quarta-feira, 23 de março de 2016

O estudo do caso Zara

(Marina de Melo Lopes)

setembro de 2011

A Zara é uma das maiores empresas de moda do mundo. Ela pertence ao grupo de distribuição Inditex – que também engloba marcas como Massimo Dutti, Pull and Bear, Stradivarius e Bershka. A Zara é uma marca de roupas e acessórios que foi fundada em 1975 por Amancio Ortego e Rosalía Mera em Arteixo, cidade fica situada na região da Galícia, Espanha. 


A premissa da loja era a de apresentar aos clientes roupas com preços baixos, porém de boa qualidade; o que se tornou rapidamente um sucesso, fazendo com que seus donos abrissem novas lojas pela Espanha. Nos anos 1980, Amancio Ortega melhorou o aproveitamento das tecnologias de informação na empresa e passou a utilizar grupos de designers para modificar os processos de confecção, distribuição e design da marca com o intuito de reduzir o tempo de produção e reagir a novas tendências mundiais mais rapidamente. A partir dessa mesma década, a marca começou a expandir internacionalmente, começando com Portugal, seguida dos Estados Unidos e da França. Nos anos 1990, a expansão aumentou ainda mais para países como México, Grécia e Suécia. Atualmente, a Zara conta com lojas em mais de 73 países. Na maioria desses países, as lojas são da própria empresa, com a exceção dos países que não permitem negócios de propriedade estrangeira – nesse caso, são franquias. Atualmente, a marca conta com roupas e acessórios para homens, mulheres e crianças. Em 2010, o grupo Inditex anunciou o lançamento de uma loja virtual da Zara em diversos países, como Espanha, Portugal, Itália, Reino Unido, Alemanha, Áustria, Irlanda, Bélgica e França.
Seu modelo de negócios é diferente de seus concorrentes, pois praticamente todo o processo de suply chain é controlado pela empresa, como design, produção, distribuição e vendas através de uma rede extensiva de varejo. Este modelo permite que a marca seja autossuficiente nas etapas de fabricação, conclusão do produto e distribuição do mesmo, sendo capaz de entrega-los às lojas do mundo inteiro em poucos dias (aproximadamente de 4 a 5 semanas). As demais empresas desse ramo demoram uma média de seis meses para criar e distribuir seus produtos. Além disso, ela lança 11.000 designs novos por ano, enquanto as demais empresas produzem 2.000 a 4.000 designs por ano. 

Essas características demonstram que o ciclo de vida do produto é menor se comparado aos concorrentes, o que significa que a chance de atender às preferências do consumidor é maior. Se o design não atende às expectativas dos clientes dentro de alguns dias, este é descartado e dá-se início a uma nova produção de um novo design. Cada gerente de loja, independente do pais em que estiver, tem autonomia para descobrir o que faz sucesso ou não com a sua clientela e pedir à matriz os modelos, cores e tamanhos que mais vendem. 

Outra política pouco convencional da empresa é o fato de ela não investir muito pouco com propaganda - ela gasta cerca de 0,3% do seu rendimento, enquanto os demais gastam cerca de 3,5% - ao invés disso, a firma adotada outra estratégia, que é a investir esse o dinheiro abrindo mais lojas. Para muitos, a Zara é uma exceção no mundo dos negócios, pelo fato de ter conseguido prosperar com o mínimo de propaganda, marketing e terceirizando muito pouco sua produção para países com mão de obra barata, como pode-se ver abaixo.

Cerca de 50% dos seus produtos são manufaturados na Espanha, 26% no resto da Europa, sendo apenas 24% produzidos na Ásia, África e no resto do mundo. A maioria dos concorrentes transferiu sua produção para países cujo custo é mais baixo, porém a Zara, aparentemente, sempre resistiu a essa tendência, produzindo a maior parte dos seus itens na Espanha e em Portugal. Os itens considerados mais baratos, como camisetas básicas são feitos na Ásia e na Turquia. 

Esse estratégia é considerada muito arriscada para muitos analistas, tendo em vista a alta competitividade deste ramo de negócios, e, ao fabricar 76% de seus produtos em países cuja mão de obra e matéria prima são particularmente altas, a Zara corre um grande risco de perder competitividade. Independente do fato de priorizar o continente de origem e de seus concorrentes utilizarem mão de obra que às vezes podem ser consideradas duvidosas e beirando a escravidão, sabemos que, infelizmente, isso não conta no mundo dos negócios.

No dia 16 de agosto de 2011, um escândalo envolveu a Zara aqui no Brasil. Ela foi acusada de subcontratar empresas terceirizadas que se utilizam de trabalho escravo em São Paulo. No dia seguinte, a Superintendência Regional do Trabalho e Emprego de São Paulo fechou a fábrica do terceirizado que produzia roupas para a marca espanhola. Bolivianos eram trazidos ilegalmente ao Brasil, trancafiados em apartamentos pequenos e costuravam roupas de 12 a 14 horas por dia. Eles não tinham permissão de sair do apartamento sem o consentimento do supervisor e não possuíam comida nem água quente para tomar banho. Eles recebiam 1 dólar por cada vestido que costuravam, e desse valor era descontado o aluguel do apartamento e o valor do transporte da Bolívia para o Brasil. Por mês, eles recebiam menos que 100 dólares de salários. Os representantes da Zara argumentaram que se tratava de uma "terceirização não autorizada", ou seja, uma "quarteirização", e que as acusações representam uma falha séria no acordo com o Codigo de Conduta para Fabricantes Externos e Work-shops da Inditex. Eles também disseram que todas as fábricas terceirizadas responsáveis por re-terceirizar sem permissão foram solicitadas para regularizem imediatamente a situação com os empregados envolvidos, sob pena de cancelamento dos contratos vigentes.

O caso causou mal-estar no setor, e pode estar ligado ao problema da corrida pela competitividade enfrentado pelas empresas desse ramo têxtil. 
Apesar de possuir vantagens competitivas com seu modelo de negócios, a concorrência vem aumentando cada vez mais, não só com os concorrentes da marca optando por terceirizar sua produção em países com mão de obra mais barata, como a H&M que tem parte de sua produção no Cambodja, mas também com o fortalecimento da China no setor fabril e o surgimento ou fortalecimento no âmbito internacional de outras marcas, como Marks & Spencer, C&A e Benetton. Como pode-se ver, a Zara tem questões atuais a enfrentar como a perda de competitividade, o aumento da concorrência não só estrangeira, como já foi falado, mas também local, com marcas emergentes como a Desigual. Além disso, há também a questão da crise considerável em que a Espanha e os demais países europeus se encontram.

A tendência futura da Zara, na minha opinião é a de um crescimento um pouco mais lento, considerando todas as variáveis já discutidas previamente. O crescimento ocorrerá, devido ao fato de a Zara, mesmo com todos os desafios, continuar sendo uma empresa incomparável, com preço acessível, rapidez, agilidade, qualidade e bom gosto.

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