segunda-feira, 25 de junho de 2012

Desafios culturais de gestão de uma empresa internacional no Brasil

(Marcela Perrota Wanderlei)

 A entrada de empresas multinacionais num país é algo muito positivo, pois gera empregos e desenvolvimento para tal país, apesar de grande parte do lucro obtido por estas multinacionais ser enviado para a matriz de seu país de origem. No Brasil, a entrada dessas empresas multinacionais começou a ganhar importância durante o governo de Juscelino Kubitchek. Neste governo foram instaladas várias fábricas no país, de algumas empresas como, Ford, Volkswagen, GM, entre outras. As cidades que receberam fábricas das multinacionais vindas do exterior, tiveram suas oportunidades de emprego aumentadas, atraindo trabalhadores de todo o Brasil. Este fato fez com que houvesse um aumento no êxodo rural, junto com a migração de muitos nordestinos e nortistas de suas regiões para as grandes cidades do sudeste onde estavam concentradas as fábricas.

 Com a abertura do mercado brasileiro para as empresas internacionais, o governo J.K conseguiu atrair o capital estrangeiro e estimular o desenvolvimento do capital nacional, implantando a indústria de bens de consumo duráveis, sobretudo eletrodomésticos e veículos, com o objetivo de multiplicar o número dessas indústrias e das fábricas de peças e componentes. Houve também a ampliação dos serviços de infraestrutura, como transporte e fornecimento de energia elétrica. No início dos anos 60, o setor industrial supera a média de crescimento dos demais setores da economia brasileira.

 O processo iniciado por Juscelino teve continuidade durante a Ditadura Militar, destacando-se o Governo Médici, período do "Milagre Brasileiro", que determinou crescimento econômico, mas também o aumento da dívida externa e concentração de renda. Com essa abertura da economia brasileira, o país se tornou muito mais flexível à entrada de empresas multinacionais estrangeiras do que na época nacionalista da era Vargas. A partir daí, começou a fazer parte da cultura do povo brasileiro o intenso consumo de produtos vindo do exterior, o que por um lado poderia ser uma grande alavancagem nas relações internacionais do país com o resto do mundo, também foi prejudicial às empresas nacionais da época e seus produtos que sofriam uma forte concorrência com os vindo de fora, como a Coca-Cola e os carros da Volkswagen.

 As multinacionais por atuarem em escala global levam em consideração o resultado agregado de sua atuação, não se importando com eventuais prejuízos conjunturais em uma determinada região, principalmente considerando que muitas vezes estes "prejuízos", decorrem de estratégia para a conquista de mercados e a superação da concorrência. Um exemplo claro desta realidade é o caso da Samsung Eletromecânica da Amazônia, que após a instalação de uma fábrica de componentes e itens de microeletrônica em Manaus, na qual começou a produzir bobinas defletoras para cinescópios decidiu fechar a fábrica e sair do Brasil, visto que o mercado não respondeu de forma positiva a oferta apresentada, já que se tratava de uma área de preservação ambiental. Apesar disso, por ser uma multinacional de tal porte como o da Samsung, esse pequeno fracasso não teve um abalo significativo na receita total da empresa, o que foi irrelevante para a sua posição no mercado.

 Algumas multinacionais entram no país com o intuito de estabelecer aqui, uma filial sólida, já que veem o Brasil como um mercado muito promissor, e em fase de crescimento constante e com mão de obra barata, por isso tantos investimentos numa mesma época. Neste ano, a General Motors do Brasil (GMB) foi amplamente citada na imprensa pelo seu crescente volume de exportações de serviços em engenharia para outras subsidiárias dessa multinacional no mundo inteiro. Essas exportações de serviços de engenharia chegaram próximo a US$ 500 milhões em 2011. O desempenho favorável da GMB se deve à criação e à evolução constante de competências em engenharia de produto ao longo das últimas décadas, um esforço que justifica hoje mais do que dois mil funcionários brasileiros, entre engenheiros, designers e técnicos. Além disso, essa multinacional promoveu a especialização dos seus centros de engenharia ao redor do mundo e delegou à filial brasileira o desenvolvimento de plataformas de vários automóveis, tecnologias flex fuel, dentre outras atividades. Isso é um exemplo de como uma multinacionais pode gerar emprego e renda para trabalhadores de várias classes no país.

 Outro bom exemplo de uma multinacional que obteve sucesso no país e é líder no segmento em que atua até hoje, é a Coca-Cola. A primeira fábrica do país foi instalada na então capital brasileira, o Rio de Janeiro, em 1940 no bairro de São Cristóvão, o polo industrial da cidade. Em abril de 1942 saíam da “Rio de Janeiro Refrescos” o primeiro lote de garrafinhas de Coca-Cola, na embalagem de 185 ml, única existente na ocasião. O concentrado e o gás vinham dos EUA e o xarope era feito no Rio. A fórmula era misturada num enorme tanque de 300 litros, com a ajuda de uma colher de pau feita de peroba do campo - madeira que não deixa gosto nem cheiro. As máquinas Dixies marcaram a tecnologia de vanguarda, engarrafando uma garrafa por vez a um ritmo de 30 por minuto. Logo as Dixies foram trocadas por modernas 100-40, produzidas pela Crown Cork. Depois vieram as Liquids, as Holsteins e as Krones.

