terça-feira, 26 de junho de 2012

Capitais internacionais e bolhas financeiras: o caso do mercado imobiliário chinês


(Carlos Vinicius Rocha Bastos)

A impressão que o mundo tem é que a China é indestrutível. Descartando todas as crises que se multiplicam pelo globo, a China parece surgir em força, e continua crescendo não importa os ventos contrários que possam vir. Parece inevitável que a China ultrapassará os EUA, este que está atolado em dividas, e se tornará a economia mais indispensável. Os homens de negócios e políticos olham para o futuro e acreditam que o capitalismo de estado chinês pode ser a melhor forma de economia organizada para lidar com os desafios da nova era global econômica.

Segundo o jornalista Michael Schuman (Correspondente da Time Magazine) a economia chinesa tem um potencial crescente de influência na economia global e em muitos aspectos já é uma superpotência. Mas isso não significa que a economia chinesa está totalmente livre de problemas, e um bom número de problemas foi criado pelo sistema estadista. Este que é tão elogiado pelos especialistas dos EUA e da Europa. E que se a China não alterar drasticamente o seu curso irá experimentar uma crise econômica.

Ainda segundo Michael, apesar da dificuldade de conseguir informações confiáveis sobre indicadores econômicos chineses, é fácil de dizer que a china vai entrar em crise, apesar de ser praticamente impossível de dizer quando isto vai acontecer, no próximo mês? Próximo ano? Ou próxima década? Ninguém sabe. A questão é que apesar de muitos economistas que são especializados sobre a economia chinesa possam dar muitas razões para como a economia chinesa se comporta de maneira diferente e assim as regras da economia não necessariamente se aplicam ao caso chinês, entretanto não importa o quanto grande seja a sua economia ou o quanto rápido ela esteja crescendo ou o quanta influencia seu Estado tenha. Na economia não há como escapar da matemática e a China tem diversos número que simplesmente não se encaixam.

Grande parte destes problemas foram criados pelo estado de capitalismo chinês. A China adotou o modelo de desenvolvimento asiático, criado pelo Japão e seguido por muitos países de crescimento acelerado. Este modelo, de uma forma resumida, tem os seguintes passos:
1) capitalizar sobre baixos salários para estimular o crescimento através das exportações e industrializar rapidamente com quantias pesadas de investimento;
2) guiar todo o processo com a mão do Estado;
3) empregar políticas industriais e dirigidas para um crescimento cada vez maior de setores cada vez mais avançados.
Este sistema gerou crescimentos fantásticos da economia de alguns países asiáticos, mas eventualmente, ele quebra. Como ocorreu com o Japão no inicio de 1990 (e ainda não escapou duas décadas após a crise); Coreia do Sul, o país que copiou o modelo Japonês mais fielmente, experimentou uma crise em 1997-98.

O que ocorreu? O modelo é baseado no que Alice Amsden, no seu estudo sobre a economia da Coreia do Sul, é chamado de “obter preços errados” para estimular os altos níveis de investimento necessários para gerar um crescimento rápido, o modelo depende de o Estado fornecer subsídios para fazer investimentos em certas indústrias ou setores mais atrativos e com baixo risco que outros possam ter. Crédito barato está sempre disponível para indústria e o Estado tem o poder de investir em determinados projetos. A taxa de câmbio é controlada para incentivar os exportadores. Todos os tipos de subsídios, para energia, para exportações e assim por diante são distribuídas. Os bancos não estão comercialmente orientados, mas agem como uma grande ferramenta de desenvolvimento da política governamental. Todos esses métodos de canalizar dinheiro, público e privado, na industrialização criam as taxas astronômicas de crescimento que vemos se repetir na Ásia.

Alguns indícios de que a economia chinesa já não apresenta mais o crescimento já aparecem. O Morgan Stanley reduziu a sua previsão de crescimento do Produtor Interno Bruto da China neste ano de 9,0% para 8,5%, mas afirma que continua otimista sobre as perspectivas macroeconômica do gigante asiático. A instituição avalia que a China tem mais opções para ajustes do que outros países, com espaço, por exemplo, para a flexibilização da política monetária.

