segunda-feira, 25 de junho de 2012

O PROCESSO DE INTERNACIONALIZAÇÃO DO GRUPO GERDAU

(Pedro Henrique Vivas Santana)

 A Gerdau é líder na produção de aços longos nas Américas e uma das maiores fornecedoras de aços longos especiais no mundo. Possui mais de 40 mil colaboradores e presença industrial em 14 países, com operações nas Américas, na Europa e na Ásia, as quais somam uma capacidade instalada superior a 25 milhões de toneladas de aço. É a maior recicladora da América Latina e, no mundo, transforma, anualmente, milhões de toneladas de sucata em aço. Com cerca de 140 mil acionistas, a Gerdau está listada nas bolsas de valores de São Paulo, Nova Iorque e Madri.

 No Brasil, possui operações em quase todos os Estados, que produzem aços longos comuns, especiais e planos. Seus produtos, comercializados nos cinco continentes, atendem os setores da construção civil, indústria e agropecuária.

 O ano de 1901 foi marcado pelo início das atividades, com a aquisição da “Fábrica de Pregos Ponta de Paris“, em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, Brasil. Um dos principais motivos que proporcionaram o acelerado crescimento da Gerdau deve-se ao fato de esta ter utilizado como estratégia a grande diversificação de produtos.

 Em meados do século XX, em 1947, a Gerdau colocou suas ações no mercado de capitais, mas somente no final de 1980, com a aquisição da siderúrgica Laisa, no Uruguai, iniciou-se o processo de internacionalização da empresa.

 Outras seis aquisições seriam feitas da década de 1990 em países como: Chile, Canadá e Estados Unidos. Outro acontecimento importante seria realizado no final dos anos 90, mais exatamente no ano de 1999 com a entrada das ações do Grupo na Bolsa de Valores de Nova Iorque. Nos primeiros 30 dias, os papeis do Grupo subiram 27%.

 Após o processo de internacionalização, o volume da produção de aço aumentou em um ritmo consideravelmente alto. Em 1980 eram produzidas cerca de 1,3 milhões de toneladas; em 1988, um ano antes da aquisição da siderúrgica canadense Courtice Steel Inc., atingiu-se a meta de 2 milhões de toneladas; em 1999 foram produzidas aproximadamente 5 milhões de toneladas; em 2000, com a aquisição da AmeriSteel Corp., nos EUA, já efetivada, a produção subiu para 7 milhões de toneladas. Depois de outras tantas aquisições no mercado nacional e internacional, em 2008, a Gerdau totalizou 19,6 milhões de toneladas (GERDAU, 2009c).

 Este trabalho tem como objetivo principal desenvolver a trajetória de crescimento do Grupo por meio das teorias de internacionalização das empresas e do cenário atual da economia global.

 Teoria da Internacionalização de Empresas

No atual contexto econômico do século XXI, a instituição que não se preocupar em desenvolver uma gestão moderna, voltada para o mercado global, não terá boas perspectivas de sobrevivência, pois será envolvida pelas organizações que adotarem este modelo. A palavra ‘internacionalização’ é amplamente utilizada na literatura empresarial, sendo definida por Rugman e Hodgetts (2003, p. 40) como “o processo pelo qual a empresa entra em um mercado externo”. Hollensen complementa a definição ao afirmar a internacionalização acontece quando a empresa expande suas atividades de negócios como P&D, produção, vendas e outras, para mercados internacionais (HOLLENSEN, 2004).

 As principais teorias podem ser classificadas em duas abordagens gerais: a primeira relaciona as vantagens econômicas para decidir a atuação no mercado internacional, bem como a teoria de custos de transação e o paradigma eclético de Dunning. A segunda contempla o processo de acordo com teorias comportamentais, chamada de modelo de Uppsala.

 Paradigma Eclético de Dunning

 O Paradigma Eclético de Dunning considera as vantagens econômicas para decidir a atuação da firma no mercado internacional. A abordagem é realizada a partir da interação de três grupos de variáveis: de propriedade, de localização e de internalização (DUNNING, 1988). 

As vantagens de propriedade representam a extensão das vantagens competitivas específicas da firma para o mercado externo, que podem ser de natureza estrutural (ativos intangíveis, conhecimento tecnológico, marketing e reputação da empresa) ou transacional (potencial da organização em gerenciar suas atividades internacionalmente).

 As vantagens de localização relacionam-se com as vantagens específicas que uma determinada localização possui e que são atrativos para as empresas que visam a internacionalização (recursos naturais, a infra-estrutura, o tamanho do mercado interno, por exemplo).

As vantagens de internalização estão relacionadas à forma de aproveitamento das duas vantagens anteriores: a de propriedade e a de localização. A empresa pode optar entre a internalização das atividades no exterior ou a cessão do uso dessas vantagens.

