitividade no mercado global de energia, se especializando cada vez mais, podendo assim aumentar sua produtividade e aumentar o volume de exportações no setor.

O déficit americano: sustentável ou não ?

(Gabriela Branco)

setembro de 2011 

País cuja economia e moeda são, ao longo da história moderna, referências de crescimento e liquidez, respectivamente, porém enfrentou uma crise em 2008 devido ao crédito imobiliário entre outros e atualmente enfrenta um crescimento abaixo do esperado, sobretudo diante da expectativa de risco da população frente ao conflito do déficit X política.

Como líder de mercado no setor tecnológico, os Estados Unidos concentram seu diferencial competitivo em produtos de alto valor agregado como máquinas e equipamentos. Alguns de seus principais desafios são o acordo acerca do teto da dívida bem como a decisão de onde serão cortados os gastos (setor social ou militar) entre Republicanos e Democratas em benefício da economia sustentável, reconquistar a confiança da população / consumidores e diminuir gastos excessivos como os destinados ao serviço militar até mesmo em prol de uma conduta ou política mais pacificadora.

Uma das grandes saídas pode ser de fato aumentar o teto da dívida dos títulos do tesouro (déficit) em detrimento do investimento nos setores mais performantes dando um enfoque monetário à Balança de Pagamentos, isto é, levando em consideração o risco e remuneração quase "zero" dos EUA em virtude da liquidez de sua moeda.

Analisando as hipóteses explicativas e as perspectivas, tratando-se de uma economia aberta (aproximadamente 25% de abertura), nota-se uma limitada dependência da economia mundial, e muito mais dos seus próprios mercados domésticos. Do lado das importações, trata-se de um país  importador basicamente de produtos de baixo valor agregado e produtos agrícolas muitas vezes oriundos de países para os quais deslocou produtividade (outsourcing elevado na China e Índia, por exemplo).

Possui como uma de suas “vantagens absolutas” a liquidez da moeda (dólar americano). E como uma das principais vantagens comparativas, a disponibilidade de tecnologia e de capital instalado. Como diferencial dos concorrentes internos pode-se apontar os chamados clusters como o Vale do Silício.

Analisando a relação entre oportunidades X ameaças, destaca-se a especialização cada vez mais crescente no ramo de tecnologia, por um lado, e o excedente interno de mão de obra altamente qualificada, o que pode aumentar o desemprego.

Permanece a lógica da especialização – racionalização – concentração – produtividade – competitividade, mas além da vantagem absoluta de Adam Smith, da vantagem comparativa de David Ricardo, da abundância de recursos e fatores e não somente o fator produtivo de Heckscher Ohlin, há também a existência da nova teoria do comércio de “deslocalização produtiva”, teoria do ciclo do produto e ainda a preferência por circuitos industriais densos que às vezes são pouco dotados de fator de produção competitivo cada vez mais de caráter transacional.

Composição do comércio exterior mais relacionado ao fluxo de capitais. Vendem-se títulos, investe-se em produtos de alto valor agregado e os exporta, importam-se os produtos de menos valor agregado.

Algumas das maneiras de desenvolver ou criar mais vantagens comparativas são investir cada vez mais em pesquisa e inovação, com o crédito subsidiado, por exemplo.

Como conclusão, pode-se citar a tendência de crescimento lento mais estável a longo prazo, cenário que pode melhorar se houver concordância política entre Democratas e Republicanos, fato que entre outros amenizaria a sensação de risco do mercado e retomaria a expectativa de ganho e conseqüentemente o consumo.

Nesse sentido, a Balança de Pagamentos pode até apresentar déficit, desde que a economia nacional consiga financiar esse déficit a um custo razoável mediante a absorção de capitais internacionais (tanto pelo setor público quanto pelo privado), pois dessa forma é perfeitamente possível manter o nível elevado de consumo e de investimento vigente. Contudo, os gastos dos agregados econômicos, a saber: gasto do governo, consumo privado e investimentos x poupança e resultado da balança comercial precisam ser bem administrados.

As perspectivas para a Vale

(Camila Gonsalves)

setembro de 2011

A Vale é a maior produtora de minério de ferro do mundo e a segunda maior de níquel. Foi criada em 1942, é uma grande empresa privada, de capital aberto. Com sede no Brasil, na cidade do Rio de Janeiro, e ações negociadas na Bolsa de Valores de São Paulo (BM&FBOVESPA), na bolsa de valores de Paris (NYSE Euronext), na bolsa de valores de Madrid (Latibex), na bolsa de valores de Hong Kong (HKEx) e na Bolsa de Valores de Nova York (NYSE), integrando o Dow Jones Sector Titans Composite Index, está presente também em 38 países e emprega diretamente mais de 119 mil pessoas em todo o mundo e outras 54 mil em projetos.

