segunda-feira, 25 de junho de 2012

Fusões e Aquisições no Brasil - os anos recordes

(Simon Picherit)

A partir dos anos 90, o Brasil se tornou uma prioridade para os investidores estrangeiros, que, apesar das turbulências importantes nos Estados Unidos e na Europa em 2011, beneficiaram de muitas oportunidades para aumentar as suas operações no Brasil, utilizando fusões e aquisições (F&A). Porém, dentro do Brasil mesmo, esse tipo de transação entre empresas brasileiras também aumentou, estabelecendo um novo recorde em 2011.

O presente estudo de caso incidirá sobre duas companhias aéreas brasileiras, Azul e Trip que anunciaram, no dia 28 de maio, a fusão de suas operações, criando uma terceira companhia aérea do Brasil.

Contexto e riscos das F&A

 As F&A aparecem por vagas. Elas são o resultado de um processo estratégico relativo a um determinado setor econômico.

 A conjuntura econômica internacional tem um papel essencial e por isso as F & A aparecem como fenômenos cíclicos. Por exemplo, a aparição do Euro, na Europa, contribuiu ao aumento das F &A, sobretudo no setor financeiro. O desenvolvimento da concorrência devido à mundialização, a procura cada vez maior da competitividade para aumentar as partes de mercado, conduzem a fusões e assim as F &A desenvolveram-se em todos os setores. As F&A podem explicar-se pela procura de um rendimento não sòmente em crescimento, mas, sobretudo cada vez mais importante. Com efeito, as razões principais evocadas a quando uma fusão são razões de sinergia. Numa economia mundializada, a concorrência conduz à procura de competitividade para reduzir os custos e aumentar assim as partes de mercado.

 Entre o crescimento interno (desenvolvimento da sua própria empresa) e o crescimento externo (desenvolvimento da sua empresa pela compra de outras empresas), as empresas escolhem cada vez mais a externa. Com efeito, ela leva à consolidação do setor e é mais rápida que a interna, pois trás diretamente clientes, fornecedores e colaboradores. Parece ser esta exigência de rapidez que leva as empresas a preferirem o crescimento externo.

 Mas o processo as F&A não acontece sem riscos. O primeiro dos riscos é o bloqueio da fusão antes mesmo que ela se realize, como acontece quando as autoridades reguladoras dos mercados se opõem às fortes concentrações horizontais (empresas com a mesma atividade), para evitar que apareçam situações de monopólio. Na Europa, é a Comissão Europeia que controla as F&A de grandes empresas, conduzindo uma política “anti-trust”. Mas a avaliação das concentrações é difícil além de que a legislação respeitante a tal problema varia de um país a outro. Por outro lado, os estados podem tentar opor-se a certas F&A para proteger os seus próprios “campeões” nacionais, ou favorecer fusões entre empresas do país (exemplo da vã oposição à aquisição de Arcelor por Mittal...).

 O segundo risco é a sobre-estimação dos benefícios a alcançar. Antes de pensar a uma fusão, os dirigentes da empresa que pretende comprar procedem a uma “due diligence”, isto é, a uma avaliação dos ativos, da atividade, da situação financeira e das perspectivas da empresa desejada. Mas estas informações são difíceis de obter e as “due diligence” são geralmente feitas muito superficialmente o que conduz a estimações otimistas e à sobre-estimação das sinergias pretendidas.

 No Brasil, os melhores resultados desde 1994

 Hoje em dia, este é o melhor resultado para o acumulado nos três primeiros meses de um ano. Setores onde mais se registram fusões e aquisições no Brasil (2010)

1 – Tecnologia da Informação
2 – Telecomunicações e Média (a maioria dos casos são transações relativas às empresas “pontocom”).
3 – Imobiliário
4 – Alimentos, bebidas
5 – Companhias de energia 

As fusões e aquisições entre empresas brasileiras e estrangeiras devem prosseguir a um ritmo intenso. O contexto macroeconômico mundial e o crescimento interno da economia brasileira podem ser as razões explicativas para esse aumento. Em 2010, o volume de fusões e aquisições no mundo totalizou US$ 2,82 trilhões, um aumento de quase 25% em comparação com 2009. O Brasil foi o país mais procurado para acordos de fusões e aquisições entre os mercados emergentes, no ano passado, contabilizando um terço do valor total dos negócios nesse período.

 No ano passado, as fusões e aquisições fizeram-se ainda em maioria, dentro do setor de telecomunicações com 25,6% do volume total. O setor dos telecom destaca-se sempre porque as operações geralmente são muito importantes. A reestruturação societária das controladas pela Telemar (R$ 20,8 bilhões) e a incorporação da Vivo pela Telesp (R$ 11,3 bilhões) foram os maiores negócios de 2011.