 Modelo Uppsala

 Este modelo adota o conceito de que as organizações começavam suas atividades no mercado externo, em localidades próximas, e, paulatinamente, avançavam para mercados mais distantes (HOLLENSEN, 2004).  A través deste estudo, foi desenvolvido um modelo de escolha de mercado e forma de entrada da empresa no exterior, por meio de quatro estágios sequenciais: estágio 1 – atividades de exportação casual; estágio 2 – exportação por meio de representantes independentes; estágio 3 – adoção de uma subsidiária de vendas estrangeira; e, estágio 4 – unidades de produção e/ou manufatura no local internacionalizado (JOHANSON e WIEDERSHEIM-PAUL, 1975; JOHANSON e VAHLNE, 1977).

 O caso de internacionalização da Gerdau

O ano de 1901 foi marcado para o Grupo Gerdau como o início das atividades. Neste ano, o imigrante alemão, Johann Gerdau (João Gerdau) comprou, em Porto Alegre, a “Fábrica de Pregos Pontas de Paris”. Nos anos seguintes, a empresa passaria a ser controlada por um de seus filhos, Hugo Gerdau.

 No começo, a empresa não possuía diversificação de produtos e a produção era restrita a pregos. A matéria-prima vinha do exterior, principalmente dos Estados Unidos e da Europa. Apesar de, no início, os pregos serem vendidos exclusivamente no estado do Rio Grande do Sul, não demorou muito para o Grupo Gerdau chegar aos outros estados e até mesmo às regiões Norte e Nordeste (GERDAU, 2001).

 Devido à escassez de matéria-prima para a produção de pregos (reflexo da Segunda Guerra Mundial), o Grupo Gerdau adquiriu, em 1948, Siderúrgica Riograndense, em Porto Alegre e, assim, consolidou sua entrada no ramo siderúrgico. No ano de 1954, por causa da pequena dimensão da Siderúrgica Riograndense, o Grupo iniciou um projeto de expansão da usina que seria concluído no ano de 1957. A nova unidade ampliou a capacidade de produção e fez da nova usina a principal produtora da empresa (GERDAU, 2001).

 A partir do final da década de 60 e início da década de 70, a Gerdau passou a ter como prioridade o mercado central brasileiro. Por isso, em 1969 a empresa comprou a Siderúrgica Açonorte-PE e, em 1971, formou uma joint-venture com o Grupo Thyssen A.G., da Alemanha. Nos anos de 1972, 1974 e 1979 foram compradas outras três siderúrgicas: Siderúrgica Guaíra, a Companhia Siderúrgica de Alagoas e a Companhia Siderúrgica da Guanabara respectivamente.

Com o início dos anos 80, o Grupo Gerdau passou a ter novos objetivos: a qualidade, a produtividade e a diversificação dos produtos. Além de possuir novos produtos (vários tipos de arames, barras, cantoneiras, cordoalhas, por exemplo), a diretoria focou na penetração e atuação de novos e diferentes mercados.  Durante o período de 1980 a 2088 outras cinco empresas foram compradas pela Gerdau (por meio de privatização e aquisição).

 A entrada no Mercado Internacional

 A história do Grupo Gerdau no mercado internacional teve início com a compra da siderúrgica Laisa, no Uruguai, em 1980. Era uma siderúrgica de pequeno porte adequada aos padrões do mercado uruguaio. Este processo de internacionalização pode ser explicado pelo cenário político e econômico vivido no início da década de 80.

 As multinacionais iniciaram o processo de investimento além de suas fronteiras em larga escala após a Segunda Guerra Mundial. O crescimento da produção internacionalizada pode ser interpretado como uma resposta às mudanças no ambiente econômico mundial, caracterizado pelas mudanças tecnológicas, pela liberalização política e pela competição crescente (CORREA & LIMA, 2006).

 Após cinco anos da aquisição a Laisa já dava lucro ao Grupo, mesmo com todos os problemas operacionais e técnicos que, com o decorrer do tempo, foram devidamente ajustados. Em 10 anos a capacidade da Laisa era de 36 mil toneladas/ano de aço e 39 mil toneladas/ano de laminados.

 Aproximadamente dez anos depois do primeiro passo a caminho da internacionalização, em 1989, a Gerdau comprou a canadense Courtice Steel Inc. cuja capacidade na época da aquisição era de 250 mil toneladas/ano de laminados longos. Apesar de, em 1990, os negócios no exterior representassem apenas 7,4% da produção total, o Grupo Gerdau considerou que essas aquisições foram importantíssimas para o processo de aprendizagem e penetração na nova economia globalizada (GERDAU, 2001).

