quarta-feira, 27 de junho de 2012

O financiamento das cadeias produtivas globais

(Cynthia Mattos)

Em um cenário de crise global, com queda da demanda nas maiores economias, o Brasil tem um grande desafio no que diz respeito ao comércio exterior: em vez de apostar em protecionismo, dar maior consistência à sua política para a área externa, avançando na exploração de vantagens competitivas naturais e apostando na diversificação – tanto da pauta exportadora e como dos destinos.

A recomendação é de Lia Valls Pereira, economista do Ibre (Instituto Brasileiro de Economia), da FGV (Fundação Getúlio Vargas), e professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, UERJ. Segundo ela, o governo já sabe as medidas capazes de incentivar as exportações. Falta colocá-las em prática.

Isto porque os diagnósticos já são discutidos há muito tempo, e o governo possui programas para incentivar a melhoria da qualidade das exportações. O que faltaria seria maior disseminação da informação, bem como continuidade dos programas.

Para muitos analistas, por exemplo, o ressurgimento dos subsídios para exportação no Brasil, como medida compensatória para a valorização cambial, não teria sentido, uma vez que o país teria outras prioridades, como por exemplo, aplicação de recursos para a melhoria da produtivdade de vários setores.

Entre as perspectivas para o Comércio Exterior brasileiro, afetado pela crise internacional, estaria o aumento da participação nas cadeias produtivas globais e regionais. Por outro lado, parece cada vez mais premente a diversificação regional deste comércio exterior, chegando a mercados onde não está presente. O país ainda é muito dependente das importações chinesas, e de um número bastante limitado de produtos, especialmente commodities, além de diminuir o chamado "custo Brasil", impostos, burocracia e gargalos de infraestrutura que encarem as exportações. A diversificação deixa o país menos vulnerável frente às oscilações dos diferentes mercados internacionais.

Quando muitos países desenvolvidos, que são nossos importadores, se encontram em crise, a prudência recomenda mirar para outras regiões e novos mercados, como países do Oriente Médio, e ainda passar a priorizar produtos que exportamos pouco, como manufaturados, e produtos de grande valor agregado. A exploração de vantagens competitivas naturais (com adição de valor, criando verdadeiros complexos produtivos, como, por exemplo, em biocombustíveis) e a diversificação rumo a outros setores pouco explorados, caso dos serviços, que ainda têm grande potencial de crescimento.
A balança comercial brasileira saiu de um cenário de pessimismo para o de otimismo: em janeiro de 2011, a previsão era de que saldo teria um superávit de US$ 10 bilhões, mas ele bateu em US$ 30 bilhões. Entre 2010 e 2011, os preços aumentaram 29%, com grande destaque para os minerais e os combustíveis.

As empresas transnacionais constroem a parte própria de suas cadeias globais de produção fundamentalmente com investimentos diretos, seja por aquisição de capacidade instalada, seja por construção de novas fábricas ou ampliação das mesmas.

Há um elo crescente entre o comércio internacional e o investimento direto, que resulta coerente com a lógica das cadeias globais. Em 1993, por exemplo, a troca de componentes, produtos finais e serviços entre as transnacionais já era responsável por 44% das exportações norte-americanas, segundo dados da Unctad.

Tradicionalmente, a maior parte do financiamento das exportações brasileiras era feita com capital externo, principalmente de bancos europeus, que estão mais preocupados atualmente em mostrar que podem sobreviver à crise. Isso sugere que, em relação ao "trade finance", as perspectivas não sejam boas no mundo. O principal motivo é a situação dos bancos europeus, que concentravam uma boa parte desse financiamento.

Referências:

 DUPAS, Gilberto. Estratégias das transnacionais: oportunidades e riscos. São Paulo, IEA-USP, Coleção Documentos n. 44, abr. 1993.
UNCTAD. World Investment Report., 1994.    http://www.amcham.com.br/regionais/amcham-sao-paulo/noticias/2012/ - 24/01/2012
http://www.scielo.br/ - A lógica da economia global e a exclusão social - Gilberto Dupas

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