O Conselho de Administração da Vale é controlado pela Valepar S.A, que detém 53,3% do capital votante da Vale (33,6% do capital total). Por sua vez a constituição acionária da Valepar é a seguinte: Litel/Litela (fundos de investimentos administrados pela Previ) com 49% das ações, Bradespar com 17,4%, Mitsui com 15%, BNDESpar com 9,5%, Elétron (Opportunity) com 0,03%. Se considerarmos as ações da Previ - Caixa de Previdência dos Funcionários do Banco do Brasil, de gestão compartilhada, (cuja diretoria é subordinada ao Conselho Diretor da Previ, composto por três representantes indicados pelo Banco do Brasil e por três representantes eleitos por voto direto pelos participantes do plano - funcionários da ativa do Banco - e assistidos - funcionários aposentados e pensionistas) e do BNDES como de alguma influência do governo federal, este influencia, por posse ou indicação, cerca de 41% do capital votante (incluindo participações externas à Valepar). Se incluirmos a participação do Bradesco e dos investidores brasileiros, 65% do capital votante da empresa se encontram no país.

Em relação às ações da empresa, Petrobras PN (PETR4) e Vale do Rio Doce PNA (VALE5) são as duas ações mais negociadas na Bolsa de Valores de São Paulo.

Os títulos das duas empresas respondem, em média, por 26% de todos os negócios fechados na Bovespa. Apesar dessa importância e de as duas terem um volume de negócios muito parecido, R$ 12 bilhões por mês em média, os profissionais de mercado preferem a Vale.

O minério de ferro é o principal produto de exportação do Brasil em termos de receita, carreou para o País US$ 28,91 bilhões em 2010, segundo os últimos números divulgados pela Secretaria de Comércio Exterior (Secex), um aumento de 117,4% em relação ao ano anterior. O volume das vendas cresceu, mas esse salto foi proporcionado principalmente pelas altíssimas cotações do produto no mercado internacional, que tendem a se manter elevadas neste ano. Como resultado, os royalties pagos aos Estados e municípios pelas mineradoras, por meio da Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais (CFEM), superou, pela primeira vez, a casa de R$ 1 bilhão, ficando Minas Gerais com R$ 534 milhões e, em segundo lugar, o Pará com R$ 314 milhões. É um bom reforço para as finanças de ambos os Estados e para os municípios produtores, mas há queixas de que a alíquota da CFEM, de 2% sobre o faturamento líquido da produção de minério de ferro, é insuficiente para cobrir os encargos públicos decorrentes da exploração das jazidas.

A Vale projeta um crescimento anual de pouco mais de 16% ao ano de 2011 a 2015, superior aos 9,8% registrado nos anos entre 2003 e 2008. Atingindo uma produção superior a 500 milhões de toneladas de minério por ano até 2015.

É importante se observar que a Vale além de ajudar a impulsionar a economia do país também se preocupa com a sustentabilidade, algo que atualmente está em alta e é de extrema importância, publicando os relatórios de sustentabilidade que prestam contas à sociedade sobre a gestão da companhia e selam compromissos para o avanço de suas práticas. Com essas publicações, a Vale reafirma o compromisso com a transparência de suas atividades e com o aprimoramento de sua administração.

O documento foi preparado de acordo com a metodologia da Global Reporting Initiative (GRI), padrão adotado internacionalmente, e foi classificado com A+, nível máximo de transparência. O relatório trata de aspectos sociais, econômicos e ambientais por meio de dez temas considerados importantes para os públicos internos e externos com os quais a nossa empresa se relaciona. É a chamada "matriz de materialidade", composta pelos seguintes assuntos: comunidade, mudanças climáticas, energia, água, saúde e segurança, emissões, resíduos, gestão de talentos, desenvolvimento de fornecedores e uso da terra.

A Vale, assim como as demais empresas brasileiras, está abrindo o caminho para sua internacionalização (o que ocorre, aliás, com as demais multinacionais latino-americanas). Ainda têm muitos passos a dar para consolidar este processo, posto que apesar deste avanço recente, a expansão internacional das companhias brasileiras acontece com quase um século de atraso em relação a empresas norte americanas e europeias, que impulsionaram sua internacionalização logo após a Primeira Guerra e, cerca de duas décadas depois de indianos e chineses. O movimento de crescimento internacional das empresas brasileiras se deu, sobretudo a partir do início do novo milênio, em função de alguns fatores preponderantes, dentre os quais destacam-se a valorização do real, o fim da inflação, a estabilidade dos fundamentos macroeconômicos do país, o fortalecimento da Bolsa de Valores de São Paulo, a qualidade de gestão destas empresas de capital aberto e a competência dos executivos ("managers chandlerianos") destas novas multinacionais. Entretanto, o aprendizado inicial já lhes permite ter um conhecimento do mercado mundial, constituir equipes de executivos "expatriados" que adapta os bens imateriais das empresas do Brasil aos respectivos países estrangeiros, acessar novas tecnologias e matérias primas, assim como atender aos cada vez mais exigentes consumidores internacionais.