 Após a aquisição da canadense, inúmeros negócios surgiram e foram realizados. Durante o período de 1992 a 1999, seis novas plantas foram adquiridas. Dentre essas transações, a mais importante foi a aquisição 75% do capital da AmeriSteel Corporation – adquirindo 88% da FLS Holdings Inc. –, a segunda maior produtora de vergalhões dos Estados Unidos no ano de 1999, adicionando, aproximadamente, 2 milhões de toneladas/ano à sua produção.

 Em 2002, um acordo foi fechado com o objetivo de unir os ativos de todas as empresas adquiridas pela Gerdau na América do Norte. Com a unificação das atividades a Gerdau tornou-se a segunda maior produtora de aços longos na América do Norte, com capacidade de 5,9 milhões de toneladas/ano de aço bruto e 5,6 milhões de toneladas/ano de produtos laminados (GERDAU, 2001).

 A década de 2000, devido expansão no mercado norte-americano, foi de fundamental importância para a consolidação do Grupo no mercado internacional e este era o grande foco da empresa era durante o período. Apesar de focar na América do Norte, a Gerdau também foi atrás de novos mercados e adquiriu outras empresas no Peru, Espanha, México, República Dominicana, Ásia (joint-venture) e Guatemala e Honduras durante os anos de 2006 a 2008.

 Durante o período de 2004 a 2007, ocorreram mais algumas aquisições e parcerias. A mais importante foi a aquisição da Chaparral Steel, em 2007, considerada a maior transação do Grupo Gerdau.

 Conclusões

Podemos dizer que o processo de internacionalização do Grupo Gerdau está relacionado com corrente conhecida como Paradigma Eclético da Internacionalização. Conforme vimos anteriormente, este modelo separa as vantagens de uma empresa em relação à internacionalização em três: de propriedade, de localização e de internalização.

Durante todos esses anos retratados acima, o Grupo Gerdau construiu uma marca que é conhecida no mundo inteiro pela sua qualidade. A instituição possui um enorme conhecimento sobre o seu segmento e o mercado no qual atua. Além disso, a empresa procurou focar suas aquisições em empresas estratégicas que estivessem com problemas financeiros ou localizadas em mercados interessantes.

 Para cada país alvo da internacionalização do Grupo Gerdau, uma série de motivos foram considerados. Os países da América do Sul (Argentina, Chile e Uruguai) possuíam como vantagens a proximidade geográfica, demanda do consumidor com perfil semelhando ao do mercado brasileiro, baixo custo das matérias-primas e um alto potencial de crescimento do mercado consumidor. O Canadá tinha como atrativo a baixa competitividade dos concorrentes locais, estabilidade política e econômica, o tamanho do mercado consumidor e oferta de crédito para investimento a custos relativamente baixos. Os Estados Unidos possuíam como vantagens de localização, a elevada estabilidade política e econômica, tamanho do mercado consumidor, presença de mão-de-obra qualificada, grande oferta de matéria-prima de qualidade e financiamentos a baixo custo.

 A empresa procurou posicionar suas instalações próximas aos mercados consumidores. Desta forma, a internalização das atividades proporcionou inúmeras vantagens como menores custos de comercialização, de transporte e de estocagem.

Referências

 BARBOSA, F. A Internacionalização do Grupo Gerdau: um estudo de caso. Dissertação de Mestrado – Departamento de Administração, PUC-RJ. Rio de Janeiro,  2004, 121f.

 DUNNING, J. The Eclectic Paradigm as a Envelope for Economic and Business Theories of MNE Activity. International Business Review, v.9, n.1, 2000.

DUNNING, J. The Eclectic Paradigm of International Production: A Personal Perspective. In: PITELIS, C.; SUGDEN, R. (org.) The Nature of the Transnational Firm, New York: Routledge, 1991. 

DUNNING, J. H. The Ecletic Paradigm of International Production: A restatement and some possible extensions. Journal of International Marketing Business Studies. Londres, 1988.

GERDAU : Chama Empreendora: A história e a cultura do Grupo Gerdau – 1901-2001. Disponível em http://www.gerdau.com/grupo-gerdau/memoria-gerdaucentro-documentacao.aspx
GERDAU :  Notícias Gerdau: Menor demanda de aço reduz vendas da Gerdau no quarto trimestre de 2008. Disponível em http://www.gerdau.com.br/port/noticia/noticias_geral_pop.asp?cd_noticias=2294&categoria=8&site=SI

JOHANSON, J.; VAHLNE, J. E. (1977). The internationalization process of the firm: a model of knowledge development and increasing foreign market commitment. Journal of International Business Studies. Washington: ABI/INFORM Global, 1977.

 JOHANSON, J.; WIEDERSHEIM-PAUL, F. The internationalization of the firm: four Swedish cases. Journal of Management Studies. Outubro, 1975.

 RUGMAN, A. M.; HODGETTS, R. M. International Business. 3. ed. Harlow: Prentice Hall/Financial Times, 2003.

2 comentários: