quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

A evolução do "private equity" no mercado brasileiro

(Karina Pinto)

A palavra "private" significa privado e "equity" significa ação, título. O Private Equity é um modo de atividade financeira que é realizada por instituições que investem em empresas que ainda não estão na bolsa de valores, tendo como principal objetivo alavancar o seu desenvolvimento dando um impulso financeiro à companhia. Geralmente essas empresas de capital fechado não possuem uma estrutura suficiente para optar por outras formas de captação de recursos como IPO, captações de crédito, entre outras, ou possuem estrutura, mas não estão preparadas para ter o seu capital aberto ao público.

No entanto, como definido por Metrick (2006), é possível separar-se os investimentos em private equity em dois grupos: (1) venture capital, que são investimentos, normalmente de participação minoritária, feitos em empresas embrionárias, ou seja, aquelas existentes ainda somente como forma de um plano de negócios ou em início de operação; e (2) buy-out, que são investimentos feitos em empresas que se encontram em estágio mais maduro em seu ciclo de vida e que normalmente caracterizam-se pela aquisição do controle dessas empresas.

As empresas que recebem esses investimentos possuem faturamento de dezenas e centenas de milhões de reais. Empresas de capital aberto também podem receber os recursos dos private equity. Neste caso, o capital é destinado a alterações financeiras, operacionais ou estratégicas, visando a um novo posicionamento no mercado aberto. É possível realizar esse investimento através de Fundos de Private Equity.

Os fundos de Private Equity surgiram na década de 1980 nos Estados Unidos, como uma nova opção de financiamento para pequenas e médias empresas. Consistindo na reunião, através da criação de um fundo de investimentos, de um grupo de investidores. Esse grupo adquire relevantes participações em pequenas e médias empresas, e desenvolvem parcerias ativas, participando bastante de sua administração, adicionando capital e agregando valor.

Os fundos de private equity buscam incorporar ao negócio um modelo de gestão estratégica que foge da maneira usual de comparar empresas. Os fundos de PE querem encontrar empresas com potencial e, assim, se tornarem seus sócios. Posteriormente, a fatia da empresa ou a empresa como um todo pode ser vendida. O Fundo de Private Equity ou Fundos de Investimentos em Participações – FIP constitui modalidade de fundo de investimento fechado, destinado à aplicação em ações, debêntures, bônus de subscrição e demais títulos e valores mobiliários conversíveis ou permutáveis em ações.

O alto grau de experiência dos investidores aliado à participação direta na gestão são determinantes para o sucesso do negócio. A participação dos FIPs profissionaliza a empresa e favorece a maximização de seu valor. Os benefícios vão além da concessão de acesso ao capital por parte dos empreendedores. A atuação nesse setor consequentemente contribui para a maior geração de emprego e renda, e também promove o crescimento econômico sustentável do país.

No Brasil essa modalidade de financiamento surgiu na década de 70, quando foi criada a Brasilpar, que tinha como objetivo estimular investimentos de capital empreendedor no Brasil. Em seguida, surgiu o Banco Garantia bem como diversos outros programas criados para investimento de capital do governo a fim de desenvolver a indústria brasileira.

Houve a criação do primeiro fundo de investimento com foco no mercado brasileiro e também uma instituição que regulava sobre a criação de fundos de participação voltados a empresas emergentes. Ao longo do tempo foram fundadas diversas organizações gestoras de Private Equity no Brasil. No ano 2000 foi a vez da ABVCAP, Associação Brasileira de Private Equity e Venture Capital, instituição sem fins lucrativos que fomenta o investimento de longo prazo no Brasil. Em 2003 foi instituída a Instrução CVM 391, que dispõe sobre a constituição, a administração e o funcionamento dos Fundos de Investimento em Participações, os FIP. Em 2007, mais de 90% do capital comprometido com Private Equity tinha participação estrangeira, o que ressalta claramente a importância dos investimentos de PE no processo de entrada de capital estrangeiro no país.

