terça-feira, 26 de junho de 2012

A CRISE GREGA

(Thamara Damasceno)


A Economia da Grécia é uma economia de mercado com grande participação do setor público (40% do PIB) e uma renda per capta de cerca de 2/3 daquela registrada nos principais países da zona do euro.
A indústria responde por 18% do PIB e a agricultura por 3%, enquanto que o setor de serviços responde por cerca de 79%, com grande destaque para o setor de turismo, que gera algo em torno de 15% do PIB do país.

 A Grécia é um dos países que mais se beneficiaram da união dos países europeus. Obteve um crescimento de 3,3% em sua economia após a união e vem obtendo taxas de crescimento na casa dos 4% desde o ano 2000, excedendo em mais de 1% a média da União européia. 


A Grécia gastou bem mais do que podia na última década, pedindo empréstimos pesados e deixando sua economia refém da crescente dívida. Nesse período, os gastos públicos foram às alturas, e os salários do funcionalismo praticamente dobraram.

 Enquanto os cofres públicos eram esvaziados pelos gastos, a receita era afetada pela evasão de impostos – deixando o país totalmente vulnerável quando o mundo foi afetado pela crise de crédito de 2008. Nesse momento o governo grego se viu repentinamente obrigado a fazer grandes repasses para o seu setor bancário, para evitar o risco iminente de quebra. esse salvamento emergencial, numa situação já de grandes gastos públicos, dobrou tanto o déficit orçamentário como a taxa de endividamento público do governo grego, a ponto de gerar uma situação de iminente inadimplência soberana, do Estado grego.

O déficit no orçamento grego passou para 14% do PIB em 2009, um dos índices mais altos da Europa e quatro vezes acima do tamanho permitido pelas regras da chamada zona do euro.
A taxa de desemprego, que, em 2007 era de 8,%, passou para mais de 13%  2010, enquanto o PIB grego, por sua vez, caía cerca 5% em 2010. A dívida pública, que era 126 % do PIB em 2009 atingiu 143% em 2010, fazendo com a inflação atingisse o patamar de 5%  em 2010.

Os mais envolvidos com a crise são, obviamente, os próprios gregos, que tiveram repentinamente de aprender a viver com menos e sem perspectivas claras, ao ver o seu governo vender empresas e terras para se financiar e a reconsiderar a sua relação com o Estado, demasiadas vezes baseada em pequenos acordos com a justiça.

O país enfrentou violentos protestos nas ruas. A população se revoltou contra um novo plano de cortes de gastos públicos, na previdência e no aumento dos impostos, demissões de funcionários públicos, como uma tentativa de atender as metas orçamentárias propostas pela 
União Europeia. 

Muitos servidores públicos acreditam que a crise foi criada por forças externas, como especuladores internacionais e banqueiros da Europa central. Os dois maiores sindicatos do país classificaram as medidas de austeridade como “antipopulares” e “bárbaras”.

 Em 1º de novembro de 2011, o então primeiro-ministro da Grécia, George Papandreou, provocou novas turbulências nos mercados e na zona do euro ao anunciar que convocaria um referendo sobre o novo pacote de ajuda da União Europeia, perguntando aos eleitores se querem adotá-lo ou não através de um plebiscito.A expectativa do premiê era que o plebiscito “validasse” as medidas de austeridade necessárias para receber a ajuda financeira. Uma pesquisa, no entanto, mostrou que aproximadamente 60% dos gregos enxergam a cúpula dos líderes europeus, que acertaram um novo pacote de ajuda de 130 bilhões de euros, como negativa.A convocação de plebiscito enfrentou rejeição da oposição e dos membros do próprio partido de Papandreou. Com isso, o governo ficou enfraquecido, e Papandreu terminou deixando o cargo, 
sendo substituído por Lucas Papademos.