Além destas duas operações no setor das telecomunicações, as maiores negociações do ano passado foram o aumento de capital da Petrogal Brasil, com a entrada da Sinopec (R$ 9,1 bilhões), a entrada da Ternium na Usiminas (R$ 5,8 bilhões), a aquisição da participação na Pride International pela Ensco, no Brasil (R$ 5,5 bilhões) e a incorporação da WTorre pela BR Properties (R$ 4,9 bilhões). 2011 foi um ano recorde, e os investidores esperam que este ano seja ainda melhor, com todos os eventos que vão acontecer no Brasil até 2016.

Para 2012, muitas das fusões são, na prática, absorções, aquisições de empresas, sobretudo entre empresas estrangeiras e brasileiras. Por quê? As empresas brasileiras ainda são muito baratas frente às concorrentes de outros países. Os mercados financeiros reagem muito bem a esse movimento, pois, dos grandes conglomerados formados a partir dessas operações, resultam custos menores, mais rentabilidade e maiores dividendos para acionistas, ou seja, ações mais valorizadas.

 Esse aumento de fusões e aquisições devera ocorrer também na América Latina. Em 2012, haverá negociações da maior importância entre empresas brasileiras e companhias da América Latina, tanto para a compra como para a venda. O mercado de consumo está em expansão no Brasil, sem perspectivas de ruptura, o que torna as empresas muito atrativas. Isso ocorre também no Peru, na Colômbia e no Chile.

  O CADE - Conselho Administrativo de Defesa Econômica

 No dia 30 de maio, a lei da CADE, sobre fusões e aquisições, entrou em vigor, mas faltam poucos dias para que a lei se torne realmente efetiva. Essa lei tem como objetivo de regular esse tipo de operações, que antes gerava muitas incertezas jurídicas. De fato, quando ocorrem fusões e aquisiaprovação da lei é uma boa medida. Mas, segundo Juliano Souza de Albuquerque, ex-assessor da Presidência do Cade, as empresas não gostam muito que o estado verifique cada vez mais a sua gestão. Assim, antes que a lei entre efetivamente em vigor, houve uma multiplicação enorme das fusões e aquisições no Brasil.“Sem duvida, os negócios foram precipitados para se submeterem à lei anterior”conclui Juliano Souza.

De fato, desde o dia 30 de maio, foram anunciadas 17 operações de fusões e aquisições no mercado brasileiro. Isso representa 12% das operações no mundo (148 em total).

Estudo de caso: a fusão das companhias aéreas brasileiras Azul e Trip

 As companhias aéreas brasileiras Azui e Trip anunciaram o dia 28 de maio, a fusão das suas operações. Esse acordo ocorre agora, para evitar enfrentar a nova lei da CADE.

Atualmente, o setor aéreo enfrenta alta nos preço dos combustíveis e queda na procura. Dentro deste contexto bastante difícil, as duas companhias, pela junção das suas estruturas aeras, querem criar a maior companhia aérea regional da América do Sul, para obter ganhos nas escalas e reduzir os custos.

Juntas, as duas companhias terão 14,3% do mercado brasileiro e serão responsáveis por 29% das decolagens do país. Pelo acordo, os acionistas da Azul vão ter 66,66% da nova empresa que vai se chamar Azul Trip; os acionistas da Trip, que tem sede em Campinas, deterão os 33% restantes.

Definição: A fusão é uma técnica de concentração na qual uma ou várias empresas escolhem de juntar suas patrimoniais para formar uma única empresa. As empresas participantes desaparecem e são substituídas pela nova empresa que resulta desse tipo de operação. E possível chamar fusão e aquisição também para as empresas que são cotadas na bolsa.

Concentração horizontal: Juntar sobre o controle de um mesmo centro de decisão várias empresas que fabricam um mesmo produto.

No início, esta fusão pode parecer negativa para o consumidor, porque diminui a concorrência, mas, na verdade, a concorrência, é muito forte com os lideres TAM e Gol, que detêm 39,9% e 34,8% do mercado, respectivamente. Azul Trip vai ser responsável por 29% dos voos efetuados no Brasil, e será a terceira força da aviação brasileira, com 112 aeronaves, 837 partidas por dia e operando em 96 cidades brasileiras.

Muitas vezes, esse tipo de operação provoca despedimento de pessoal, mas no Brasil é bem diferente da Europa. De fato, não é uma fusão clássica como acontece na Europa, em prol à sobrevivência. As duas companhias estão bem e em crescimento. David Neeleman, fundador da Azul, que será o presidente da Azul Trip, afirmou que não vai haver despedimentos, mas que haverá, sobretudo, novos contratos.

Para o futuro, este tipo de fusão precisará da ajuda da uma empresa estrangeira, como acontece cada vez mais no Brasil. Segundo a análise de Pedro Galdi, consultor de aviação da SWL Corretora. "As empresas menores estão ganhando espaço que antes era da Gol e da TAM, mas ainda assim será necessário um investimento estrangeiro para que essa expansão continue".

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