Foi ainda na década de 1940 que a Coca-Cola implantou o sistema de franquias no Brasil. A primeira autorização para a fabricação do produto foi concedida à Industrial de Refrescos, do Rio Grande do Sul, seguida pela Spal Indústria Brasileira de Bebidas S/A, em São Paulo. E em 1945 era inaugurada a segunda fábrica no Rio, também em São Cristóvão, contando com uma máquina que enchia 150 garrafas por minuto e uma lavadeira de garrafas. Três anos depois, surgia outra fábrica, moderníssima para a época, na Avenida Dom Hélder Câmara, também no Rio, com duas linhas de engarrafamento e uma máquina com capacidade de produção de 200 garrafas por minuto, a mais veloz do gênero no Brasil. Em 1950, a Coca-Cola já contava com 11 fábricas espalhadas pelos estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais. Bahia e Rio Grande do Sul.

 Apesar da Coca-Cola ter trazidos todos esses tecnológicos para o país, não foi fácil levar os consumidores a provar o refrigerante,e mais difícil ainda, criar o hábito da bebida gelada, incomum naqueles tempos. Por ser novo, o produto oferecido em bares, botequins, cinemas, era frequentemente recusado. Mas a propaganda e as eficazes técnicas de venda acabaram vitoriosas, fazendo com que, a cada dia, um número maior de consumidores se rendesse àquela bebida escura, mais gasosa e de sabor difícil de ser definido, apresentada numa embalagem única, peculiar por seu design de curvas sinuosas e apelidada de Mae West, nos Estados Unidos, numa referência à famosa atriz americana, símbolo sexual da época.

 No final da década de 1960, o país já contava com mais de 20 fábricas de Coca-Cola que num esforço extraordinário abasteciam todo o território nacional. Com o avanço tecnológico e o surgimento de fornecedores de matérias-primas, o concentrado, até então importado, passou a ser feito no Brasil, inicialmente no Rio de Janeiro e de 1990 em diante, em Manaus.

 Em paralelo, sempre voltada aos anseios dos consumidores e comprometida com uma permanente renovação, a Coca-Cola iniciou no Brasil, um processo de diversificação, lançando bebidas como, água mineral, chá gelado, sucos à base de frutas, e energético. Atualmente, quando se fala em Coca-Cola no Brasil, fala-se de um sistema que reúne 39 fábricas operadas por 16 grupos empresariais, com quase 25 mil funcionários e frota de cerca de 10 mil veículos, responsável pelo abastecimento de mais de 1 milhão de pontos de venda em todo o país. A marca já faz parte da economia brasileira.

 Apesar de não encontrarem muitas dificuldades no campo burocrático e político e até mesmo ter uma grande parcela da população que consomem fervorosamente produtos vindo de outro países, as empresas estrangeiras quando chegam ao Brasil encontraram alguns desafios culturais, que vão além de qualquer acordo econômico. Um exemplo deles é a educação, que ainda é um assunto que preocupa a população brasileira, pois o nível do ensino público no país esta muito abaixo dos comparados com países considerados subdesenvolvidos. Com isso há uma falta de mão de obra qualificada para trabalhar nas fábricas das grandes multinacionais que chegam aqui, por isso muitas delas preferem importar a mão de obra, o que pode aumentar o desemprego no país. Outro fator que podemos considerar como um desafio a ser superado é o pouco investimento que o Estado dá à infraestrutura brasileira. Isso prejudica a produtividade das empresas e indústria e resulta em taxas de investimento baixas e em retorno produtivo menor.

 Como visto, nem tudo são flores quando tratamos da abertura do comércio brasileiro para empresas estrangeiras. Existem também alguns estudiosos que vão contra a entrada delas no território nacional, pois alegam que se trata de um limitante para o desenvolvimento do País e pode criar um modelo caracterizado pela concentração econômica, dominada por transnacionais estrangeiras, que acabam por diminuir o espaço das empresas produtivas nacionais, que também são boa fonte de empregos e de tecnologia. É levantada a tese de que com a intensa entrada dessas empresas no Brasil, o poder público fica submetido a interesses estrangeiros, o que não deixa de ser mera verdade.

 Como visto, entrada de empresas multinacionais no país pode ser algo muito positivo, para a geração de empregos e o aumento do desenvolvimento e visibilidade do Brasil para o resto do mundo. Mas não podemos esquecer que devem ser estabelecidas “regras de boa convivência” com os brasileiros, para que abusos com os nossos recursos naturais e domínio da economia pelos estrangeiros não se tornem um problema mais a frente.

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