A expectativa da Vale é que os preços do minério de ferro continuem subindo por pelo menos mais 15 ou 20 anos. Essa previsão foi feita com base nos ciclos históricos de preço do insumo. Uma eventual recessão global também poderia afetar esse mercado, assim como um crescimento menor da China. Mas acredita-se que o reaquecimento da economia chinesa, que vem se reafirmando desde a segunda metade de 2010 vai elevar a demanda por minério de ferro no mundo.

O crescimento do mercado consumidor em países emergentes é visto como principal motor da recuperação mundial da crise financeira que ainda afeta países desenvolvidos, e, por isso, também deve ter impacto sobre o consumo de minério de ferro. É a restrição da oferta que vai pressionar os preços do minério de ferro.

O Brasil no mercado internacional de lácteos

(Murilo Rossener)

setembro de 2011


O cenário mundial do setor agroindustrial do leite passou por diversas mudanças nas últimas décadas. Para os países da América do Sul a mais significativa foi a formação do MERCOSUL que permitiu uma maior abertura de mercado. Nacionalmente, o setor leiteiro também se favoreceu com a implantação do plano real em 1994, que proporcionou um maior poder aquisitivo ao consumidor, viabilizando aumentos de produção e promovendo a autossuficiência produtiva de leite do país.

Fazendo uma breve análise de mercado, os produtos lácteos tem boa aceitação no mercado mundial e a demanda por eles pode crescer por fatores como o aumento demográfico, crescimento de renda, redução de preços, desenvolvimento de produtos concorrentes ou substitutos e mudança nos hábitos alimentares.

Segundo dados da FAO Global Market Analysis (2011), atualmente os maiores produtores de lácteos do mundo são os países da União Européia que em 2010 produziram cerca de 154,9 milhões de ton/ano, seguidos de Índia (114,4 milhões ton/ano), Estados Unidos (87,5 milhões ton/ano) e China (43,4 milhões ton/ano). No ranking o Brasil aparece na sétima posição com 29,8 milhões ton/ano.

Apesar de todo potencial de produção, a União Europeia aparece em segundo lugar como exportador de produtos lácteos com um volume anual de 11,6 milhões de toneladas, ficando atrás da Nova Zelândia, oitavo lugar no ranking mundial em produção com 17 milhões de ton/ano dos quais exporta 13,9 milhões. Apesar de a Nova Zelândia ter sua vantagem na genética dos animais que produzem um leite de altíssima qualidade, tem sua capacidade de produção limitada por ter grande parte do leite produzido por pequenos produtores que não têm estrutura para responder à demanda crescente. O Brasil aparece em 14° no ranking mundial, ao lado de países como Rússia, Filipinas e Malásia, atrás de seus vizinhos Uruguai (9°) e Argentina (6°).

O cenário brasileiro, apesar de ser um dos maiores produtores de leite do mundo, vem sofrendo para manter suas exportações de produtos lácteos. De acordo com a curva traçada pelo Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior(2010), o Brasil teve um crescimento constante no volume de exportações de 1996 até 2008, onde atingiu o recorde de US$263 milhões em vendas externas somente no primeiro semestre . Em meados da crise mundial neste mesmo ano essa taxa sofreu uma queda drástica e permaneceu em queda livre daí por diante.

Atualmente o país apresenta um nível elevado de importações provenientes de seus vizinhos Uruguai e Argentina. De acordo com dados recentes da Organização das Cooperativas Brasileiras, no primeiro semestre de 2011 o Brasil importou US$ 274 milhões e exportou apenas US$57 milhões.

Esse mix de abertura econômica e valorização do real diante o dólar estimulou sobremaneira as importações ocasionando prejuízo aos produtores nacionais que tiveram que arcar com as consequências além de sofrerem de grande desvantagem competitiva promovida no país pela alta carga tributária.

Diante desse cenário o governo brasileiro poderia estabelecer uma política protecionista não-radical estabelecendo quotas para a entrada de leite oriundo da Argentina e Uruguai, assim como foram estabelecidas por eles na entrada do frango brasileiro em território argentino e uruguaio visando proteger a produção nacional. Isso por sinal já vem sendo pauta de negociação pelos países.

Em busca da vantagem comparativa em meio ao custo de oportunidade

Além das altas cargas tributárias o fator qualidade pesa na aceitação do produto fora do país e explicita a necessidade de uma maior especialização, pois o leite brasileiro ainda não atinge os níveis de exigências de países europeus e Estados Unidos. Justamente por visar um melhor produto é que se torna necessária a adoção da prática de gratificação por qualidade no Brasil, ou seja, o produtor que oferecer um leite diferenciado receberá uma bonificação que o estimulará sempre a produzir em um padrão superior. Isso já vem sendo adotado em parte do país, porém torna-se viável ampliar a prática para todo o território nacional.

Apesar de não se mostrar competitivo no mercado de lácteos internacional de um modo geral, o mercado nacional apresentou boa aceitação na categoria leite em pó em um passado próximo, tanto que em 2008 no auge das exportações chegou-se a mover de janeiro a julho deste mesmo ano o montante de US$197.644,30 (MDIC/AliceWeb -2008). Neste período a Venezuela era responsável por 38% do volume de exportação de leite em pó, contudo com a valorização do real e a baixa competitividade, a importação do produto de nações vizinhas tornou-se uma alternativa viável até mesmo para o Brasil, que consegue importar leite em pó mais barato que o seu próprio.

O outro lado da moeda

Se por um lado vemos ameaças pela invasão de mercado do leite vizinho, por outro podemos visualizar uma vantagem a ser aplicada no mercado interno: o produto importado chega mais barato e isso aumenta a competitividade e a lucratividade das empresas.

É preciso considerar que os produtos lácteos não são o carro-chefe das exportações no Brasil e para a economia brasileira pode ser saudável aproveitar-se da atual situação cambial para importar do mercado externo um item que não possui uma vantagem absoluta e inclinar-se a setores que sejam mais competitivos internacionalmente como o mercado de cana de açúcar, soja, entre outros.

Outra alternativa que apesar de viável torna-se bem mais cara, seria fortalecer o mercado lácteo interno até o patamar de se tornar um produtor com reconhecimento mundial, mas para isso é necessário contar com o empenho de todos os produtores nacionais movendo-se uniformemente para o ganho de qualidade, contando com o apoio integral do governo na concessão de subsídios e amenização de impostos.

( fontes: www.milkpoint.com.br; www.potaldoagronegocio.com.br )

O estudo do caso Zara

(Marina de Melo Lopes)

setembro de 2011

A Zara é uma das maiores empresas de moda do mundo. Ela pertence ao grupo de distribuição Inditex – que também engloba marcas como Massimo Dutti, Pull and Bear, Stradivarius e Bershka. A Zara é uma marca de roupas e acessórios que foi fundada em 1975 por Amancio Ortego e Rosalía Mera em Arteixo, cidade fica situada na região da Galícia, Espanha. 


A premissa da loja era a de apresentar aos clientes roupas com preços baixos, porém de boa qualidade; o que se tornou rapidamente um sucesso, fazendo com que seus donos abrissem novas lojas pela Espanha. Nos anos 1980, Amancio Ortega melhorou o aproveitamento das tecnologias de informação na empresa e passou a utilizar grupos de designers para modificar os processos de confecção, distribuição e design da marca com o intuito de reduzir o tempo de produção e reagir a novas tendências mundiais mais rapidamente. A partir dessa mesma década, a marca começou a expandir internacionalmente, começando com Portugal, seguida dos Estados Unidos e da França. Nos anos 1990, a expansão aumentou ainda mais para países como México, Grécia e Suécia. Atualmente, a Zara conta com lojas em mais de 73 países. Na maioria desses países, as lojas são da própria empresa, com a exceção dos países que não permitem negócios de propriedade estrangeira – nesse caso, são franquias. Atualmente, a marca conta com roupas e acessórios para homens, mulheres e crianças. Em 2010, o grupo Inditex anunciou o lançamento de uma loja virtual da Zara em diversos países, como Espanha, Portugal, Itália, Reino Unido, Alemanha, Áustria, Irlanda, Bélgica e França.
Seu modelo de negócios é diferente de seus concorrentes, pois praticamente todo o processo de suply chain é controlado pela empresa, como design, produção, distribuição e vendas através de uma rede extensiva de varejo. Este modelo permite que a marca seja autossuficiente nas etapas de fabricação, conclusão do produto e distribuição do mesmo, sendo capaz de entrega-los às lojas do mundo inteiro em poucos dias (aproximadamente de 4 a 5 semanas). As demais empresas desse ramo demoram uma média de seis meses para criar e distribuir seus produtos. Além disso, ela lança 11.000 designs novos por ano, enquanto as demais empresas produzem 2.000 a 4.000 designs por ano. 

