quarta-feira, 27 de junho de 2012

Para entender a crise econômica de Portugal

(Tamara Salles)

Sem dúvida alguma, a crise econômica que está acontecendo na Europa também é um dos reflexos da crise norte-americana de 2008, mas antes de martirizarmos os americanos, precisamos entender o contexto da situação e o cenário mundial um pouco antes da crise.

A consolidação do euro como moeda única da União Europeia em 1999 evidenciou os desafios concretos de integrar economias tão diversas. Portugal era um país cuja moeda era “barata” frente às principais moedas internacionais, isso significa dizer que sua moeda era desvalorizada se comparada com a de um país como a Alemanha.

Dessa forma, com a introdução do euro como moeda única, os portugueses sentiram no bolso o “encarecimento” dos produtos como primeiro e mais visível efeito da integração. O resultado foi a diminuição na capacidade de compra dos portugueses, mas contudo, em longo prazo, o país conseguiu estimar sua recuperação, ainda que estivesse aviltando o bolso de seus consumidores com impostos.

Antes da crise norte-americana de 2008, Portugal já estava em crise, há oito anos. Desde 2001, Portugal tem crescido a pouco mais de 1% ao ano, cabendo ressaltar que, no mesmo período, a Grécia e a República Checa cresceram cerca de 4% ao ano, a Eslováquia 6% ao ano e os países bálticos mais de 8% ao ano. No ranking do PIB per capita, Portugal foi ultrapassado pela República Checa em 2005 e, em 2008, pela Eslováquia e pela Estônia.

Um estudo promovido pela Heritage Foundation indica que os principais obstáculos à liberdade econômica em Portugal são o peso do Estado na economia e a legislação trabalhista. Estas debilidades da economia portuguesa não foram criadas pela crise internacional. Resultam de opções políticas feitas em Portugal pelos portugueses. Os países da Europa de Leste optaram por impostos baixos e por uma política menos intervencionista do Estado. A Lituânia, por exemplo, tem um imposto sobre os lucros das empresas de 15% e a Letônia não cobra impostos sobre os lucros não distribuídos. Portugal optou por impostos mais elevados (25% sobre os lucros das empresas).

Com a eclosão da crise de 2008, em consequencia da quebra de bancos, ocasionando uma forte contração de crédito em todo o mundo. A imensa contração de crédito gerou uma recessão profunda, com queda do investimento e do consumo. Uma recessão simboliza um aumento no desemprego.

A dívida pública dos países europeus atingiu, nos últimos anos, níveis de endividamento não obtidos desde o fim da segunda guerra mundial, ultrapassando as marcas que foram alcançadas durante a primeira guerra mundial e a grande depressão. Tal fato demonstra que a situação do mundo atualmente deve ser tratada com muita cautela e atenção, tendo em vista que, historicamente, quando os países estão muito alavancados, geralmente apresentam um crescimento econômico menor e mais lento, além da grande incidência de inadimplência e reestruturação da dívida nesses casos.

Segundo um relativo consenso entre economistas, a relação entre dívida pública e crescimento real do PIB não é determinante quando num patamar inferior a 90% do PIB. Acima deste patamar de 90%, a taxa de crescimento tende a cair 1%.

Considerando os aspectos discutidos acima, podemos comparar a exposição do Brasil a uma crise financeira em relação a Portugal. Desde o início da crise de Portugal (2001), o país vem ampliando seu nível de endividamento consideravelmente. Contrariamente, o Brasil, conseguiu reduzir seu nível de endividamento nos últimos 10 anos.

Dessa forma, podemos concluir que, geralmente, altos níveis de dívida pública em proporção do PIB estão associados a um menor crescimento econômico. Porém, em alguns casos isso não ocorre, principalmente no curto prazo assim que os governos gastam, certos países crescem. Mas, no longo prazo a tendência é o crescimento reduzir.

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