quarta-feira, 27 de junho de 2012

Estourar bolhas não é mais uma inocente brincadeira de crianças...

(Susan Kate Barbosa)

Eu sempre adorei as bolhas de sabão. Ao longo da infância, gastei litros de detergente e água para descobrir as maravilhas dos “círculos voadores e transparentes”. Mas, sem dúvida, uma das coisas mais divertidas era correr, pulando e gritando, para estourar as bolhas formadas pelos vendedores ambulantes de praia.

E é justamente essa imagem que me vem à mente quando leio sobre as "bolhas econômicas" contemporâneas que, diferente das minhas, estão se formando e estourando, em diferentes partes do Globo, causando caos financeiro e recessão nas taxas de crescimento.

As bolhas econômicas são formadas quando um determinado ativo passa a ser vendido desproporcionalmente acima de seu valor de mercado, em função de uma atitude otimista e, às vezes, irracional dos investidores, que, ansiosos em obter lucros cada vez maiores, se baseiam em circunstâncias momentâneas para especular sobre os resultados futuros daquele mercado.

Entretanto, em dado momento, esse mesmos investidores, com receio de que tais ativos se desvalorizem - seguindo uma dinâmica bem comum nas Bolsas de Valores, começam a se retirar do mercado e, de repente, todos os preços caem vertiginosamente. É nessa hora que a Bolha estoura.

Muitas vezes, discernir o rápido desenvolvimento econômico em um setor da economia de uma formação de Bolha torna-se motivo de grande discussão entre os economistas. A Bolha Imobiliária na China é um exemplo disso.

Em 2008, com o intuito de retomar os níveis de crescimento observados antes da crise financeira mundial, o governo chinês decidiu pela expansão monetária - aumento da oferta de moeda – como forma de aumentar o investimento doméstico e o consumo e compensar a redução das exportações, gerando uma consequente redução das taxas de juros.

Um dos efeitos imediatos dessa baixa de juros, aliada à volumosa entrada de investimentos estrangeiros, foi o investimento maciço no mercado imobiliário. Em novembro de 2008, o governo gastou 15% do PIB em obras públicas em regiões do interior do país, financiadas com empréstimos de bancos estatais. A construção de imóveis se transformou no "mais importante setor do universo", segundo as palavras do economista Jonathan Anderson, sendo responsável por aproximadamente 13% da economia chinesa (ou 20%, caso as indústrias relacionadas, como aço e concreto, sejam incluídas nessa conta) e 40% da receita dos governos locais por meio da venda de terrenos.

Em 2009, o preço médio de um apartamento urbano chegava a oito vezes o valor da renda média anual chinesa. Tudo indicava que o crescimento econômico no setor imobiliário seria o investimento mais rentável e seguro e manteria a taxa alta de crescimento. Entretanto, em 2010, surgiram inúmeras cidades fantasmas, com centenas de prédios residenciais e comerciais extremamente luxuosos, porém vazios. Os projetos de obras públicas se esfriaram, desencadeando uma onda de desemprego e estimulando algumas inquietações sociais. Entre 2010 e 2011 os preços dos terrenos caíram 60%, fazendo com que as empreiteiras diminuíssem os preços dos lançamentos para adiar a falência.

Ainda em 2010, surgiram inúmeras discussões que questionavam a possibilidade desse ser considerado mais um caso de Bolha Imobiliária.

O famoso investidor Jim Rogers, argumentava que, embora os preços dos imóveis em algumas cidades costeiras estivessem superaquecidos, a queda destes preços provocaria apenas um pequeno solavanco no crescimento chinês, e não uma grande recessão. Dessa forma, para Rogers, uma bolha imobiliária estava fora de cogitação.

Enquanto isso, o pessimista Doug Casey, não só defendia a existência de uma Bolha, que, ainda segundo ele, estava na iminência de estourar, como argumentava que os bancos e os milhões de chineses que investiram no setor iriam perder tudo."

Os preços dos imóveis estão caindo desde dezembro de 2011. Os índices sobre a saúde do setor industrial (que mensuram variáveis como novos pedidos, nível dos estoques, produção, entregas de fornecedores e situação do emprego) — tanto aqueles mensurados pelo próprio governo quanto os mensurados pelo HSBC — sofreram um enorme baque em novembro de 2011, ficando negativos pela primeira vez desde o início de 2009.

Embora os sistemas econômicos da China e dos EUA de antes da crise de 2008 sejam distintos, o cenário chinês é o mesmo: níveis estonteantes de expansão do crédito, de especulação, de investimentos insustentáveis e de empréstimos insolventes. Um conjunto que, inevitavelmente, levou o país aos mesmos fenômenos: inflação de preços, investimentos insustentáveis e Bolha Econômica.

Tudo isso nos leva a concluir que, de fato, uma Bolha Imobiliária está prestes a estourar na China. Entretanto, qual seria seu efeito sobre a Economia?

Alguns analistas acreditam que o estouro da Bolha Imobiliária chinesa impactará setores muito além da construção civil, tal como ocorrido nos EUA. Acredita-se, por exemplo, que o crescimento do PIB da China irá cair para algo em torno de 5%, o que significa metade do seu nível de crescimento atual.

Um estudo, realizado pelas agências Fitch e Oxford Economics também prevê uma queda de 20% nos preços das commodities industriais, trazendo sérias implicações a países como o Brasil, que depende fortemente da exportação de minérios.

Comparar os dois casos (chinês e americano) é motivo de preocupação. Uma das consequências da Bolha – que ainda não estourou- relatadas pelo tabloide britânico “Daily Mail” é de que, em Hong Kong, existem 100 mil pessoas morando em jaulas de 1,80 metro por 75 centímetros. Tudo isso por causa da alta dos preços dos imóveis.

Resta torcer, portanto, para que o governo chinês, dono do “canudo” que encheu a Bolha, saiba limpar a bagunça causada pelo seu estouro, quando o “sabão” se espalhar pelo chão, gerando “quedas” e “tombos” assustadores.

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