Essas características demonstram que o ciclo de vida do produto é menor se comparado aos concorrentes, o que significa que a chance de atender às preferências do consumidor é maior. Se o design não atende às expectativas dos clientes dentro de alguns dias, este é descartado e dá-se início a uma nova produção de um novo design. Cada gerente de loja, independente do pais em que estiver, tem autonomia para descobrir o que faz sucesso ou não com a sua clientela e pedir à matriz os modelos, cores e tamanhos que mais vendem. 

Outra política pouco convencional da empresa é o fato de ela não investir muito pouco com propaganda - ela gasta cerca de 0,3% do seu rendimento, enquanto os demais gastam cerca de 3,5% - ao invés disso, a firma adotada outra estratégia, que é a investir esse o dinheiro abrindo mais lojas. Para muitos, a Zara é uma exceção no mundo dos negócios, pelo fato de ter conseguido prosperar com o mínimo de propaganda, marketing e terceirizando muito pouco sua produção para países com mão de obra barata, como pode-se ver abaixo.

Cerca de 50% dos seus produtos são manufaturados na Espanha, 26% no resto da Europa, sendo apenas 24% produzidos na Ásia, África e no resto do mundo. A maioria dos concorrentes transferiu sua produção para países cujo custo é mais baixo, porém a Zara, aparentemente, sempre resistiu a essa tendência, produzindo a maior parte dos seus itens na Espanha e em Portugal. Os itens considerados mais baratos, como camisetas básicas são feitos na Ásia e na Turquia. 

Esse estratégia é considerada muito arriscada para muitos analistas, tendo em vista a alta competitividade deste ramo de negócios, e, ao fabricar 76% de seus produtos em países cuja mão de obra e matéria prima são particularmente altas, a Zara corre um grande risco de perder competitividade. Independente do fato de priorizar o continente de origem e de seus concorrentes utilizarem mão de obra que às vezes podem ser consideradas duvidosas e beirando a escravidão, sabemos que, infelizmente, isso não conta no mundo dos negócios.

No dia 16 de agosto de 2011, um escândalo envolveu a Zara aqui no Brasil. Ela foi acusada de subcontratar empresas terceirizadas que se utilizam de trabalho escravo em São Paulo. No dia seguinte, a Superintendência Regional do Trabalho e Emprego de São Paulo fechou a fábrica do terceirizado que produzia roupas para a marca espanhola. Bolivianos eram trazidos ilegalmente ao Brasil, trancafiados em apartamentos pequenos e costuravam roupas de 12 a 14 horas por dia. Eles não tinham permissão de sair do apartamento sem o consentimento do supervisor e não possuíam comida nem água quente para tomar banho. Eles recebiam 1 dólar por cada vestido que costuravam, e desse valor era descontado o aluguel do apartamento e o valor do transporte da Bolívia para o Brasil. Por mês, eles recebiam menos que 100 dólares de salários. Os representantes da Zara argumentaram que se tratava de uma "terceirização não autorizada", ou seja, uma "quarteirização", e que as acusações representam uma falha séria no acordo com o Codigo de Conduta para Fabricantes Externos e Work-shops da Inditex. Eles também disseram que todas as fábricas terceirizadas responsáveis por re-terceirizar sem permissão foram solicitadas para regularizem imediatamente a situação com os empregados envolvidos, sob pena de cancelamento dos contratos vigentes.

O caso causou mal-estar no setor, e pode estar ligado ao problema da corrida pela competitividade enfrentado pelas empresas desse ramo têxtil. 
Apesar de possuir vantagens competitivas com seu modelo de negócios, a concorrência vem aumentando cada vez mais, não só com os concorrentes da marca optando por terceirizar sua produção em países com mão de obra mais barata, como a H&M que tem parte de sua produção no Cambodja, mas também com o fortalecimento da China no setor fabril e o surgimento ou fortalecimento no âmbito internacional de outras marcas, como Marks & Spencer, C&A e Benetton. Como pode-se ver, a Zara tem questões atuais a enfrentar como a perda de competitividade, o aumento da concorrência não só estrangeira, como já foi falado, mas também local, com marcas emergentes como a Desigual. Além disso, há também a questão da crise considerável em que a Espanha e os demais países europeus se encontram.