Diversas instituições de investimento reduziram suas previsões de crescimento econômico da China em 2012, após a divulgação de uma série de dados fracos em abril. As informações são da Dow Jones. O administrador de fundos James Chanos, uma das primeiras pessoas a prever o colapso da poderosa Enron, em 2001, afirmou que o mercado imobiliário chinês é uma bolha prestes a explodir. A terceira economia do mundo provavelmente terá de manter o ritmo dos investimentos no setor imobiliário, porque até 60% de seu Produto Interno Bruto (PIB) depende da construção civil, diz Chanos.

"A China está no caminho do inferno", disse Chanos, segundo o qual o país é uma espécie de Dubai, multiplicado por mil. "O país não pode abandonar sua dependência do desenvolvimento imobiliário. É o único que faz subir os dados de expansão econômica".

Os preços dos imóveis na China subiram no ritmo mais veloz em quase dois anos em fevereiro, quando as autoridades restabeleceram - para combater a especulação - um imposto sobre imóveis revendidos depois de cinco anos da aquisição, e ordenaram aos bancos que limitassem a concessão de mais fundos para esfriar a atividade de empréstimos. O auge do setor imobiliário chinês gerou o temor de que o país enfrente um colapso como o de Dubai, que afetou a capacidade de empresas do emirado, para amortizar dívidas. Desde a previsão feita, Chanos, fundador da Kynikos Associates, recebeu a adesão de Marc Faber, editor do boletim Gloom, Doom&Boom, e de Kenneth Rogoff , professor da Universidade de Harvard, sobre a possibilidade de uma crise no mercado imobiliário chinês.

Os governos provinciais e municipais da China estão entre os tomadores com maior alavancagem em créditos relacionados ao setor imobiliário, e no longo prazo o país terá de nacionalizar muitos empréstimos não saldados que surgirão, quando a bolha romper, disse Chanos. As reservas internacionais da China serão o "único ativo" que poderá ser utilizado para financiar um saneamento do sistema bancário, afirmou. O país acumulou um montante recorde de reservas, de US$ 2,4 bilhões, e US$ 899 billhões em títulos da dívida do governo dos Estados Unidos, em parte como consequência de sua política cambial.

Em uma conferência dada em Cambridge, na Inglaterra, o bilionário investidor George Soros declarou que existe "sem qualquer sombra de dúvida" uma bolha no setor imobiliário chinês, que poderá gerar reverberações em todo mundo, se explodir. "A questão é saber se as autoridades fizeram o necessário para conter a bolha", afirmou. O perigo é que "ela continue se expandindo". Para Soros, os líderes chineses necessitam de uma alta de pelo menos 8% do PIB para se manter no poder.

Para constatar os explícitos exemplos de investimentos insustentáveis gerados pela expansão artificial do crédito na China, basta olhar para os relatos sobre os mais de 60 milhões de apartamentos vagos, as cidades fantasmas e os parques de diversões abandonados.

Embora os sistemas econômicos da China e dos EUA de antes da crise sejam certamente distintos, por baixo da superfície a China está assolada por níveis estonteantes de expansão do crédito, de especulação, de investimentos insustentáveis e de empréstimos insolventes — algo muito parecido com o que se viu nos EUA. A ideia de que o pulso firme do governo está no controle dessa situação é bastante perigosa. As leis da economia são onipresentes e não podem ser sobrepujadas simplesmente pela força. Tentar aplicar, de cima para baixo, um planejamento central em uma economia que é cada vez mais conduzida por forças de mercado que vão de baixo pra cima irá inevitavelmente gerar graves consequências. Uma expansão agressiva do crédito sempre leva aos mesmos fenômenos: inflação de preços, investimentos insustentáveis e bolhas.

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