segunda-feira, 25 de junho de 2012

A multiculturalidade nas organizações

(Ângela Barras)

Com o processo de globalização, o mercado abriu as fronteiras, expandindo os negócios. Com isso, há uma interligação entre estados, países e continentes. Porém, com essa expansão, as empresas passaram a enfrentar não só as diferenças individuais, mas também a dificuldade da diferença de cultura (desde etnias, religiões, sexo, linguagem, até a diferença geográfica existente).

 Canen (2005) define multiculturalismo como um conjunto de respostas à diferença cultural, em distintas áreas do conhecimento, sendo o seu foco principal o entendimento de duas fontes e como administrá-las. A diferença cultural existente é vista como vantagem competitiva, pois a cultura organizacional ajuda no entendimento de estratégias feitas pela empresa, como por exemplo, o lançamento de um produto, ou até mesmo, uma parceria com outra organização. “São os traços culturais, e não os econômicos, que atualmente podem fazer a diferença em termos do sucesso ou de insucesso organizacional” (Canen, 2005).

 Os profissionais tendem a se preocupar cada vez mais com essa diversidade. No entanto, a globalização minimiza as diferenças culturais, principalmente através do desenvolvimento da mídia e do crescimento contínuo do acesso a Internet.

 Enfatizando o papel da logística dentro da empresa, incorpora-se o conceito de diversificação cultural. O objetivo é buscar a valorização das diferenças e sensibilização cultural a partir das estratégias, contribuindo para que haja um sucesso organizacional. A valorização da logística aumenta a competitividade, pois há uma maior interligação entre as diversas áreas da empresa. Porém, não pode passar a ser adotada simplesmente por modismo. A logística tem que realmente ser implementada e valorizada, uma vez que a sensibilidade de diversidade cultural é fundamental.   Deve-se tratar o multiculturalismo não exclusivamente como um treinamento de competências, mas inclusive como um processo de educação para o mundo. As diferenças culturais existem e é importante que sejam valorizadas, para que ocorra um sucesso organizacional, combatendo o preconceito e, principalmente, respeitando a individualidade.

A Organização Odebrecht é um conglomerado brasileiro que atua em quase todo o mundo nas áreas de construção e petroquímica. A Construtora Norberto Odebrecht é juntamente com a Vale, uma das duas multinacionais brasileiras com maior presença na África e no Oriente Médio, sendo que boa parte dos brasileiros que residem nestas regiões do planeta, são funcionários da companhia. Em Angola, a subsidiária Odebrecht Angola Lda. é a maior empregadora particular do país.

 Na Líbia a Odebrecht é reponsavel pela construção de dois terminais do Aeroporto Internacional de Trípoli, orçado em 970 milhões de euros. Além da estrita regulamentação ambiental, outro desafio da obra é a gestão da equipe multicultural: previam-se trabalhadores de até 30 nacionalidades diferentes trabalhando na parte mais intensa da obra, sendo mais de 300 no escritório e até 6 mil no campo de obras. Além disso, a obra era executada por uma joint venture entre a Odebrecht, uma empresa turca e uma empresa grega, com a liderança da Odebrecht.

 O desafio da multiculturalidade começa na joint venture. A estrutura da obra mistura profissionais das três empresas participantes, com os papéis muito bem-definidos. Uma equipe composta de gestores seniores dessas empresas cuida de manter a comunicação fluindo bem: a obra deverá juntar, em sua etapa mais intensa, trabalhadores de até 30 nacionalidades, com mais de 300 no escritório e até 6 mil no campo. Nos dois primeiros meses de trabalho, já haviam sido agrupados profissionais do Brasil, Líbia, Turquia, Egito, Jordânia, Portugal, Inglaterra, Colômbia, Peru, Síria, Estados Unidos e Gana.

 Três horas e cinqüenta e sete minutos da tarde, os tratores no imenso canteiro de obras no deserto da Península Arábica param, os trabalhadores descem das máquinas, abrem seus tapetes e rezam em direção a Meca. Esse é o dia-a-dia da Odebrecht, que constrói o aeroporto na capital dos Emirados Árabes Unidos. A atuação da empresa brasileira no Oriente Médio obrigou-a a mudar a forma de trabalhar e adotar costumes locais.

 No Ramadã osmuçulmanos não comem nem tomam água durante o dia, e por isso a carga horária é reduzida. Na África muçulmana, a Odebrecht está construindo um aeroporto em Dibuti e entre os operários, identificou 22 idiomas. A construtora criou um refeitório com cinco tipos de comida e o catálogo de ferramentas também foi traduzido em cinco idiomas.

 Outras empresas que para ingressar em mercados globalizados e competitivos, se adaptaram são a Sadia, Perdigão, Ceval-Seara e Frangosul, que vem encarando como oportunidade de expansão de negócios a adaptação de seus processos e de sua infra-estrutura fabril às exigências da prática do Halal, preceito islâmico na produção de certos alimentos. Em um dos abatedouros da empresa de alimentos Sadia, próximo a Uberlândia (MG), 14 mil frangos são sacrificados por dia voltados para Meca, em obediência ao que determina o Alcorão, livro sagrado do islamismo. Atender a essas normas tem contribuído para aumentar a confiança dos muçulmanos nos produtos brasileiros e estreitar as relações comerciais entre o Brasil e os países islâmicos.

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