A tendência futura da Zara, na minha opinião é a de um crescimento um pouco mais lento, considerando todas as variáveis já discutidas previamente. O crescimento ocorrerá, devido ao fato de a Zara, mesmo com todos os desafios, continuar sendo uma empresa incomparável, com preço acessível, rapidez, agilidade, qualidade e bom gosto.

A expansão da China e o mercado de aviação: o tigre asiático se prepara para atacar

(Hellen Cecília Dias)

junho de 2012

A China possui atualmente uma das economias que mais crescem no mundo. A média de crescimento nos últimos anos é de quase 10% ao ano. Uma taxa superior a das maiores economias mundiais, e inclusive a do Brasil.

O Produto Interno Bruto (PIB) da China atingiu US$ 6,05 trilhões ou 39,8 trilhões de Yuan em 2010, fazendo deste país a segunda maior economia do mundo (apenas atrás dos Estados Unidos). A China é ainda um dos maiores importadores de matéria-prima e o maior produtor mundial de alimentos: 500 milhões de suínos, 450 milhões de toneladas de grãos; dentre eles milho e arroz. Em 2010, a balança comercial chinesa foi positiva em US$ 190 bilhões, com exportações de US$ 1,58 trilhão e importações de US$ 1,39 trilhão.

Tal crescimento é resultado da implementação bem sucedida de um plano de metas para o desenvolvimento econômico e modernização da China, realizado em 1987, sob a liderança de Deng Xiaoping.

O plano era composto por uma estratégia de crescimento com objetivos de longo prazo, dentre eles: dobrar o PIB Chinês relativo a 1980 e garantir a alimentação e o vestuário para todos os cidadãos, o segundo passo seria quadruplicar o PIB relativo a 1980 em 1999, com a entrada na economia de mercado, e o terceiro passo, segundo o governo Chinês, seria aumentar o PIB per capita para níveis de países em desenvolvimento até 2050, com a abertura econômica do país.

Foram realizados diversos planos de governo para iniciar uma abertura de mercado na China, com o objetivo de atrair investimentos estrangeiros, ampliar a indústria nacional e prover o desenvolvimento do país de acordo com as metas de seu plano estratégico de desenvolvimento; tais como:
  • aumento nos investimentos na área de educação, principalmente técnica; 
  • investimentos em infraestrutura, com a construção de rodovias, ferrovias, aeroportos, prédios públicos e hidrelétrica; 
  • investimentos nas áreas de mineração, principalmente de minério de ferro, carvão mineral e petróleo; 
  • forte controle governamental dos salários e regras trabalhistas, garantindo o custo reduzido de mão-de-obra com baixos salários, fazendo dos produtos e mão de obra chineses os mais baratos do mundo, 
  • abertura da economia para a entrada do capital internacional, por meio de parcerias entre multinacionais que pretendiam se instalar no país e empresas locais, sob a condição de desenvolvimento da indústria nacional chinesa.
Com estes atrativos e possibilidades de retorno sobre o investimento, além de uma grande expectativa de crescimento do mercado interno da China, muitas empresas multinacionais, ou transnacionais se instalaram e continuam instalando filiais no país, buscando baixos custos de produção, mão-de-obra abundante e mercado consumidor amplo, tornando esta uma das maiores vantagens comparativas do país.

Com o aquecimento da economia chinesa tanto no mercado interno, quanto externo, há uma expectativa de crescimento nos investimentos em infraestrutura aeroportuária e serviços de transporte aéreo, pelas dimensões continentais do país, além de aumento da malha aérea na China.

A partir do crescimento da malha aérea voltada para o atendimento da aviação comercial, estima-se que as companhias aéreas chinesas deverão expandir sua frota de aviões para acima de 4.500 até o final de 2015 e adquirir aproximadamente 2.000 jatos de grande porte até 2025, tornando-se um dos maiores mercados do mundo.

A indústria de aviação é uma indústria estratégica que sempre é vista como um importante indicativo do nível do desenvolvimento da ciência e da tecnologia nacional, como também de sua capacidade de defesa, por isso, o governo da China anunciou que pretende investir um valor superior a US$ 232 milhões de dólares no setor de aviação civil nos próximos cinco anos.

Além da construção de aproximadamente 45 aeroportos, elevando o número total a 220 até 2015 e o fortalecimento da Indústria Chinesa de Aviação; que conta com 53 empresas de médio e grande porte, 31 institutos de pesquisa, 20 companhias e instituições empenhadas no comércio exterior, fornecimento de material, desenvolvimento de produtos, bem como de ciência e tecnologia aeronáutica.

