quarta-feira, 23 de março de 2016

O Brasil no mercado internacional de lácteos

(Murilo Rossener)

setembro de 2011


O cenário mundial do setor agroindustrial do leite passou por diversas mudanças nas últimas décadas. Para os países da América do Sul a mais significativa foi a formação do MERCOSUL que permitiu uma maior abertura de mercado. Nacionalmente, o setor leiteiro também se favoreceu com a implantação do plano real em 1994, que proporcionou um maior poder aquisitivo ao consumidor, viabilizando aumentos de produção e promovendo a autossuficiência produtiva de leite do país.

Fazendo uma breve análise de mercado, os produtos lácteos tem boa aceitação no mercado mundial e a demanda por eles pode crescer por fatores como o aumento demográfico, crescimento de renda, redução de preços, desenvolvimento de produtos concorrentes ou substitutos e mudança nos hábitos alimentares.

Segundo dados da FAO Global Market Analysis (2011), atualmente os maiores produtores de lácteos do mundo são os países da União Européia que em 2010 produziram cerca de 154,9 milhões de ton/ano, seguidos de Índia (114,4 milhões ton/ano), Estados Unidos (87,5 milhões ton/ano) e China (43,4 milhões ton/ano). No ranking o Brasil aparece na sétima posição com 29,8 milhões ton/ano.

Apesar de todo potencial de produção, a União Europeia aparece em segundo lugar como exportador de produtos lácteos com um volume anual de 11,6 milhões de toneladas, ficando atrás da Nova Zelândia, oitavo lugar no ranking mundial em produção com 17 milhões de ton/ano dos quais exporta 13,9 milhões. Apesar de a Nova Zelândia ter sua vantagem na genética dos animais que produzem um leite de altíssima qualidade, tem sua capacidade de produção limitada por ter grande parte do leite produzido por pequenos produtores que não têm estrutura para responder à demanda crescente. O Brasil aparece em 14° no ranking mundial, ao lado de países como Rússia, Filipinas e Malásia, atrás de seus vizinhos Uruguai (9°) e Argentina (6°).

O cenário brasileiro, apesar de ser um dos maiores produtores de leite do mundo, vem sofrendo para manter suas exportações de produtos lácteos. De acordo com a curva traçada pelo Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior(2010), o Brasil teve um crescimento constante no volume de exportações de 1996 até 2008, onde atingiu o recorde de US$263 milhões em vendas externas somente no primeiro semestre . Em meados da crise mundial neste mesmo ano essa taxa sofreu uma queda drástica e permaneceu em queda livre daí por diante.

Atualmente o país apresenta um nível elevado de importações provenientes de seus vizinhos Uruguai e Argentina. De acordo com dados recentes da Organização das Cooperativas Brasileiras, no primeiro semestre de 2011 o Brasil importou US$ 274 milhões e exportou apenas US$57 milhões.

Esse mix de abertura econômica e valorização do real diante o dólar estimulou sobremaneira as importações ocasionando prejuízo aos produtores nacionais que tiveram que arcar com as consequências além de sofrerem de grande desvantagem competitiva promovida no país pela alta carga tributária.

Diante desse cenário o governo brasileiro poderia estabelecer uma política protecionista não-radical estabelecendo quotas para a entrada de leite oriundo da Argentina e Uruguai, assim como foram estabelecidas por eles na entrada do frango brasileiro em território argentino e uruguaio visando proteger a produção nacional. Isso por sinal já vem sendo pauta de negociação pelos países.

Em busca da vantagem comparativa em meio ao custo de oportunidade

Além das altas cargas tributárias o fator qualidade pesa na aceitação do produto fora do país e explicita a necessidade de uma maior especialização, pois o leite brasileiro ainda não atinge os níveis de exigências de países europeus e Estados Unidos. Justamente por visar um melhor produto é que se torna necessária a adoção da prática de gratificação por qualidade no Brasil, ou seja, o produtor que oferecer um leite diferenciado receberá uma bonificação que o estimulará sempre a produzir em um padrão superior. Isso já vem sendo adotado em parte do país, porém torna-se viável ampliar a prática para todo o território nacional.

Apesar de não se mostrar competitivo no mercado de lácteos internacional de um modo geral, o mercado nacional apresentou boa aceitação na categoria leite em pó em um passado próximo, tanto que em 2008 no auge das exportações chegou-se a mover de janeiro a julho deste mesmo ano o montante de US$197.644,30 (MDIC/AliceWeb -2008). Neste período a Venezuela era responsável por 38% do volume de exportação de leite em pó, contudo com a valorização do real e a baixa competitividade, a importação do produto de nações vizinhas tornou-se uma alternativa viável até mesmo para o Brasil, que consegue importar leite em pó mais barato que o seu próprio.

O outro lado da moeda

Se por um lado vemos ameaças pela invasão de mercado do leite vizinho, por outro podemos visualizar uma vantagem a ser aplicada no mercado interno: o produto importado chega mais barato e isso aumenta a competitividade e a lucratividade das empresas.

É preciso considerar que os produtos lácteos não são o carro-chefe das exportações no Brasil e para a economia brasileira pode ser saudável aproveitar-se da atual situação cambial para importar do mercado externo um item que não possui uma vantagem absoluta e inclinar-se a setores que sejam mais competitivos internacionalmente como o mercado de cana de açúcar, soja, entre outros.

Outra alternativa que apesar de viável torna-se bem mais cara, seria fortalecer o mercado lácteo interno até o patamar de se tornar um produtor com reconhecimento mundial, mas para isso é necessário contar com o empenho de todos os produtores nacionais movendo-se uniformemente para o ganho de qualidade, contando com o apoio integral do governo na concessão de subsídios e amenização de impostos.

( fontes: www.milkpoint.com.br; www.potaldoagronegocio.com.br )

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