O Brasil tem se tornado cada vez mais forte como alvo de investimentos em Private Equity em comparação com outros países emergentes. Segundo Furtado (2008), o Brasil passou a ser destaque no mundo de PE por um ambiente de liquidez financeira mundial e pela forte expansão dos indicadores econômicos nacionais, o que tornou mais fácil a possibilidade de captação do fundo por parte das organizações de PE, tanto no Brasil quanto no mundo.

Desde 2004, o capital comprometido cresceu a taxa média de 53,4%. Nos últimos doze meses de 2008 o crescimento foi de 68%, passando de 15,91 bilhões para 26,65 bilhões. Os fundos chegavam a US$ 5,6 bilhões em captação. Em 2008 já eram US$ 27,1 bilhões. No ano de 2009 a indústria de PE/VC registrava um recorde de US$ 34 bilhões de capital comprometido para investimentos no Brasil.

Segundo Rochman (2007), a indústria de PE pode ainda ser considerada um grande fomentador de inovações no Brasil e no mundo, podendo ser considerada como responsável pelo rápido desenvolvimento de setores como tecnologia, internet e biotecnologia. Segundo pesquisa da PWC de 2007, os oito principais setores de investimento do PE foram responsáveis por 66 das 110 transações, correspondendo a 60% dos investimentos de PE. Esses setores foram Shopping Centers, Construção, Alimentos, Informática, Educação, Varejo, Bancos e Mineração.

Segundo Furtado (2011), o Brasil se beneficia de uma cultura altamente empreendedora e assim como na Europa, de uma ampla quantidade de programas governamentais. Mesmo com os problemas, o Brasil deve continuar a apresentar uma média maior de crescimento na área de PE quando comparado a outros países.

A Regulamentação desse instrumento financeiro é realizada pela CVM, que além de fiscalizar o funcionamento do fundo também regula a atuação dos seus gestores e administradores. Tal controle é feito com base na Instrução CVM 209, de 1994, que dispõe sobre a constituição, o funcionamento e a administração dos Fundos Mútuos de Investimentos em Empresa Emergentes, e principalmente na Instrução CVM 391, de 2003, aplicável essencialmente aos Fundos de Investimento em Participações.

No início de 2005 existiam 71 organizações gestoras com US$ 6 bilhões em veículos de investimento de PE, o equivalente a 0,7% do PIB. Ao final de 2009, 144 gestores administravam comprometimentos de capital de US$ 36,1 bilhões alocados ao Brasil, equivalente a 2,3% do PIB do país. Dois grupos de gestores se destacam como detentores do maior volume de investimentos no mercado de Private Equity no Brasil. São eles: Advent, e GP Investments.

Em 2011, houve recorde de captação de novos recursos para este segmento, totalizando 7,1 bilhões de dólares, sete vezes mais que o volume captado em 2010. Entre os países do BRICS (bloco de países emergentes formado por Brasil, Rússia, China e África do Sul), o Brasil ficou atrás apenas da China. Com isso, novas ferramentas surgem para suprir as demandas desse segmento, principalmente na área de pesquisa.

Pontos Fortes do Brasil, segundo uma pesquisa da Ernest Young:
- cerca de um terço de todas as transações de fusões e aquisições envolveu fundos PE em 2010;
- mega fundos globais começaram suas operações no Brasil em 2010;
- IPOs oriundos de empresas que receberam recursos de fundos de PE representaram quase 30% de todos os IPOs nos anos de 2006 e 2007.
Oportunidades:
- economia brasileira cresce a uma média de 4% ao ano (7,5% em 2010);
- mercado altamente fragmentado em muitos setores, com consolidação de oportunidades;
- taxas de juros sendo reduzidas gradualmente, aumentando a necessidade de investimentos em ativos alternativos por parte de fundos de pensão e outros investidores institucionais;
- baixa penetração de investimentos de fundos de PE e VC na economia, se comparado com economias mais maduras;
- alta demanda por investimento de infraestrutura, incluindo a Copa do Mundo 2014 e as Olimpíadas de 2016.

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