terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Conseqüência das Flutuações Cambiais nas Contas Externas

(Angela Barras)

A valorização cambial torna as importações mais baratas. São necessários menos reais para adquirir os dólares com os quais se compram os produtos estrangeiros. A demanda por produtos importados aumenta na medida em que estes ficam mais baratos em reais. As viagens de férias para Florianópolis ou Garanhuns podem ser substituídas por viagens internacionais.

Se a valorização cambial deixa as importações mais baratas, as exportações ficam mais caras. Os preços dos produtos nacionais tornam-se mais caros em dólar. Os importadores desembolsarão mais dólares para adquirir produtos brasileiros. Podem, e normalmente o fazem, procurar outros lugares para comprar. Há, então, uma perda de competitividade das exportações devido à valorização cambial. Portanto, a valorização cambial incentiva as importações e prejudica as exportações, enquanto a desvalorização cambial provoca comportamento oposto.

Se o país passa a importar mais que exporta, deverá gerar, ao fim de algum tempo, um déficit comercial. Este déficit deverá ser coberto para que as contas externas do país, descritas no Balanço de Pagamentos, sejam fechadas, à semelhança do balanço de uma empresa. O financiamento do déficit pode ser feito por meio de utilização de reservas cambiais (se disponíveis), empréstimos junto aos bancos privados internacionais, investimentos externos diretos (de risco) ou investimentos em portfólio: no mercado financeiro (títulos públicos ou privados) e de capitais (ações na bolsa de valores), geralmente especulativos e de curto prazo. Outra possibilidade é vender ativos públicos, caso das privatizações ocorridas na década de 1980 e 1990.

Quando tais fontes de financiamento são insuficientes para saldar os compromissos, geralmente os governos lançam mão de empréstimos junto ao Fundo Monetário Internacional (FMI), constituído justamente para atender a essas emergências. Recorrer ao FMI significa submeter-se a certas medidas que, via de regra, levam a economia à recessão.

É importante observar, no entanto, que em um regime de taxas de câmbio flutuante, no qual o mercado é que estabelece a relação entre as moedas (como é o brasileiro), o déficit comercial não deve ocorrer. Com o câmbio flutuante, a tendência é de um “equilíbrio automático” da Balança Comercial.

Se o dólar se desvaloriza (vale dizer, o real se valoriza), as importações aumentam e as exportações diminuem. Com o crescimento das importações, a demanda por dólares aumenta. De outro lado, o decréscimo das exportações reduz a oferta de dólares no mercado. O resultado desses dois movimentos contrários, é o aumento da cotação (do câmbio) do dólar, tornado-o mais caro, reduzindo, dessa forma, a demanda por produtos importados, reconduzindo o câmbio ao equilíbrio.

Na hipótese de uma valorização do dólar (uma desvalorização do real), caem as importações e aumentam as exportações. Com a redução das importações, a demanda por dólares cai. O aumento das exportações, por sua vez, aumenta sua oferta. Novamente os dois movimentos – oferta e demanda de dólares – atuam. Neste caso, levarão a uma redução na cotação (o preço, o câmbio) do dólar, levando a um aumento de sua demanda e de produtos importados. A taxa de câmbio de equilíbrio é novamente estabelecida.

Outro componente importante a ser considerado é o grau de “volatilidade da taxa de câmbio”. Uma empresa que deseja investir no país, abrir uma fábrica, um supermercado, uma empresa de telecomunicações etc., estará interessada em saber qual será o retorno do capital investido. Se a receita dessa multinacional for gerada somente dentro do país, isto é, em reais, a estabilidade cambial é crucial para essa decisão.

Pode-se considerar, a título de exemplo, que determinada empresa produza e venda seu produto a R$ 10,00 a unidade, e que a taxa de câmbio seja de R$ 2,20 x US$ 1,00. A receita, em dólares, por unidade vendida desse produto será de US$ 4,54 (10,00 ÷ 2,20).

Suponha agora, que houve uma desvalorização cambial de 12,5%, de R$ 2,20, o dólar passou a valer R$2,47. O preço do produto, em reais, continua o mesmo, mas, em dólares, esse preço passou para US$ 4,04 (10,00 ÷ 2,47), 11% menor. Se nada mais se alterou na formação de preço do produto, o lucro da empresa em dólares deverá, igualmente, cair 11%.

Essa “volatilidade” não vai sempre na mesma direção. No instante seguinte, a taxa de câmbio pode se valorizar, o que provocaria um resultado oposto, isto é, um aumento nos lucros da empresa. De qualquer forma, as empresas não gostam dessas variações. Elas preferem operar com maior estabilidade e previsibilidade. Em outras palavras, em um regime de taxas flutuantes, melhor seria a estabilidade do câmbio.

A proteção (ou "hedge", segundo a nomenclatura de mercado) das empresas de serviços públicos que foram privatizadas, a telefonia, por exemplo, é a inserção, nos contratos (aqueles de privatização), da correção das tarifas pelo IGP-M. Composto por 60% dos preços por atacado, que sofrem grande influência do câmbio, o IGP-M repassa as variações cambiais para o preço das tarifas, o que sustenta a receita em dólares dessas concessionárias.

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