Analisando este cenário, com expectativa de alta demanda no mercado interno chinês, empresas fabricantes de aviões, como Boeing, Airbus, Embraer e Bombardier, vislumbraram o crescimento do mercado e a instalação de fábricas ou escritórios no país para atender a este mercado potencial.

Com isso, a Embraer, terceira maior fabricante de jatos comerciais do mundo, abriu em 2002 sua primeira fábrica para produção de aeronaves comerciais na cidade de Harbin, uma joint venture entre a Embraer e a empresa chinesa estatal AVIC II (Corporação de Indústria da Aviação da China), Harbin Aircraft Industry Co. Ltd (HEAI), que inicialmente foi autorizada a produzir somente o modelo ERJ-145, de 50 passageiros, para atender as encomendas de empresas aéreas chinesas como Grand China Express, controlada pelo grupo Hainan Airlines, tendo sido fabricados 50 jatos deste modelo na planta industrial chinesa.

Tal estratégia da Embraer já indica a implementação da terceira fase da teoria de ciclo de produto, com o início da produção internacional, ou seja a sua efetiva internacionalização, e não somente o posicionamento de uma empresa transnacional.

Além da Embraer, a empresa francesa Dassault Aviation transferiu seu escritório asiático para Pequim, e a General Eletric Co. está finalizando planos para uma joint venture com uma fabricante de jatos militares chinesa para produzir aviônicos das aeronaves, este acordo com a AVIC, dará à GE acesso a um projeto do governo chinês para desafiar a Boeing e a Airbus no mercado de aviação civil.

A fabricante aeronáutica Airbus, também desenvolveu uma planta industrial na China, na cidade de Tianjin, para fabricação e montagem do jato A320, com expectativa de ciclo de produção de 4 jatos por mês em 2011 e entrega de 10 aviões de médio porte A219/320 desenvolvidos por esta unidade em 2010. Mas, com exceção da empresa brasileira, nenhuma empresa abriu uma fábrica permanente no país.

A implementação de joint ventures no país é parte do plano de desenvolvimento da industria de aviação, instituído pelo Governo Chinês, com a transferência de know-how e tecnologia de grandes parceiros e empresas multinacionais para a capacitação da industria aeronáutica chinesa, trata-se de uma barreira técnica do governo chinês para a entrada de produtos importados no país.

Mas tais acordos também têm os seus riscos, pois várias joint ventures feitas no passado na China fracassaram porque os parceiros chineses, depois de conseguirem acesso à tecnologia e ao know-how das empresas parceiras, tornaram-se poderosos rivais dos seus próprios parceiros.

Uma das barreiras protecionistas no país implementadas pelo governo são as burocracia internas e licenças de importação, que condicionam a aprovação de qualquer venda de empresas estrangeiras à aprovação do governo, além do cambio chinês, com o Yuan fixamente atrelado ao dólar.

Com isso, há a previsão de uma reviravolta na economia, porque as causas da crise financeira de 2008/2009 nos EUA não foram totalmente solucionadas, e com a desvalorização constante do dólar, muito dinheiro vem sendo impresso no país para cobrir os déficits na economia chinesa, com subvalorização do Yuan em relação ao valor do dólar.

Apesar da China ter adquirido algumas fábricas de produção, dentre as mais sofisticadas do comércio internacional e ter construído fábricas de engenharia avançada, capazes de fabricar equipamentos cada vez mais sofisticados, o que inclui armas nucleares e satélites. A maior parte de sua produção industrial ainda provem de fábricas ultrapassadas e pouco equipadas.

A China enfrenta também algumas dificuldades sociais que impendem o aumento da renda per capita no país. Considerando que boa parte da população se encontra em situação de pobreza, em função dos baixos salários, e vivem principalmente no campo, o país não investia em desenvolvimento científico e formação de mão de obra altamente qualificada para o aumento de renda e consequentemente, o aquecimento da economia no mercado interno, fato que vem sendo revisto na política interna do país.

Um outro fator de risco para as empresas que se instalam no país, trata-se da política de quebra de patentes, e o desrespeito aos direitos de propriedade intelectual na China, o qual pode acarretar em perdas econômicas em função de pirataria e apropriação indébita de projetos.

Embora a China tenha iniciado um pesado investimento para desenvolvimento de sua industria aeronáutica, o principal temor do setor aéreo é quanto a segurança das aeronaves chinesas, que em função de sua qualidade não passaram nas inspeções de qualidade de órgãos certificadores de aviação na Europa e EUA, restringindo sua operação apenas no mercado interno da China, sem possibilidade de exportação.

