quarta-feira, 27 de junho de 2012

Minsky e a teoria geral das crises financeiras

(Natália Benevides)

Hyman Philip Minsky foi um economista norte-americano nascido em 1919, em Chicago. Seus estudos sobre Crises Financeiras não são conhecidos somente no meio acadêmico, mas também no financeiro.

Hyman Minsky concluiu graduação em matemática na Universidade de Chicago e prosseguiu seus estudos na Universidade de Harvard. Minsky é considerado um economista pós-keynesiano. O economista sofreu influência e escreveu sobre o pensamento de Keynes , aprofundou pontos sobre a Teoria Geral de Keynes, oferecendo uma interpretação diferente da tradicional.

O pensamento de John Keynes, economista britânico, defendia uma política econômica de Estado intervencionista, onde os governos usariam medidas monetárias e fiscais para suavizar as consequências desfavoráveis dos ciclos econômicos, como depressão e recessão. Contudo, não se deve interpretar que Keynes defende-se a destruição do sistema capitalista, considerado pelo economista o sistema mais eficiente já vivenciado pela humanidade. Keynes pretendia um aprimoramento do modelo capitalista, de maneira que o altruísmo social pudesse se unir aos instintos do ganho individual, o primeiro através do Estado e o segundo através da livre iniciativa privada.

Com relação à teoria de Keynes, Minsky enfatiza as questões financeiras, a instabilidade do desenvolvimento capitalista e a articulação existente entre ambas. Minsky percebe que a relação entre investimento e poupança pode originar ciclos econômicos.

Um dos conceitos centrais de Minsky apresenta a ideia de que a estabilidade produz a instabilidade, já que o desequilíbrio é próprio do capitalismo. De acordo com a teoria, os investidores, nos períodos de crescimento, apresentam insatisfação com os lucros moderados e começam a correr mais riscos, o que afeta a estabilidade do sistema, pois o risco se apresenta exatamente como a possibilidade de que não ocorra o lucro, o que afeta o bom funcionamento do sistema. 

Considerando que para Minsky “os lucros são determinados por investimentos, capacitam as empresas a honrar seus compromissos de pagamento sobre instrumentos financeiros e entram na formação de expectativa dos lucros futuros” (1982), o risco de que este não ocorra se apresenta como fator crítico para a estabilidade do modelo capitalista. A ação mais “arriscada” dos investidores apresentada por Minsky pode ser comparada ao pensamento de Keynes, quando este observou que os agentes econômicos reduzem seu nível de liquidez em momentos de crescimento econômico e de alta do valor dos ativos, constatando que os agentes buscam a recuperação da liquidez quando estas variáveis invertem sua tendência, observando uma fonte financeira para a reversão cíclica.

Em seus estudos Minsky demonstra que, da mesma maneira como as expectativas dos agentes econômicos se modificam de acordo com o estágio do ciclo econômico, as relações de balanço econômico-financeiro e contábil se transformam ao longo desse ciclo. Considerando então a hipótese da instabilidade financeira, a economia capitalista caracteriza-se por um sistema financeiro sofisticado e complexo, se apresentando como uma economia inevitavelmente instável, que exibe um endividamento crescente em função de sua necessidade de financiar o investimento em uma atmosfera de crédito barato, o que provoca, de tempos em tempos, inflações e deflações de dívidas.

A teoria da instabilidade financeira tem seu embasamento na existência de dois conjuntos de preços na economia: o preço de oferta, que depende das taxas de salário em dinheiro, da produtividade do trabalho com os ativos de capital, do mark-up aplicado sobre os custos e do custo de financiar a produção, e do preço de demanda dos ativos de capital, que é apurado pela oferta e demanda em seu mercado.

Considerando o proposto por Minsky, a economia é influenciada por dois tipos de risco que irão influenciar o preço de oferta e o preço de demanda dos ativos. Um deles é o risco do devedor, que sobrevém da dúvida que o empresário tem de realmente alcançar os ganhos esperados sobre um investimento. O outro risco é o do credor, que se origina em questões como risco moral ou desapontamento de expectativas, ou seja, adiciona o impacto do crescente endividamento para financiar o investimento.

A fragilidade financeira é apresentada por Minsky de acordo com o grau de prudência do endividamento das unidades econômicas que compõem um sistema financeiro. De acordo com Minsky, existem três tipos de unidades econômicas, segundo o grau de prudência do endividamento. São elas:
- as unidades hedge, nas quais o endividamento é tal que as entradas monetárias, oriundas dos rendimentos esperados, são mais elevadas quando comparadas às saídas monetárias em pagamento das dívidas, em cada período significativo;- as unidades especulativas, onde as saídas monetárias para pagamentos de dívidas são superiores às entradas monetárias almejadas em alguns curtos períodos, mas as unidades podem se refinanciar (há o risco do valor líquido do investimento tornar-se negativo);- as unidades de Ponzi são aquelas nas quais as saídas em pagamento dos juros da dívida são maiores do que as entradas monetárias esperadas, tornando o valor do investimento líquido negativo.
A caracterização das unidades econômicas proposta por Minsky permite observar que, se as unidades de Hedge são vulneráveis apenas ao que ocorre nos mercados particulares de seus produtos, o mesmo não é verdadeiro para as unidades especulativas e de Ponzi. Estas apresentam vulnerabilidade ao que acontece nos mercados financeiros. Se ocorre uma alta da taxa de juros, as unidades especulativas procuram se refinanciar e para isso vendem ativos. Tal ação baixa os preços dos ativo, levando outras unidades à necessidade de se refinanciarem e, portanto, venderem ativos e assim sucessivamente. Dessa forma, pode-se concluir que quanto maior o peso das unidades especulativas na economia, mais rapidamente, e de maneira mais ampla, uma ação que intenciona compensar uma perturbação do funcionamento normal do sistema provoca o oposto, ou seja, a ampliação desta perturbação. Sendo assim, entende-se que quanto maior é a dimensão das unidades especulativas e de Ponzi na economia, tanto maior é a fragilidade financeira, pois a estrutura financeira torna-se mais propensa a crises.


Referências:
BAHRY, Thaiza Regina e GABRIEL, Luciano Ferreira. A hipótese da instabilidade financeira e suas implicações para a ocorrência de ciclos econômicos. Disponível em: www.scielo.br. Acesso em 25 de maio de 2012.

 HERMANN, Jennifer. Da liberalização à crise financeira norte-americana: a morte anunciada chega ao Paraíso. Disponível em: www.scielo.br. Acesso em 24 de maio de 2012.

 LOURENÇO, André Luis de. O pensamento de Hyman P. Minsky: alterações de percurso e atualidade. Disponível em: www.scielo.br. Acesso em 25 de maio de 2012.

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