Para honrar seus compromissos o Governo recebeu um pacote de cerca de 110 bilhões de euros (aproximadamente US$ 143 bilhões), que inclui a participação de países da zona do euro e do FMI. Entretanto, para conseguir esse empréstimo, o governo grego precisará cortar gastos e aumentar impostos, medidas previstas em um pacote de austeridade aprovado pelo parlamento do país.

A Grécia apresentou planos para cortar seu déficit para 8,7% em 2010, e para menos de 3% até 2012.Para alcançar isso, o Parlamento grego aprovou em maio um pacote de medidas de austeridade para economizar 4,8 bilhões de euros.O governo propôs congelar os salários do setor público e aumentar os impostos, e ainda anunciou o aumento do preço da gasolina e aumentar a idade para a aposentadoria em uma tentativa de economizar dinheiro no sistema de pensões, já sobrecarregado.

Em meados de 2011, foi aprovado um segundo pacote de ajuda, com 
recursos da União Europeia, do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do setor privado. A contribuição do setor privado foi estimada em 37 bilhões de euros. Um programa de recompra de dívidas deve somar outros 12,6 bilhões de euros vindos do setor privado, chegando a cerca de 50 bilhões de euros.

Em outubro de 2011, ainda com o país à beira do colapso financeiro, os líderes da zona do euro alcançaram um acordo com os bancos credores, que reduz em 50% a dívida da Grécia, eliminando o último obstáculo para um ambicioso plano de resposta à crise. Com o plano, a dívida grega teve um alívio de 100 bilhões de euros após a aceitação, pela maior parte dos bancos, de uma redução superior a 50% do valor dos títulos da dívida.

 Todo mundo na zona do euro - e qualquer um que negocie com a zona do euro - esta sendo afetado por causa do impacto da crise grega sobre a moeda comum européia. Um dos grandes medos enfrentados foram de que os problemas da Grécia nos mercados financeiros internacionais provocassem um efeito dominó, derrubando outros membros da zona do euro cujas economias estavam enfraquecidas, como Portugal, Irlanda, Itália e Espanha. Todos eles enfrentavam desafios para equilibrar suas contas. Se Irlanda e Portugal seguissem o caminho do calote, os bancos que lhes emprestaram dinheiro seriam afetados, o que elevaria a demanda por fundos do Banco Central Europeu. A economia espanhola equivale à soma das economias grega, irlandesa e portuguesa. Seria muito mais difícil para a UE estruturar, caso seja necessário, um pacote de resgate para um país dessa dimensão.

 As preocupações foram exacerbadas pelas agências de classificação de risco, que rebaixaram os graus de investimento de Portugal e Espanha, além da Grécia, gerando temores sobre a capacidade desses países de pagar suas dívidas.
Este não é o único país da zona do euro a violar a regra que afirma que o déficit orçamentário não deve ultrapassar 3% do PIB do país.Na Grã-Bretanha, que não está na zona do euro, esse déficit chega a 13% do PIB. Na Espanha ele chega a 11,2%, na Irlanda a 14,3% e na Itália a 5,3%.

 O montante da dívida deixou investidores relutantes em emprestar mais dinheiro ao país. Hoje, eles exigem juros bem mais altos para novos empréstimos.  Em 2012,a situação parece ter tomado nova direção,ao convencer entre 85 e 95% dos seus credores privados a reestruturarem parcialmente a dívida que detinham, o Governo grego conseguiu finalmente aquilo que se esperava dele. Mas terá agora de dar sentido aos sacrifícios da população.

 O processo com vista à troca das obrigações detidas por credores privados da Grécia terminou estes aceitaram ceder os seus títulos da dívida atuais e comprar novos títulos a 50% do seu valor. E pode ser considerado um êxito. O maior perdão parcial da dívida alguma vez alcançado no mundo foi, por conseguinte, pela sua própria natureza, um sucesso que desmente os argumentos de todos aqueles que consideravam que era muito difícil, ou mesmo impossível, concretizar tal objetivo.

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