quarta-feira, 23 de março de 2016

A Fender: a trajetória de um mito no mercado de guitarras

(Giuliano Michida)

A Fender é hoje a maior fabricante de guitarras e baixos do mundo. Sua história data de 1946. Desde então, têm revolucionado o mundo da música em todos os gêneros musicais, do rock ao jazz, do samba ao blues e todos os demais estilos e ritmos. Iniciantes, profissionais e os mais aclamados musicistas, todos se lembram da marca Fender quando o assunto é qualidade de instrumentos musicais.

Mas nem sempre foi assim, a Fender passou por vários momentos turbulentos ao longo de sua história, como sua venda em 1965, por seu fundador Leo Fender, que então com problemas de saúde, não teve outra alternativa a não ser vendê-la para o grupo de televisão CBS, muito interessada na época, mas que nada entendia de guitarras e das necessidades de seus clientes. A Fender passou então por um momento de crescimento e prosperidade enorme nas próximas décadas devido ao vultoso investimento realizado pela CBS, porém a falta de entendimento acerca dos desejos dos músicos aos poucos foi se tornando aparente.

Com a recessão da economia americana no final da década de 70, aliada aos problemas dos déficits do pós-guerra do Vietnam, causando muita instabilidade cambial, a empresa, no início dos anos 80, acabou por finalmente perder sua posição de mercado para novos concorrentes que surgiam no mercado mundial, que contavam com o estímulo de insumos e matérias-primas muito mais baratas. Nesse momento, por exemplo, o Brasil exportava madeira de altíssima qualidade a preços baixíssimos e era um dos principais fornecedores de madeira para a fabricação de guitarras por todo o mundo.

Os resultados de estagnação deste segmento de mercado do começo dos anos 80 foram também consequências das mudanças no cenário mundial, principalmente no mercado consumidor de guitarras. Alguns especialistas alegam, inclusive, que a invenção do vídeo-game foi um dos grandes problemas para o mercado de guitarras no mundo, uma vez que os jovens da época passaram a consumir jogos eletrônicos ao invés de instrumentos musicais. Mas a empresa ignorava as exigências dos grandes clientes e músicos e não percebia suas necessidades, apostando somente na produção em massa, enquanto o resultado de vendas mostrava que o caminho do mercado não era mais esse e que o consumidor estava mudando seu padrão de consumo. A CBS chegou a reduzir seu quadro de funcionários drasticamente e fechar plantas de fabricação de guitarras alegando que tinha outras prioridades na área de mídias e entretenimento.

Em 1984, porém, alguns funcionários muito antigos e fiéis à empresa, percebendo que a CBS não estava muito interessada em fabricar guitarras com qualidade e percebendo que existia uma demanda contínua pelo produto, desde que, claro, algumas exigências mínimas fossem atendidas, cobrando, entre outras coisas, qualidade, atendimento qualificado, assistência técnica, garantias de fabricação e pós-venda. Dessa maneira, os consumidores voltariam a comprar a Fender, revertendo a tendência de perda de participação no mercado,. Esse pequeno grupo de funcionários dedicados liderou o processo de retomada da qualidade, adquirindo a tradicional empresa, voltando a fabricar e vender as melhores guitarras do mundo, agora sob o nome de FMIC (Fender Musical Instruments Corporation).

A nova Fender, de início, com seu quadro reduzido de funcionários, teve que começar do zero, pois as máquinas não estavam incluídas na venda da empresa. Ela, então, terceirizou e internacionalizou sua produção nos anos subseqüentes, passando a produzir no Japão, Coréia, Indonésia, China, Brasil e México, como estratégia para ter acesso a insumos mais baratos e fugir da cara mão de obra americana. O cenário na época favorecia a prática, e a grande maioria das empresas americanas já se utilizavam deste recurso. Aqui no Brasil, o período coincide com a abertura de mercado dos anos 90, com o a chegada de investimentos do exterior e com o surgimento de uma nova ordem econômica globalizada. A Fender não tinha clareza, na época, das principais diferenças entre as condições de trabalho na China e no Brasil, por exemplo, baseando suas decisões de investimento apenas nos custos de fabricação, no risco país e no que nas notícias que circulavam à respeito da situação econômica gerais dos países.

Posteriormente, por questões de posicionamento de mercado e de qualidade, e com uma saúde financeira melhor, decidiu-se abrir uma planta na Califórnia para fabricar as peças mais caras, empregando mão-de-obra especializada, pois o câmbio favorecia a exportação de produtos produzidos em solo americano.

Como estratégia complementar, o passo seguinte foi abrir outra planta, porém no México, onde poderiam contar com mão-de-obra mais barata e rapidamente transportar peças com menor custo para a planta da Califórnia, abastecendo o faminto mercado doméstico americano, enquanto as peças produzidas no oriente abasteceriam o mercado asiático e parte do mercado europeu e também suprir a matriz com peças. A empresa passou a recuperar seu prestígio já na década de 1990, mas logo a empresa percebeu novas alterações no padrão de consumo de guitarras no mundo, devido ao início da disseminação da internet e da globalização produtiva, que oferecia a concorrência de similares com preço mais baixo direcionados principalmente aos consumidores do chamado terceiro mundo.

Dessa maneira, decidiu-se então interromper os negócios com Brasil e Coréia, pois os fatores de produção do Oriente (baixo custo de mão-de-obra, utilização de peças baratas, irregularidades fiscais e etc.) ocasionaram perdas significativas de mercado para empresa nestes mercados.

Para contra-atacar a pirataria e a significativa perda nos mercados externos a Fender decidiu mudar seu tradicional logotipo, e reduzindo custos conseguiu lançar novas linhas de produtos baseados nos modelos de guitarras clássicas, já consagradas, porém com leves modificações, e algumas inovações tecnológicas, porém com preços mais acessíveis ao público, empregando quase a mesma qualidade das peças das linhas mais caras e refinadas e usando a assinatura de artistas famosos para atrair consumidores e cuidando do marketing através da valorização da marca. Esta valorização se deu principalmente através da linha Custom Shop, a linha mais cara da Fender destinada aos clientes e artistas mais exigentes e que trazia o maior valor agregado e o maior suporte e cuidados ao consumidor final, o que fez com que a marca voltasse ao patamar de líder mundial no segmento.

Hoje o centro operacional da Fender encontra-se em Scottsdale, Arizona e a gerência de fabricação encontra-se em Corona, Califórnia, assim como o centro Custom Shop. Mesmo com todos os problemas, até hoje o “top of the mind” em guitarras ainda é a marca Fender.

A empresa hoje está voltada a atender principalmente o mercado interno americano, com uma atuação mais protecionista, com leve abertura a mercados externos e bastante cautela com a representação comercial em outros países na Europa e na América do Sul, incluindo o Brasil, onde sua representação e distribuição é realizada através da empresa importadora Pride Music Ltda.

Devido ao protecionismo do mercado americano e pelas barreiras alfandegárias e tributárias do nosso país, os produtos passaram a chegar ao Brasil com valores exorbitantes se comparados com os valores originais em dólar de produtos vendidos no mercado dos Estados Unidos, o que motivou o mercado consumidor brasileiro à optar por consumir produtos similares produzidos no mercado interno que têm crescido significantemente na última década e onde o consumidor local pode contar com serviços de assistência técnica e garantias do fabricante local, além de facilidades de pagamento motivados pela oferta de linhas de crédito e da atual situação de crescimento econômico no Brasil.

(fontes: http://www.Fender.com.br e http://www.Wikipedia.com)

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