No entanto, mesmo para o mercado interno chinês, a industria aeronáutica local irá enfrentar barreiras, uma vez que na China a marca de um produto é fator determinante de credibilidade no público final, mais do que qualidade e preço, e este é o ponto em que a marca chinesa não tem ainda a credibilidade necessária para produtos de aviação, em relação às marcas reconhecidas como Boeing e Airbus.

A entrada dos chineses no mercado de aviação não será um risco no curto prazo, uma vez que o país ainda possui seu diferencial competitivo na manufatura de baixo custo e larga escala; mas o tigre asiático já se prepara para atacar.

Se o governo chinês investir todo o seu potencial, planejamento e orçamento para o desenvolvimento de uma indústria de tecnologia forte, qualificar tecnicamente sua mão de obra, e se adequar às legislações necessárias, com o planejamento e determinação que implementaram seu plano estratégico de desenvolvimento, é fato que dentro de 10 a 20 anos, a indústria de tecnologia chinesa terá se desenvolvido e passará a ser considerado um player internacional neste segmento de mercado, fornecendo serviços de terceirização na fabricação de aeronaves ou fabricando aviões de baixo custo para o seu mercado interno, ficando somente o desafio de mudar a sua reputação de marca em seus produtos e serviços.

Neste mesmo período, Europa e Estados Unidos ainda sofrerão com as demandas e pressões no seu mercado doméstico, com altos e complexos planos de desenvolvimento e mão de obra cara, o que irá forçar as empresas aeronáuticas a cada vez mais buscar pela fabricação de seus produtos em países de mão de obra mais barata, como a China, por isso, ainda que corram o risco de quebra de patente, aceitarão os acordos de joint venture propostos pela China, para poderem aumentar suas margens de lucro.

O mercado Europeu irá pressionar cada vez mais a ONU e os órgãos reguladores para cobrar a China com relação às legislações ambientais e trabalhistas para balanceamento do mercado internacional. O governo chinês com foco em seu plano estratégico até 2025, poderá ceder alguns pontos para ser aceito no mercado internacional e ampliar seu mercado consumidor, no entanto, ainda que cedam com relação às questões ambientais e trabalhistas, o custo da mão de obra da China ainda será baixo em função do limitado volume de benefícios concedidos pelo governo chinês em relação às leis trabalhistas europeias e americanas.

Mesmo com o aumento dos salários, a demanda de empregos por pessoas altamente qualificadas ainda terá um deficit, caso o governo não implemente um plano de educação, tal qual implantado na India, para a qualificação de mão de obra altamente especializada.

Consequentemente, em função do aumento dos custos de mão de obra e implementação das legislações internacionais, os custos dos produtos chineses aumentarão, e em contra partida os mercados muito conservadores, como a Europa, tenderão a flexibilizar suas leis trabalhistas e salários, como forma de sair da crise, diminuir o desemprego e aumentar sua produtividade.

Os próximos anos dirão se a estratégia de implementação de fábricas e joint ventures de aviação na China será reformulada ou não. Mas um princípio deve ser compartilhado por todas as maiores multinacionais do mundo: estar presente na China é uma obrigação, não importa o setor.

----------------------------

Fontes:
China and the World, World Economic Forum - COMMITTED TO IMPROVING THE STATE OF THE WORLD, 2006Apoio a Industria de aviação na China ameaça concorrentes - economia.ig Air China International - fly-airchina.com Chineses prometem avião ate 190 assentos para 2014 - defesabr.com - 14/11/2009Embraer confirma compra de jatos pelo governo chines - veja.abril.com.br - 12/04/2011Embraer completa 50 dias parada na China - hangar20.com.br - 12/06/2011China deve manter acordo com o Brasil na Aviação - politicaexterna.com - 4/03/2011O dinheiro para aviação está na China - instoedinheiro.com.brGoverno vai investir 164 mil ME na aviação civil - visao.pt - 12/07/2011Chineses, engenharia reversa na aviação - Yahoo - 25/03/2011Harbin entrega primeiro jato ERJ 145 - revista fator - 02/10/2007Airbus entrega primeiro A320 fabricado na China - jn.pt - 21/06/2011China monta jato de 90 lugares - webluxo.com.br - 21/05/2007China Airway - airway.uol.com.brAs condições da China para joint ventures - blog ning - 30/12/2010Brasil e China fazem parceria na área de aviação - agencia noticias - 02/12/2002China investira 1,5 trilhao de yuans no setor de aviação - asasbrasil.com.br - 07/04/2011www2.anac.gov.br/certificacao/Entrevista frederico curado - defesanet.net - 31/07/2011China inicia centro de montagem de programa aeronautico - ccibc.com.br - 08/06/2009